Bolsonaro na ONU: isolado e na contramão
A agenda do presidente Bolsonaro em Nova York no começo desta semana mostrou que o Brasil está sem prestígio e andando na contramão da agenda internacional. A avaliação é de Denilde Holzhacker, professora de relações internacionais da ESPM....
A agenda do presidente Bolsonaro em Nova York no começo desta semana mostrou que o Brasil está sem prestígio e andando na contramão da agenda internacional. A avaliação é de Denilde Holzhacker, professora de relações internacionais da ESPM.
“O tema central de todas as reuniões seria o apoio à vacinação. Então um presidente já no primeiro discurso dar um tom antivacina, pró ‘tratamento precoce’, questionando a ciência, [adotando] negacionismo do processo científico, vai contra o argumento de todos os outros países, que estavam ali defendendo [a vacina]”, disse Holzhacker, em entrevista a O Antagonista. Por tradição, o representante do Brasil é sempre o primeiro a falar na Assembleia Geral da ONU, seguido pelo dos Estados Unidos.
“O discurso do Bolsonaro foi um discurso que impactou bastante negativamente na comunidade internacional, porque ele defendeu a medicação da cloroquina, ele colocou questões relacionadas à vacinação, contrárias ao passaporte de vacinação, então vários dos temas que ele abordo foram para falar para a base dele, para as pessoas que apoiam o governo dele, e pessoas conservadoras no mundo – acho que esse também um é um dado importante, um discurso que falou para um público interno brasileiro, mas também para uma base de extrema direita no mundo que apoia essas posições que o Bolsonaro defendeu”, acrescentou a professora.
Em Nova York, Bolsonaro teve reuniões bilaterais com os líderes de apenas dois países: o presidente da Polônia, Andrzej Duda, que é de extrema direita; e o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson.
Para Holzhacker, os britânicos têm procurado com mais afinco estabelecer parcerias com o Brasil depois do Brexit e da assinatura do acordo entre a UE e o Mercosul. “O próprio Reino Unido não quer estar isolado”, disse. “Para o Reino Unido, é importante estabelecer e se firmar como parceiro importante para não perder espaço frente aos outros países europeus”.
A professora também lembrou que o Reino Unido é quem vai sediar a próxima Conferência da ONU sobre o Clima, em Glasgow, em novembro, e o Brasil é um dos principais países do mundo na pauta do meio ambiente (para o bem ou para o mal).
Na entrevista, Holzhacker também comentou a possibilidade de uma nova Guerra Fria entre Estados Unidos e China, que ela julga que ainda ter começado, e o emergente ‘soft power’ da Coreia do Sul e sua diplomacia digital.
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