“Deus in Machina”: Jesus de IA interage com fiéis em igreja
A reação do público foi variada, com algumas críticas nas redes sociais acusando o projeto de blasfêmia ou mesmo obra demoníaca
A confiança depositada em um “Jesus de IA” para confidências pessoais e dilemas morais está no centro de um experimento conduzido por pesquisadores e líderes religiosos na Suíça.
Em uma capela católica, uma tela de computador abrigou um avatar de “Jesus”, que respondeu a questões de visitantes sobre fé, moralidade e desafios contemporâneos, baseando-se em escrituras sagradas.
Conforme explicado pelo assistente teológico da capela, o objetivo era reconhecer a crescente influência da inteligência artificial na vida humana, até mesmo no âmbito religioso, e explorar os limites da confiança que as pessoas estão dispostas a colocar em uma máquina.
“Deus in Machina”
Após dois meses de exposição denominada “Deus in Machina”, na Capela Peters, cerca de 900 interações foram transcritas anonimamente. Os responsáveis pelo projeto consideraram-no um sucesso, destacando que muitos visitantes saíram tocados ou reflexivos.
O sistema era simples: um sinal verde indicava o momento do visitante falar; quando a resposta do “Jesus de IA” estava pronta, acendia-se uma luz vermelha. Ao final das interações, quase 300 participantes preencheram questionários que compuseram o relatório divulgado.
Philipp Haslbauer, especialista em TI da Universidade de Ciências Aplicadas e Artes de Lucerna, esclareceu que o GPT-4o da OpenAI foi a tecnologia subjacente ao “Jesus de IA”, auxiliado por uma versão open-source do Whisper para compreensão vocal. Um gerador de vídeo da Heygen criou a imagem e voz do avatar.
Obra demoníaca ou ponte para a espiritualidade?
Diversos temas foram abordados pelos visitantes, desde o amor verdadeiro até questões de sofrimento mundial e solidão. Discussões também incluíram assuntos delicados como casos de abuso sexual na Igreja Católica e sua posição sobre homossexualidade.
Embora a maioria dos participantes se identificasse como cristã, agnósticos, ateus e seguidores de outras religiões também participaram.
A reação do público foi variada, com algumas críticas nas redes sociais acusando o projeto de blasfêmia ou mesmo obra demoníaca.
Kenneth Cukier, especialista em IA e espiritualidade, ressaltou que se “Jesus de IA” ajuda as pessoas a se conectarem mais profundamente consigo mesmas e com o mundo ao redor e que isso deve ser visto como positivo.
No entanto, ele alertou para o risco de afastar as pessoas do que é mais significativo e autêntico na espiritualidade.
Marco Schmid, teólogo da capela e líder do projeto, destacou que a iniciativa não pretende substituir a interação humana ou confissões sacramentais com um sacerdote.
O “Jesus de IA” é um experimento artístico para provocar reflexão sobre a interseção entre o digital e o divino.
A experiência na Suíça atraiu interesse de várias partes do mundo, gerando debates sobre futuras implementações semelhantes. Schmid enfatizou que qualquer retorno desse projeto requereria consideração cuidadosa.
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