Como o tráfico de drogas mantém o regime da Venezuela unido
O envolvimento de líderes militares e políticos no tráfico de drogas e outras atividades criminosas torna improvável que se retirem voluntariamente do poder
Altos líderes militares e políticos do regime venezuelano estão envolvidos no tráfico de drogas e outras atividades criminosas. O ditador Maduro está usando isto para garantir a sua lealdade.
Após as eleições de 28 de julho na Venezuela, o ditador Maduro foi completamente deslegitimado, tanto a nível interno como a nível internacional.
Embora o seu governo tenha declarado uma vitória geral com 51 por cento dos votos na noite das eleições, sem publicar quaisquer resultados parciais dos gabinetes eleitorais até à data, os recibos de controle das máquinas de votação recolhidos pela oposição mostram um quadro diferente, apontando para uma vitória esmagadora do candidato da oposição, Edmundo González, que recentemente fugiu para Espanha, após ter sua prisão decretada pelo regime.
Apesar de a vitória de Maduro não passar de uma farsa, a mudança de regime é improvável enquanto o ditador tiver o total apoio das forças de segurança. Contudo, o envolvimento de líderes militares e políticos no tráfico de drogas e outras atividades criminosas torna improvável que se retirem voluntariamente do poder.
Cartel do sol
Em março de 2020, as autoridades judiciais americanas indiciaram quinze altos funcionários do regime por tráfico de droga e outras atividades criminosas. Entre os réus está o próprio Nicolás Maduro, por cuja prisão o Departamento de Justiça dos EUA ofereceu uma recompensa de 15 milhões de dólares.
A lista também inclui o número dois do regime, o oficial do Exército e atual ministro do Interior e da Justiça, Diosdado Cabello, bem como o ministro da Defesa e chefe do Exército, Vladimir Padrino.
Maduro e Cabello são acusados de tráfico de drogas e terrorismo, bem como de uma conspiração para importar cocaína para os Estados Unidos. Padrino, responsável pela aprovação de sobrevoos, é acusado de passar aviões com drogas a bordo em troca de propina. O Departamento de Justiça americano descreve os quinze réus como os chefes do chamado Cartel do Sol. Seu nome vem dos distintivos dos generais venezuelanos. Dependendo do nível, estes recebem de um a quatro sóis.
Outra pessoa do círculo mais íntimo do poder, a esposa de Maduro, a ex-presidente parlamentar Cilia Flores, foi anteriormente alvo de investigadores americanos. Dois de seus sobrinhos foram presos no Haiti em 2015 enquanto tentavam contrabandear 800 quilos de cocaína para Nova York.
Após a extradição para os Estados Unidos, foram condenados a dezoito anos de prisão, mas foram libertados em outubro de 2022 no âmbito de uma troca de prisioneiros com a Venezuela. Durante o julgamento, documentos indicaram que parte dos lucros esperados iriam para a campanha eleitoral de Flores.
Arquivos Narco
O envolvimento do governo venezuelano no comércio de drogas também tem sido investigado por órgãos não governamentais, como um consórcio de 41 meios de comunicação de todo o mundo que examinou os chamados “Arquivos Narco”. Trata-se de um grande número de documentos vazados provenientes do Ministério Público colombiano.
A ONG americano-colombiana Insight Crime também vem coletando dados sobre o tráfico de drogas pela liderança da Venezuela há anos. As investigações baseiam-se em informações do Departamento de Justiça dos EUA, a DEA, em dados vazados como os “Arquivos Narco” e em documentos do comandante das FARC Raúl Reyes, morto em 2008, bem como em declarações de ex-criminosos venezuelanos.
O andamento das investigações sinaliza para os políticos e militares da Venezuela envolvidos no tráfico de drogas que uma perda de poder pode significar para eles décadas de prisão. Antes de uma possível derrubada do regime, teriam provavelmente de manter negociações com os EUA para que os processos contra eles fossem arquivados caso se retirassem do poder.
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