Agamenon: Jornal Ficcional
Faço parte do grupo dos imbecisos. Imbecisos são aqueles que ainda não sabem se escolhem um candidato a presidente ou fogem para Miami, Lisboa ou Ciudad del Este. Por isso, fiz questão de acompanhar as sabatinas do Jornal Nacional, mesmo porque até agora nenhum dos candidatos fez alguma oferta moneto-financeira pelo meu apoio...
Faço parte do grupo dos imbecisos. Imbecisos são aqueles que ainda não sabem se escolhem um candidato a presidente ou fogem para Miami, Lisboa ou Ciudad del Este. Por isso, fiz questão de acompanhar as sabatinas do Jornal Nacional, mesmo porque até agora nenhum dos candidatos fez alguma oferta moneto-financeira pelo meu apoio. São essas coisas que me deixam cada vez mais desgostoso com a política. Bons tempos aqueles em que o voto podia ser comprado, o candidato vendido e o jornalista alugado. Hoje, com as redes antissociais, o dinheiro que ia parar no meu bolso acaba indo para os famigerados “influenciadores digitais”.
Tem gente que reclama dos velhos tempos! Hoje em dia é muito mais fácil exercer a difícil arte da picaretagem isenta e imparcial. O dinheiro rola solto na internet —não para mim: é claro que sou obrigado a trabalhar de graça em O Antagonista. Até mesmo o Diogo MaiNerd, um dos afundadores deste site, abandonou seu negócio para se dedicar em tempo integral à preguiça. Quer dizer, preguizzia, como dizem em Veneza.
Como sempre, estou divagando e andando. Minha missão é analisar com as lentes frias da razão iluminista a performance daqueles que desejam ser presidente deste país. O que, convenhamos, já é por si só uma coisa estranha… mas vamos lá. Vou logo avisando que, depois de esmiuçar detalhadamente as entrevistas, cheguei a uma conclusão: não vou votar no Bonner nem na sua vice, Renata Vasconcellos.
O primeiro pretensidente a se apresentar no território livre do Projaquistão foi o candidato Jair Bolsonaso, o Bolso. Sempre caricato, Bolsonazi confirmou que continua a ser um negacionista para quem a pandemia é redonda e a Terra, apenas uma gripezinha. De cara amarrada (amarrada pelo coronel Brilhante Ustra, dublê de torturador e sabão em pó), o capitão de areia afirmou que vai respeitar o resultado das eleições, desde que ele seja o vencedor. Também insistiu que os militares devem acompanhar as votações e obrigar os eleitores a pagar 100 flexões se não votarem nele, Bolsocaro.
Como a polarização é grande, os bolsonaristas acharam que Bolsonaro arrebentou e os peto-lulistas que ele foi péssimo, o que, aliás, eles acham de qualquer candidato que não seja o Lula. A imprensa de esquerda (só no papel, é claro) detestou e a Jovem Klan adorou. Resumo da ópera: deu empate para Bolsoasno.
No dia seguinte, quem se apresentou na bancada e botou banca foi o eterno candidato Ciro Gomes. Cearense de São Paulo, Ciro poderia ter virado um grande sushiman ou um famoso comediante, como seus conterrâneos, mas, sem talento, teve que ser político. Já foi prefeito, governador, deputado e ministro, tudo isso sem ter sido preso —coisa que, no Brasil, é uma façanha. Sua mente é cheia de números e estatísticas; caso não seja eleito, vai abandonar a política e trabalhar como recenseador no IBGE ou palpiteiro da Mega Sena. Ciro também prometeu acabar com a fome, o endividamento dos estados e limpar o nome de todo mundo que está com nome sujo no SPC, o que é o meu caso. Também vai taxar as grandes fortunas, o que não é meu caso. Segundo suas próprias estatísticas, Ciro não vai passar dos 7%. Todo mundo sabe que, em eleição e propina, menos de 20% é mixaria. Se eu fosse o Ciro, já ia providenciando a viagem pra Paris logo, pra conseguir uma passagem mais barata.
E por fim, vamos falar de Luísque Inácio Lula da Silva, o melhor presidente do Brasil de todos os tempos, segundo ele mesmo. Nunca antes no Brasil um presidente falou tanto “nunca antes no Brasil”, e no JN não ia ser diferente. Cada vez mais rouco, o presidente falou que vai ter picanha e cerveja pra todo mundo com os novos programas sociais Bolsa Maminha e Minha Cerveja Minha Vida. Obcecado com churrascos, também prometeu aproveitar os incêndios na Amazônia para assar os bois dos pecuaristas bolsonaristas. Enfim, num passe de mágica, Lula presidente vai fazer crescer a economia e renascer o seu dedo cotó. Não necessariamente nesta ordem. Como sempre, Lulalau foi veemente. Vê uma câmera e mente.
Já ia me esquecendo da Simone Tebet, aquela do Kibe Loco. Simone não consegue sair dos 2% nas pesquisas, principalmente depois que rompeu com a sua vice, a Simaria. Única mulher na disputa, Simone Tebet parece uma Dilma Roskoff de saias. Segundo os analistas da GloboNews que ainda não foram demitidos, a senhora Tebet seria uma alternativa, uma “terceira via” para os eleitores que não querem votar nos outros candidatos, ou seja, a maioria. Mas, como digo desde o inicio, a “terceira via” no Brasil é o dilema do cidadão que ainda não sabe se vai embora, se manda ou escolhe outro país melhor para viver. Qualquer um serve, mesmo porque pior não tem.
Agamenon Mendes Pedreira é O Antagonista de si mesmo.
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