De que lado está Tarcísio?
Apontado como futuro presidente do Brasil por Kassab, governador de São Paulo se equilibra entre dois mundos para sustentar a perspectiva presidencial
Apontado como futuro presidente do Brasil por Gilberto Kassab, o grande estrategista político coroado nas eleições municipais, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos, foto), se equilibra entre dois mundos para sustentar a perspectiva presidencial.
Na quinta-feira, 21, o ex-ministro da Infraestrutura de Jair Bolsonaro saiu em defesa do ex-presidente após o anúncio de seu indiciamento por tentativa de golpe de Estado.
“Há uma narrativa disseminada contra o presidente Jair Bolsonaro e que carece de provas”, disse o governador em postagem no X, seguindo: “É preciso ser muito responsável sobre acusações graves como essa”.
Mais ou menos
Tarcísio foi além e disse que Bolsonaro “respeitou o resultado da eleição” e que a posse de Lula “aconteceu em plena normalidade e respeito à democracia. Mais ou menos.
Bolsonaro passou meses semeando dúvidas sobre o resultado da eleição de 2022 e, se não o faz mais hoje, é porque vinha tentando reverter a inabilitação para concorrer a cargos públicos — ele foi inabilitado até 2030, exatamente por ter colocado o sistema eleitoral brasileiro em questão.
Também não é possível dizer que a posse de Lula ocorreu em “plena normalidade”, como afirmou Tarcísio, porque o petista não recebeu a faixa presidencial das mãos de seu antecessor, que tinha partido para a Flórida dois dias antes.
8 de janeiro
Além disso, sete dias depois da posse, as sedes dos três Poderes foram invadidas e depredadas por apoiadores de Bolsonaro, que não se dignou a fazer um único gesto para desmobilizar os brasileiros que pediam intervenção militar em frente aos quartéis após suas derrota nas urnas.
“Que a investigação em andamento seja realizada de modo a trazer à tona a verdade dos fatos“, escreveu Tarcísio ao finalizar sua mensagem de defesa ao ex-presidente.
Bolsonaro e seu entorno de fato merecem investigação e julgamento justos, mas esses processos não devem ocorrer exatamente nos moldes lenientes que sugeriu o governador de São Paulo.
Kassab
Para se sustentar como opção viável à presidência da República, Tarcísio não pode se jogar assim nos braços de Bolsonaro, sob o risco de afundar junto com o ex-presidente. Mas também não pode simplesmente abandonar o mentor, sob o risco de perder sua herança. Esse é um de seus mundos.
No outro, o PSD de Kassab se tornou o partido com mais prefeituras na eleição municipal deste ano, com 887 municípios conquistados, cinco deles capitais. Tudo consequência de um pragmatismo político oposto ao fervor ideológico alimentado por Bolsonaro.
Se conseguir se equilibrar entre esses dois mundos nos próximos anos — e isso não é um missão fácil —, Tarcísio estará muito perto de cumprir a profecia de Kassab.
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