Apagão de dados: Saúde diz ter as informações, mas não ‘acende a luz’ há 30 dias
O Brasil completou nesta segunda (10) um mês sem um retrato da evolução da pandemia. Como o Ministério da Saúde diz ter restabelecido o acesso de estados e municípios à plataforma, é como se a pasta não tivesse conseguido acender a luz em meio a um apagão...
O Brasil completou nesta segunda (10) um mês sem um retrato da evolução da pandemia. Como o Ministério da Saúde diz ter restabelecido o acesso de estados e municípios à plataforma, é como se a pasta não tivesse conseguido acender a luz em meio a um apagão.
O que o ministério deixou de fazer foi enviar à Fiocruz uma planilha semanal com dados que abastecem o sistema InfoGripe, que monitora os dados de notificação de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) no Brasil. Quem explica é Marcelo Gomes, pesquisador em saúde pública da Fiocruz e coordenador do InfoGripe:
“A gente trabalhava com uma rotina em que toda semana o Ministério da Saúde fazia então a extração dos dados do Sivep-Gripe [abastecido por estados e prefeituras] e repassava para nós”, disse Gomes a O Antagonista.
“A equipe do InfoGripe não tem acesso direto ao banco de dados. A gente sempre recebe o repasse de dados do ministério (…) É essa etapa, esse fluxo de repasse semanal, que se perdeu [a partir do ataque hacker em 10 de dezembro]. Desde então a gente parou de receber esse repasse”, acrescentou o pesquisador.
O InfoGripe, abastecido com dados do Sivep-Gripe, sempre foi um painel público, disponível para qualquer pessoa na internet.
Entre os dados que a Saúde costumava encaminhar para a equipe do InfoGripe estão: data de primeiros sintomas do caso; sexo e data de nascimento do paciente; vários campos sobre sintomas (febre, tosse, falta de ar, desconforto respiratório, etc.); fatores de risco; se o paciente foi vacinado; se foi internado e se foi à UTI; se precisou de suporte ventilatório; e resultados sobre exames para Covid.
Alguns estados e prefeituras têm sistemas próprios que permitem enxergar um retrato da pandemia em suas áreas de jurisdição, mas não há trabalho semelhante nacionalmente.
“A gente não tem nenhuma informação de como é que esse dado está no ministério”, disse Gomes. Apesar disso, o ministério diz ainda estar recebendo os dados de estados e prefeituras via Sivep-Gripe. “Ele está lá com o banco [de dados] completão” – mas só o ministério enxerga o banco de dados completo.
Na sexta passada (7), o deputado federal Dr. Luizinho (PP-RJ) disse ao Papo Antagonista que nesse período o ministério já deveria ter montado uma estrutura reserva. Marcelo Gomes disse que, por causa da falta de informações vindas da pasta, não dá para saber se isso seria fácil ou possível: “Fica difícil defender o ministério”.
Gomes acrescentou que o apagão de dados não prejudicou apenas os administradores da saúde pública, mas também as pessoas comuns. “O que cada um de nós decide fazer, né?” – se vai viajar, ir a festas, etc. – é informado pela situação da pandemia.
“E isso a população não teve” em dezembro, acrescentou – com as festas de fim de ano e o avanço da Ômicron.
Enquanto o apagão já completa 30 dias, o Ministério da Saúde joga iscas à imprensa sobre outros assuntos, sempre no futuro – por exemplo, que estuda reduzir o período de isolamento ou que vai pedir à Anvisa a liberação de autotestes.
Procurado por O Antagonista, o ministério não respondeu às nossas perguntas. Em nota à imprensa enviada na manhã desta segunda (10) pelo Telegram, a pasta disse que “a instabilidade nos sistemas (…) não interferiu na vigilância genômica de síndromes agudas respiratórias, incluindo a Covid-19”.
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