DELTAN: “O PARLAMENTO PODERÁ PROMOVER CONTRA-ATAQUES À JUSTIÇA”
Em entrevista exclusiva a O Antagonista, Deltan Dallagnol disse que o Congresso Nacional, acuado pelas investigações da Lava Jato - e ainda mais pela delação da Odebrecht - tenta agora contra-atacar...
Em entrevista exclusiva a O Antagonista, Deltan Dallagnol disse que o Congresso Nacional, acuado pelas investigações da Lava Jato – e ainda mais pela delação da Odebrecht – tenta agora contra-atacar:
“À medida que o número das pessoas poderosas investigadas aumenta, vai se intensificar uma tendência de autoproteção, de salvação pessoal, e isso tende a se manifestar na forma de autoanistias que o Parlamento poderá promover, com contra-ataques à Justiça e ao Ministério Público.
A grande questão é se estas pessoas que têm as leis na mão vão permitir que nós, a Justiça, utilizemos as leis para puni-las. Veja que esse caso é muito peculiar. O único instrumento para punir alguém é a lei. Essa é a tensão que existe. Muitos políticos têm vontade de impedir transformações que venham no sentido de combater a corrupção.
Ao mesmo tempo, nunca tivemos um contexto tão favorável. Nunca houve uma conscientização sobre o que gera a impunidade. Não podemos ser ingênuos de que lutas contra injustiças enraizadas, históricas, serão fáceis.
Outro dia eu estava descendo para viajar com minha família, perto do Natal, encontrei com um vizinho radialista, ele me perguntou: ‘E aí, como é que tá?’ Eu disse: ‘Rapaz, ultimamente, apanhando muito’. Ele falou: ‘Também vocês vão mexer com o interesse de pessoas poderosas, não tem outra coisa que pudesse acontecer. É claro que vocês vão apanhar.’
Quando você vai mexer com o status quo da corrupção, é claro que vai existir resistência, uma dificuldade. Mas é importante que nós sejamos perseverantes.
Todo poder emana do povo. Quem está no Parlamento são representantes da vontade popular. Não podem agir contra a vontade popular. Temos mecanismos para que, de movo pacífico, possamos influenciar o Congresso. O voto é um deles. Em 2018, dois em cada três senadores serão renovados, assim como toda a Câmara. É muito importante que a sociedade vote consciente de qual é a pauta pessoal dos candidatos no combate à corrupção.
Na época do impeachment de Dilma, a população estava com o foco adequado no sentido do combate à corrupção. A gente tem o receio de que, com o passar do tempo, as pessoas se insensibilizem. Quando a gente se submete a situações desagradáveis repetidamente, a gente acaba achando aquilo normal. Nós não podemos nos insensibilizar. Nós vivemos nesses tempos de Lava Jato uma janela de oportunidade. Nunca tivemos um ambiente tão favorável à transformação.”
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)