Boulos não gostou do ouvir lição de João Campos sobre coerência
Derrotado na disputa pela Prefeitura de São Paulo, deputado federal cobra "respeito": "Não creio que ele está autorizado a me dar aulas de coerência"
O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP, foto) não escondeu o incômodo ao responder, em entrevista à Folha de S.Paulo, comentários do prefeito reeleito do Recife, João Campos (PSB), sobre sua candidatura à Prefeitura de São Paulo.
Campos foi questionado, durante entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, sobre os erros do candidato de Lula em São Paulo. Também lhe perguntaram por que ele e a deputada federal Tabata Amaral, candidata do PSB na capital paulista e sua namorada, não estiveram no palanque de Boulos no segundo turno, ao contrário do que fizeram o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, e o ministro Márcio França.
O prefeito pernambucano disse que a condução do partido em São Paulo cabe a Tabata, e que ela ganharia a disputa com o prefeito Ricardo Nunes (MDB) caso tivesse passado para o segundo turno. E seguiu:
“Não vivi o dia a dia da campanha aqui de São Paulo para poder afirmar o que aconteceu [com a campanha de Boulos], mas arrisco afirmar que a prática precisa caber naquilo que você fala, e o que você fala tem que caber na sua prática.”
“Coerência”
“Não conheço de perto a trajetória de Boulos, mas acredito que ele teve uma roupagem diferente enquanto pré-candidato e candidato a prefeito. Eu imagino que ele tem 20 anos de trajetória pública, seja no movimento social, seja como candidato, como deputado. Nesses 20 anos, ele tem 19 anos [em] que se posiciona de um jeito em tudo. Aí, em um ano, ele começa a revisitar todos os posicionamentos”, analisou Campos, reverberando crítica feita por Tabata a Boulos na campanha, e falando em “coerência”:
“As pessoas sabem das coisas. Tem uma frase assim: ‘você acha que o povo não pensa, [mas] o povo pensa’. Então, as pessoas veem essa leitura diferente, principalmente quando se aproxima do tempo de eleição. Então, imagino que pode ter acontecido algo desse tipo. Não é você ter um discurso que caiba na eleição, mas ter uma prática de vida na política que seja coerente. Cada vez mais as pessoas querem na política aquilo que seja coerente, que seja verdadeiro.”
Campos finalizou dizendo que “dizer a verdade nem sempre vai agradar, mas as pessoas vão lhe reconhecer por você ter sido sincero com elas”. Questionado na mesma entrevista sobre suas perspectivas para 2026, Campos disse que optaria por Lula, mas elogiou os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e da Educação, Camilo Santana.
Boulos não gostou
Questionado sobre a análise de Campos, Boulos disse que o prefeito do Recife “conseguiu uma reeleição fenomenal” e “tem seus méritos, sem sombra de dúvidas”, mas…
“Não creio que ele está autorizado a me dar aulas de coerência, até porque, em 2020, quando ele se elegeu prefeito pela primeira vez, se elegeu com o mote ‘PT nunca mais’, dizendo que os governos do Lula, do PT, eram os mais corruptos da história, porque o Lula estava inelegível e tinha acabado de sair da prisão.”
Boulos seguiu no ataque (e na defesa): “Hoje, que o Lula é presidente, ele [Campos] virou o maior lulista do país. Então, menos. Não é? Para querer dar lição de moral alheia… E mais do que isso: eu tenho lado. Tenho posições firmes, e ter posição firme tem um preço. Eu não vou conforme o vento”.
“Respeito”
Segundo o psolista, havia pessoas que queriam que ele “pisasse em cascas de banana” durante a campanha, com jornalistas lhe perguntando sobre aborto, entre outros assuntos. “Queiram que eu olhasse a casca de banana e pisasse. Aí, eu não pisei, e me chamam de incoerente”, reclamou.
“O mínimo que se tem que ter na política, independente das diferenças, é respeito”, completou o deputado federal.
Boulos foi derrotado no segundo turno por Nunes, por 59,35% dos votos a 40,65%, apesar do apoio intenso de Lula e de muito dinheiro do fundo eleitoral do PT. Campos se reelegeu no Recife no primeiro turno, com 78,11% dos votos, e podendo dispensar o apoio de Lula.
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