Em áudio, líder de facção ordena transferências de servidores na prefeitura de João Pessoa
"Quando a casa cai, cai de uma vez. É a minha comunidade e quem manda lá sou eu", diz líder da 'Nova Okaida à primeira-dama de João Pessoa, Lauremílla Lucena
Um áudio atribuído a um líder de facção, atuante no estado da Paraíba, registrou o criminoso, que se identifica como “menino do São José”, dando ordens à primeira-dama de João Pessoa, Lauremília Lucena, e barganhando votos para o prefeito e candidato à reeleição, Cícero Lucena.
O conteúdo foi publicado pelo jornal O Globo. Fontes disseram a O Antagonista que a voz no áudio é de Kanny Rogeus, líder do tráfico na capital João Pessoa, também conhecido como Poeta, e pertencente à facção ‘Nova Okaida’, investigada pela Polícia Federal por vínculo com a prefeitura no arcabouço das operações ‘Mandare’ e ‘Território Livre’.
“Boa tarde doutora, quem está falando aqui é o menino do São José. Nessa oportunidade de hoje irei fazer um pedido, com uma determinação minha. A senhora tem acompanhado os problemas que tem ocorrido dentro daquele CRAS“, iniciou Poeta.
E completou: “Venho pedir à senhora a transferência de todos os que trabalham e moram na comunidade. Eu quero a transferência de Juliana, Fábio Júnior, Mayara, Isadora e Cristina. Não me interessa qual político a colocou lá. Só quero que a senhora coloque pessoas de fora, que não sejam da comunidade para trabalhar naquele CRAS”.
O criminoso argumenta que há uma “panela”, um grupo de pessoas que usa o nome dele para influenciar situações e acrescenta que a comunidade pertence a ele. “Quando a casa cai, cai de uma vez. Não quero saber de Raíssa Lacerda, de ‘Corujinha’, não quero saber desse pessoal. Para mim o que interessa é a comunidade é minha, quem manda lá sou eu“, enfatizou.
O trecho acima cita vereadores que supostamente teriam influência na região, como Raíssa Lacerda (PSB) e João Corujinha (PP). Raíssa Lacerda havia sido detida durante a segunda fase da operação da Polícia Federal, realizada há cerca de duas semanas, sob a acusação de colaborar com lideranças criminosas para impedir que adversários fizessem campanha em determinados bairros. A vereadora, no entanto, teve sua prisão convertida em medidas cautelares.
De acordo com um relatório da Polícia Federal, o áudio foi enviado no final de abril por Taciana Batista do Nascimento, presidente da ONG Ateliê da Vida, em um grupo de WhatsApp criado com Pollyana Monteiro Dantas dos Santos, esposa do traficante conhecido como Poeta. Esse material foi recolhido durante a segunda fase da Operação Território Livre. Já a terceira fase da operação, que ocorreu no último sábado, teve desfecho na prisão da primeira-dama Lauremília. No entanto, a Justiça Eleitoral da Paraíba determinou a libertação de Lauremília e de sua secretária particular, Tereza.
Ateliê da Vida
Segundo a investigação, a ONG Ateliê da vida era ‘fachada’ para a captação de recursos para a facção liderada pelo traficante Poeta. Para a PF, as mensagens do traficante foram gravadas, provavelmente, ‘no interior da cadeia’, em virtude da captação de ruídos de grades de cela e de outros presos no fundo do áudio. O traficante foi condenado em 2022 a 36 anos de prisão por liderar a facção criminosa, e está preso em uma penitenciária de segurança máxima na capital paraibana.
“É uma determinação que eu já venho tomando há vários dias. Agora não sei o motivo de não ser atendido. Eu venho pedindo isso à senhora há meses. Vai ser apoiado conosco dentro da comunidade, Etinho e o seu marido, Cícero Lucena. O resto vai ser comigo porque minha palavra é uma só. […] É uma determinação minha porque já se alastrou demais essa situação do CRAS”.
Um dos fatores que levou a PF a concluir que a destinatária do áudio é Lauremília é o fato de o homem se referir ao prefeito, Cícero Lucena, como “seu marido”.
Primeira-dama é vítima de ilações?
A assessoria do prefeito Cícero Lucena afirmou que a Polícia Federal estaria fazendo “ilações” sobre a primeira-dama. A mesma posição foi defendida pelo desembargador Bruno Teixeira de Paiva, do Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba (TRE-PB), durante uma sessão realizada nesta segunda-feira. Ele foi o relator do habeas corpus solicitado por Taciana Nascimento, presidente da ONG Ateliê da Vida, e votou favoravelmente à sua libertação. O tribunal, de forma unânime, decidiu conceder a soltura.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)