O Andrezinho chegou lá
André Mendonça passou 2021 na geladeira de Davi Alcolumbre. Indicado por Jair Bolsonaro ao STF, o pastor ficou à espera da boa vontade do presidente da CCJ para pautar sua indicação no colegiado. Em 2020, com a aposentadoria de Celso de Mello, o nome de Mendonça era uma das principais opções do presidente, que prometia indicar um "terrivelmente evangélico". Ele, no entanto, surpreendeu a todos com o desconhecido Kassio Marques, para agradar ao Centrão...
André Mendonça passou 2021 na geladeira de Davi Alcolumbre. Indicado por Jair Bolsonaro ao STF, o pastor ficou à espera da boa vontade do presidente da CCJ para pautar sua indicação no colegiado.
Em 2020, com a aposentadoria de Celso de Mello, o nome de Mendonça era uma das principais opções do presidente, que prometia indicar um “terrivelmente evangélico”. Ele, no entanto, surpreendeu a todos com o desconhecido Kassio Marques, para agradar ao Centrão.
À medida que se aproximava a aposentadoria de Marco Aurelio Mello, que permitiria mais uma indicação de Bolsonaro, Mendonça intensificava sua campanha de bajulação.
Seus principais adversários eram o PGR, Augusto Aras, o presidente do STJ, Humberto Martins, e o ministro do TCU e amigo da família Jorge Oliveira.
Aras e Martins eram os nomes preferidos do Centrão. De olho na vaga, o PGR que enterrou a Lava Jato ignorava os crimes cometidos por Bolsonaro durante a pandemia. O presidente do STJ, que criou um inquérito de bolso para perseguir procuradores da operação, era o nome preferido de Flávio, que pretendia anular as investigações sobre a rachadinha em seu gabinete na Alerj.
Enquanto a campanha informal corria solta, Bolsonaro promoveu uma reforma ministerial em abril. Mendonça foi deslocado do Ministério da Justiça para a AGU, dando lugar a Anderson Torres.
O nome de Martins, igualmente evangélico, ganhava força. O ministro do STJ se apresentava como alternativa para agradar tanto ao Centrão como aos evangélicos.
Algumas lideranças evangélicas, no entanto, como Silas Malafaia, preferiam Mendonça. A ofensiva de Renan Calheiros contra o governo na CPI da Covid ajudou a inviabilizar o nome de Martins. O senador é amigo íntimo do ministro.
Disputa em andamento, O Antagonista revelou com exclusividade os negócios suspeitos da família de Mendonça na área de mineração. Tios do então favorito para o STF se associaram a investidores ligados a Silas Malafaia para a exploração de grafeno, o minério milagroso de Bolsonaro.
A Mendonça Pesquisa Mineral LTDA foi aberta um mês depois da posse do presidente e obteve alvarás de pesquisa sobre o mineral. O advogado de Malafaia, Jorge Vacite Neto, decidiu investir na mineradora, formando a Palm Miracatu.
Às vésperas de se aposentar, Marco Aurélio disse que seus favoritos para ocuparem sua vaga no Supremo seriam Mendonça e Aras.
O ministro do STF se aposentou no início de julho e, dias depois, Bolsonaro anunciou a indicação de Mendonça. O presidente disse ter pedido que ele conduzisse orações no STF uma vez por semana.
Caberia então a Davi Alcolumbre, presidente da CCJ, pautar a indicação no colegiado. O senador, no entanto, decidiu esperar, para ver se conseguiria emplacar Aras.
Os ataques de Bolsonaro ao STF ameaçaram a indicação de Mendonça, que decidiu rodar o Brasil, para conversar pessoalmente com os senadores, em busca da aprovação do seu nome.
Diante da demora para que a sabatina na CCJ fosse pautada, nomes que tinham sido cotados pelo presidente voltaram a almejar a vaga. Segundo aliados do presidente, a promessa de indicar alguém terrivelmente evangélico havia sido esquecida.
Aras passou a se vender como um “bombeiro” para apaziguar a crise entre Bolsonaro e o Supremo. Para o PGR, a cada dia suas chances aumentavam, para a satisfação de Alcolumbre.
Jorge Oliveira e Martins também voltaram a se apresentar como opções.
A menos de um mês da entrega do relatório da CPI da Covid, Bolsonaro disse que, mesmo se a indicação de Mendonça fosse rejeitada, Aras não seria o novo escolhido. O presidente preferia que o procurador continuasse na PGR, para engavetar as acusações.
Diante da incerteza, Mendonça afirmava que a chance de desistir do Supremo era “zero vezes zero”.
Em outubro, Bolsonaro começou a admitir a dificuldade para o nome ser aprovado. O presidente intensificou suas cobranças a Davi Alcolumbre, dizendo que o senador jogava “fora das quatro linhas da Constituição” ao retardar a sabatina.
A fala irritou o presidente da CCJ, que cobrou retratação. Flávio Bolsonaro decidiu entrar no jogo em favor de Mendonça. O 01 se reuniu com Alcolumbre e até prometeu intermediar um encontro entre ele e o presidente, o que acabou não ocorrendo.
A postura de Alcolumbre começou a irritar até Rodrigo Pacheco, que, até então, defendia a independência da CCJ. O presidente do Senado passou a cobrar que o senador definisse uma data e ameaçou levar a indicação de Bolsonaro diretamente ao plenário.
A pressão funcionou e, para alegria geral de Brasília (ministros do Supremo, inclusive), André Mendonça teve a indicação aprovada. O nosso Andrezinho entrou para o time dos 11. Na sabatina, ele disse que, no cargo, colocaria a Constituição acima da Bíblia. Depois de ter o seu nome aceito, com a pior votação de um indicado ao STF, comemorou a vitória com a empolgadamente evangélica Michelle Bolsonaro, que deu pulinhos de satisfação e falou numa língua incompreensível, como requer a tradição dos iluminados pelo Espírito Santo. Todos dando glória a Deus.
Melhor deixar Deus fora disso.
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