Bolsonaro turbina Abin com novos cargos e permite treinamento a funcionários sem concurso
O presidente Jair Bolsonaro assinou um decreto que aumenta o número de cargos na Abin e permite o treinamento em inteligência a pessoas não-concursadas...
O presidente Jair Bolsonaro assinou um decreto que aumenta o número de cargos na Abin e permite o treinamento em inteligência a pessoas não-concursadas.
O Decreto nº 10.445 foi publicado na última sexta-feira (31). O texto aumenta o número de cargos em comissão na agência de 207 para 221. Os 14 cargos novos vieram de uma troca com a Secretaria Especial de Desburocratização do Ministério da Economia.
Na ponta do lápis, a Abin ficou com uma folha de pagamento praticamente igual a antes, já que a maior parte dos cargos novos é de remuneração mais baixa.
O texto abre brecha para que a Escola de Inteligência, que faz parte da Abin, ofereça treinamento para funcionários não-concursados.
Na redação de 2016, assinada por Michel Temer, à Escola de Inteligência cabia “realizar a capacitação e o desenvolvimento de recursos humanos (…) e a capacitação de pessoal selecionado por meio de concurso público”.
No novo texto, a Escola pode “planejar e executar atividades de capacitação em inteligência e em competências transversais e complementares para os agentes públicos em exercício na Abin e para os indicados pelo Sistema Brasileiro de Inteligência ou por entidades ou órgãos parceiros da Abin”. A menção a “concurso público” foi removida.
O decreto também criou uma nova unidade na Abin: o Centro de Inteligência Nacional, com 17 cargos.
Para efeitos de comparação: a Assessoria Jurídica tem quatro cargos em comissão, enquanto a Escola de Inteligência tem 12.
Uma das funções do novo Centro é “realizar pesquisas de segurança para credenciamento e análise de integridade corporativa”.
‘Integridade corporativa’ é uma das traduções usadas no mundo acadêmico e empresarial para compliance, e dá a entender que a Abin vai ter a missão de evitar, no futuro, episódios como a indicação de Carlos Alberto Decotelli. No fim de junho, o chefe do GSI, Augusto Heleno, twittou que “no caso de Ministros, cada um é responsável pelo seu currículo”.
Esse poderoso novo Centro também terá a missão de “planejar e executar atividades de inteligência” para assessorar “órgãos competentes no que se que refere a atividades e políticas de segurança pública e à identificação de ameaças decorrentes de atividades criminosas”.
Como Bolsonaro é um grande inovador, o Centro também pode “desenvolver ações destinadas à inovação na atividade de inteligência e coordenar unidades da Abin com parceiros para a produção integrada de conhecimentos de inteligência”. O termo ‘inovação’ não aparece no decreto de 2016.
Já algumas responsabilidades presentes no decreto anterior ficaram menos claras na nova versão.
O Departamento de Contraterrorismo e Ilícitos Transnacionais deixou de existir, sendo incorporado ao Departamento de Inteligência. Este departamento trabalha no “enfrentamento do extremismo violento e do terrorismo;” mas não está previsto mais, especificamente, “implementar os planos relacionados à atividade de contraterrorismo”.
Além disso, antes cabia a três departamentos a tarefa de “processar dados e conhecimentos fornecidos pelos adidos civis brasileiros no exterior”. Esse texto sumiu e agora o termo ‘adidos’ aparece apenas no artigo da Assessoria de Relações Internacionais, a quem cabe “supervisionar” as atividades deles.
Na famosa reunião ministerial sem pauta de 22 de abril, Bolsonaro disse sobre os sistemas de inteligência no Brasil: “o meu particular funciona”.
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