Bolsonaro “enxugou o decreto”, disse Mauro Cid em áudio
Entre 8 de novembro e 9 de dezembro de 2022, Cid encaminhou pelo menos cinco áudios a um contato que a PF diz ser do general Marco Antônio Freire Gomes, ex-comandante do Exército
O tenente-coronel Mauro Cid (foto), ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, afirmou em áudio enviado a um celular que a Polícia Federal diz ser do general Marco Antônio Freire Gomes, comandante do Exército em 2022, que o ex-presidente “enxugou o decreto” de golpe de Estado recebido de assessores.
A declaração, revelada pelo jornal O Globo, foi obtida pela PF na investigação sobre o plano para reverter a vitória de Lula nas eleições de 2022.
Entre 8 de novembro e 9 de dezembro de 2022, Cid encaminhou pelo menos cinco áudios a um contato que, pela “análise dos dados e a contextualização”, indicam ser de Freire Gomes, segundo a PF.
Em 9 de dezembro, às 12h33, Cid afirmou que Bolsonaro “enxugou o decreto”
“Hoje o que ele [Bolsonaro] fez de manhã? Ele enxugou o decreto, né? Aqueles considerandos [sic] que o senhor viu e enxugou o decreto, fez um decreto muito mais, é… Resumido, não é?”
Às 12h35, Cid enviou outro áudio, ratificando “[a relação das] pessoas que participaram da reunião no dia 07/12/2022 e a existência do decreto que foi alterado e limitado” por Bolsonaro, de acordo com os investigadores.
“Ele mexeu naquele decreto, né. Ele reduziu bastante [a minuta] e fez algo muito mais direto, objetivo, curto e limitado”, disse Cid.
Em 7 de dezembro, dois dias antes do áudio enviado por Mauro Cid, o chefe do Exército, seu contraparte da Marinha, Almir Garnier Santos, e o ex-ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, estiveram no Palácio da Alvorada, conforme apontam registros da portaria.
As alterações feitas por Bolsonaro na minuta
Como mostrou O Antagonista, o relatório da PF que baseou a Operação Tempus Veritatis, autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, mostra que, entre as alterações solicitadas por Jair Bolsonaro em “Decreto de Golpe de Estado” recebido de assessores, estava a retirada da previsão de prisão do também ministro do STF Gilmar Mendes, embora não a de Moraes, que ainda “foi monitorado pelos investigados”.
“Conforme descrito, os elementos informativos colhidos revelaram que JAIR BOLSONARO recebeu uma minuta de Decreto apresentado por FILIPE MARTINS e AMAURI FERES SAAD para executar um Golpe de Estado, detalhando supostas interferências do Poder Judiciário no Poder Executivo e ao final decretava a prisão de diversas autoridades, entre as quais os ministros do Supremo Tribunal Federal, ALEXANDRE DE MORAES e GILMAR MENDES, além do Presidente do Senado RODRIGO PACHECO e por fim determinava a realização de novas eleições”, diz a PF.
Nome de Gilmar sumiu
“Posteriormente foram realizadas alterações a pedido do então Presidente permanecendo a determinação de prisão do Ministro ALEXANDRE DE MORAES e a realização de novas eleições. Nesse sentido, era relevante para os investigados monitorarem o Ministro ALEXANDRE DE MORAES para executarem a pretendida ordem de prisão, em caso de consumação do Golpe de Estado.
A equipe de investigação comparou os voos realizados pelo Ministro no período de 14/12/2022 até 31/12/2022, com os dados de acompanhamento realizados pelos investigados. A análise dos dados confirmou que o Ministro ALEXANDRE DE MORAES foi monitorado pelos investigados, demonstrando que os atos relacionados a tentativa de Golpe de Estado e Abolição do Estado Democrático de Direito, estavam em execução”, de acordo com o relatório.
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