Descoberta de fóssil nas margens do rio Purus desvenda novos segredos da paleontologia
Conheca os fósseis do gigante Purussaurus e outros espécimes impressionantes desvendados por pesquisadores e moradores locais.
Gerimar do Nascimento, conhecido como Geri, encontrou uma relíquia histórica enquanto navegava pelo rio Purus, no sul do Amazonas. Guardado a poucos metros de sua casa, o fóssil foi vislumbrado em um barranco durante um trajeto rotineiro até Boca do Acre. “Eu vi aquela parte de osso e sabia que não era do nosso tempo”, conta Geri, fascinado pela descoberta.
No quintal de sua casa, Carlos D’Apólito, professor da Universidade Federal do Acre (UFAC), explica para Geri o valor daquela descoberta. “São três vértebras articuladas. Não é comum achá-las assim, uma do lado da outra,” comenta D’Apólito, ressaltando a importância do achado para a ciência.
Fóssil do Purussaurus: Uma relíquia que contará novas histórias
A peça será levada para o Laboratório de Pesquisas Paleontológicas da UFAC, onde será estudada minuciosamente. O nome de Geri agora estará associado ao Purussaurus. “Existe uma parcela do trabalho de campo realizada por pessoas que não são formalmente paleontólogos, e que acabam não sendo reconhecidas,” afirma D’Apólito.
Raridades escondidas nas barrancas do Purus
Nas proximidades, sete pesquisadores concentram seus esforços em busca de mais vestígios. Durante a temporada seca na Amazônia, os paleontólogos aproveitam para coletas nas margens expostas. O nível do Purus está excepcionalmente baixo, facilitando o trabalho da equipe.
Outras partes do Purussaurus, como vértebras isoladas, crânio e dentes, foram encontradas na região. Batizada por João Barbosa Rodrigues em 1892, a espécie Purussaurus brasiliensis era um verdadeiro gigante dos rios. Edson Guilherme, professor da UFAC, desenterrou o crânio de uma tartaruga desconhecida pela ciência. “Somos os primeiros humanos a ver isso. É emocionante”, diz Guilherme, embalando cuidadosamente o fóssil para transporte.
O que o fóssil nos diz sobre o passado e o futuro?
Alceu Ranzi, que atuou na UFAC por mais de 30 anos, acompanha o grupo de paleontólogos dedicados a desvendar os segredos soterrados da Amazônia. Ranzi caminha por uma deposição do Mioceno, período geológico que a Terra viveu entre 23 milhões e 5 milhões de anos. Naquela época, a região era um imenso pantanal, lar de espécimes gigantes como o Purussaurus.
Ele segura parte do fêmur de uma preguiça gigante, animal herbívoro que coexistiu com o Purussaurus. “Esses animais vinham beber água e eram predados por jacarés gigantes. Encontrar esses fósseis aqui revela muito sobre aquela época,” explica Ranzi.
Esforço coletivo e reconhecimento para encontrar o fóssil
Durante a expedição, Carlos D’Apólito recebeu fósseis das mãos de um casal de idosos da comunidade de Maracaju 2. A tíbia bem conservada de uma preguiça gigante, a Eremotherium laurillardi, chamou a atenção dos moradores. “É uma preguiça que andou por aqui entre 2,6 milhões e 10 mil anos atrás. Muito obrigado pelos fósseis,” agradece D’Apólito por mensagem de voz.
Essas doações enriquecem a coleção do laboratório da UFAC, iniciada em 1970. Jonas Pereira de Souza Filho, ex-reitor da universidade, encontrou o crânio mais completo de um Purussaurus em 1986. “Nós colocamos a paleontologia da Amazônia no mapa do Brasil e do mundo,” relembra Souza Filho sobre o trabalho pioneiro.
Os pesquisadores também compreendem melhor o presente e projetam o futuro através dessas descobertas. “A temperatura média global subiu 1,4°C nos últimos 200 anos. A mudança é tão grande que tudo está sucumbindo,” alerta Ranzi, sublinhando a necessidade urgente de ações contra as mudanças climáticas.
Geri, inspirado pela descoberta do fóssil, deseja agora estudar paleontologia. “Terminei o ensino médio com mais de 30 anos e me sentia velho para fazer uma faculdade. Mas esse encontro fez eu voltar a ter esperanças,” diz Geri, olhando para um futuro com novas possibilidades.
A Amazônia guarda segredos enterrados que podem resolver mistérios do passado e iluminar nosso futuro, mostrando que a colaboração entre cidadãos e cientistas é essencial para a evolução do conhecimento.
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