Campanha russa pela Sputnik V tem até notificação extrajudicial ao presidente da Anvisa
Após a Anvisa reprovar o primeiro pedido de importação da Sputnik V, o governo da Rússia intensificou sua campanha pela vacina no Brasil, em um esforço que mobilizou assessorias de imprensa, redes sociais, diplomatas e até escritório de advocacia....
Após a Anvisa reprovar o primeiro pedido de importação da Sputnik V, o governo da Rússia intensificou sua campanha pela vacina no Brasil, em um esforço que mobilizou assessorias de imprensa, redes sociais, diplomatas e até escritório de advocacia.
A Diretoria Colegiada da Anvisa rejeitou em 26 de abril um pedido de governadores para importar a Sputnik V, por causa do risco de adenovirose e da falta de informações na documentação, entre outros problemas.
Três dias depois, o Fundo Russo de Investimento Direto (RDIF) ameaçou publicamente processar a Anvisa por espalhar “intencionalmente informações falsas e imprecisas”.
Nesta semana, a assessoria de imprensa da Anvisa confirmou a O Antagonista que o diretor-presidente Antonio Barra Torres foi alvo de uma notificação extrajudicial – um texto que em si não dá origem a um processo. A Anvisa e o RDIF não forneceram o texto da notificação nem informaram a data exata em que foi enviada.
A rejeição da Sputnik V também foi pauta de várias audiências no Congresso. O gerente-geral de Medicamentos da Anvisa, Gustavo Mendes, disse a uma comissão da Câmara estar à disposição para discutir a decisão com pesquisadores russos. Representantes da embaixada russa compareceram a essa reunião, mas não se pronunciaram.
Horas depois, a conta oficial da Sputnik V no Twitter convidou a Anvisa “a um debate público no comitê apropriado do Congresso do Brasil” – debate que os próprios russos haviam acabado de abandonar.
A diretoria da Anvisa prestou esclarecimentos ao Senado mais de uma vez. Em 7 de maio, os diretores falaram à Comissão Temporária Covid-19. E Barra Torres voltou ao assunto na CPI da Covid.
Ao adotar uma série de táticas, os parceiros da Sputnik V no Brasil chegaram se contradizer. Em documento enviado a jornalistas no fim de abril, a União Química sugeriu, sem mostrar provas, que a Anvisa poderia ter analisado uma versão “falsificada” da vacina russa. Já o fundo russo disse que a agência analisa apenas documentos, não amostras de vacina, o que é verdade.
O chamado Consórcio Nordeste, formado por governadores, também redobrou seu esforço público pela aprovação da Sputnik V.
O comitê científico do consórcio desafiou publicamente a Anvisa, emitindo nota em que recomendava a importação da vacina mesmo após a rejeição da agência.
Wellington Dias (PT-PI) e Helder Barbalho (MDB-PA) visitaram a Embaixada da Rússia em Brasília, em 4 de maio. No mesmo dia dessa reunião, o consórcio enviou novos documentos à Anvisa.
O público em geral não enxerga ainda uma outra parte da campanha, menos pública: o trabalho das assessorias de imprensa. Ao menos duas atuam no Brasil nesse esforço: a do RDIF e a da União Química. Entre as sugestões de pauta estão a aprovação da Sputnik V em países pobres, a repercussão de entrevistas de pesquisadores e até o rebranding da vacina. A Rússia criou a marca ‘Sputnik Light’. Não se trata de uma nova fórmula, mas simplesmente da 1ª dose com outro nome.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)