Cocaína nos tubarões do Rio de Janeiro
Estudo revela presença da droga em músculos e fígado de tubarões comercializados para consumo humano no Rio de Janeiro
Pesquisadores descobriram traços de cocaína em todos os 13 tubarões analisados na costa do Rio de Janeiro. A investigação revelou que a droga estava presente tanto nos músculos quanto no fígado dos animais, que são comercializados para consumo humano. O estudo, publicado recentemente na revista Science of the Total Environment, destaca um problema emergente de poluição por drogas nas águas marítimas.
A equipe do Instituto Oswaldo Cruz realizou a pesquisa coletando tubarões de barcos de pesca locais. Em laboratório, os cientistas analisaram amostras de tecido muscular e hepático dos animais para detectar a presença de cocaína. A descoberta foi alarmante: a concentração da droga nos tubarões era 100 vezes maior do que em estudos anteriores com outras espécies marinhas.
Os pesquisadores escolheram especificamente a espécie de tubarão bico-fino, que habita predominantemente a costa, para entender melhor o impacto da contaminação local. A expectativa era encontrar níveis elevados de poluição devido à exposição constante dos animais a águas contaminadas.
“No Brasil, estudos já detectaram a contaminação de água e alguns poucos seres aquáticos por cocaína, como mexilhões. Nossa análise é a primeira a encontrar a substância em tubarões”, descreve o farmacêutico Enrico Mendes Saggioro, um dos pesquisadores à frente do achado inédito, juntamente com a bióloga Rachel Ann Hauser-Davis, ambos do Laboratório de Avaliação e Promoção da Saúde Ambiental do IOC.
Origem da contaminação
A Polícia Federal brasileira tem observado um aumento na presença de cocaína no país nos últimos anos. Entre 2021 e 2023, as autoridades apreenderam mais de 109 toneladas da droga, muitas vezes em portos. Parte dessa cocaína é transportada via mar, em pacotes presos aos cascos de navios, que eventualmente se desprendem e contaminam o oceano.
Além disso, a droga chega ao mar através da drenagem de laboratórios ilegais e do esgoto. Essas vias de contaminação são preocupantes não apenas para a vida marinha, mas também para os humanos que consomem esses animais.
Implicações para a saúde
Os tubarões analisados eram destinados ao consumo humano, levantando sérias questões sobre os riscos para a saúde. A ingestão de peixes contaminados com cocaína pode ter consequências adversas, embora a extensão desses efeitos ainda precise ser estudada mais a fundo.
Além dos riscos diretos para a saúde humana, a contaminação por cocaína é prejudicial para a biodiversidade marinha. Moluscos, crustáceos e peixes ósseos também são afetados pela presença dessa substância tóxica em seu habitat.
“É necessário realizar estudos específicos para determinar as consequências exatas dessa contaminação nos animais. Acredita-se que pode haver impacto no crescimento, na maturação e, potencialmente, na fecundidade dos tubarões, uma vez que o fígado atua no desenvolvimento de embriões”, comenta Rachel.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)