Desembargadora investigada por vender decisões mandou assessora apagar lista de processos
Em depoimento, uma assessora da desembargadora Lígia Maria Ramos Cunha Lima, presa ontem na Operação Faroeste, contou que, em fevereiro deste ano, ela lhe pediu que apagasse, no computador de um outro assessor, um arquivo com uma lista de processos...
Em depoimento, uma assessora da desembargadora Lígia Maria Ramos Cunha Lima, presa ontem na Operação Faroeste, contou que, em fevereiro deste ano, ela lhe pediu que apagasse, no computador de um outro assessor, um arquivo com uma lista de processos.
A lista continha processos aos quais a magistrada dava preferência, segundo a assessora.
O pedido foi feito, segundo o Ministério Público Federal, depois que Lígia Cunha soube pela mídia que estava em andamento um acordo de delação sobre o esquema de venda de sentenças no Tribunal de Justiça da Bahia.
A assessora contou à polícia que, no dia 4 de fevereiro, a desembargadora ligou pedindo que ela fosse à sua casa. A assessora recusou e Lígia resolveu ir ao prédio dela de carro.
“No mesmo encontro a depoente comentou com a Des. Lígia que todos os processos que ela pedia preferência eram fáceis de serem identificados no caso dela precisar; sendo que o assessor DANILO ARTHUR DE OLIVA NUNES mantinha, em seu computador, a listagem dos mesmos; QUE, ao saber de tal prática, ainda no encontro, a Des. determinou que a depoente fosse no gabinete e apagasse tal lista da máquina do colega, sendo que deveria fazê-lo antes da chegada dos demais servidores”, relatou a assessora no depoimento.
Ainda segundo a assessora, Lígia disse que tinha a informação que uma nova fase da Operação Faroeste poderia ser deflagrada e que seu gabinete poderia ser alvo. Ela ainda pediu que, assim que apagasse a lista de processos preferenciais, a assessora lhe enviasse uma mensagem codificada pelo WhatsApp com o seguinte conteúdo: “já fui no mercado”.
A assessora contou que, por volta das 7h da manhã do dia seguinte, mandou a mensagem, mesmo sem ter ido ao gabinete e apagado a lista naquele horário. Disse que teve medo de ser flagrada apagando os dados.
Como não houve operação naquele dia, ela disse que apagou às 11h daquele mesmo dia. Ela, no entanto, fez uma cópia do arquivo e se comprometeu a entregá-lo.
Lígia foi presa ontem, por determinação do ministro Og Fernandes, pela suspeita de receber ao menos R$ 300 mil para garantir a um produtor rural a posse de uma terra no oeste do estado.
Na ordem de prisão, Og apontou “comportamentos ostensivos de destruição de evidências que possam incriminá-la, chegando até mesmo a intimidar seus próprios servidores”.
“A magistrada tem adotado a prática sistemática de apagar os rastros deixados pelas aparentes atividades ilícitas empreendidas, alterando artificiosamente o cenário fático numa tentativa de ludibriar as autoridades incumbidas da investigação”, escreveu o ministro na decisão.
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