Ao visitar Rússia, Bolsonaro quer mostrar que não está isolado, dizem especialistas
Jair Bolsonaro (foto) viajou para a Rússia para participar de um encontro com o presidente Vladimir Putin e discutir questões relativas ao agronegócio e outras relações comerciais...
Jair Bolsonaro (foto) viajou para a Rússia para participar de um encontro com o presidente Vladimir Putin e discutir questões relativas ao agronegócio e outras relações comerciais.
O encontro chegou a ser questionado por ministros do governo por ocorrer em um momento sensível em que Rússia se organiza para atacar a Ucrânia.
Especialistas ouvidos por O Antagonista dizem que a atuação de Bolsonaro é mostrar que ele não está isolado.
Para Camilo Onoda Caldas, advogado constitucionalista, a ida de Bolsonaro ao país, se tiver algum impacto eleitoral interno, provavelmente será entre aqueles que já compõem a sua base eleitoral.
“Para o público em geral, é difícil que uma ação destas, que não tem impacto direto na vida cotidiana das pessoas, tenha algum efeito. Ainda que ele diga que está tratando de algo relevante para o agronegócios, os brasileiros estão preocupados com a escalada de preços dos alimentos e com a quantidade comida que conseguem colocar no prato, considerando inclusive que a inflação de alimentos é inclusive maior que a média da inflação, que é composta por uma cesta de produtos variados”, diz.
Segundo Caldas, com essa viagem ele tenta romper com esse isolacionismo internacional e tenta sinalizar que consegue manter diálogo com alguém para além do seu cercadinho.
“A ida de Bolsonaro para lá, nesse momento, é profundamente inoportuna, pois cria um constrangimento não apenas com os Estados Unidos da América, mas com toda a União Europeia. Não é possível afirmar, mas é muito plausível a hipótese de que Bolsonaro quer na realidade cuidar de assuntos que lhe interessam mais diretamente, como a manutenção do Telegram, que é um dos principais pilares para que Bolsonaro consiga desenvolver sua campanha do modo como deseja, sem o risco de sofrer controles e restrições que o WhatsApp, por exemplo, promete fazer”, afirma.
Para Renato Ribeiro de Almeida, advogado especialista em Direito Eleitoral, a ida de Bolsonaro à Rússia somente pode ter um impacto eleitoral pior para ele.
“Eu entendo que a ida do Bolsonaro configura-se como uma iniciativa ingênua de uma diplomacia bastante fraca que pretende fazer uma visita a um país como a Rússia em um momento de muita tensão. Ao permanecer com esse tipo de agenda, ele na verdade tenta construir uma narrativa de que não está isolado, porque tem o apoio da Rússia. Mas, neste momento, o Brasil já se encontra isolado devido ao governo que ele faz”, diz.
Já Andrea Costa, advogada eleitoralista, afirma que Bolsonaro está numa busca de mostrar força, como se dissesse, em relação à Rússia: “Somos aliados e parceiros comerciais, integrando o BRICS, essa parceria econômica é mais importante e interessante ao Brasil, do que alinhar-se com os EUA na crise com a Ucrânia, inclusive porque somos pressionados com questões ambientais e nenhuma vantagem comercial pelos americanos”, diz.
Para a advogada, a postura de não incluir a questão da Ucrânia na pauta, já afasta o presidente de qualquer alinhamento com os EUA e o aproxima de Putin, que mais se beneficia nesse momento.
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