A saída de Dallagnol mostra que a Lava Jato é mais um monumento abandonado no Brasil
A Lava Jato perdeu os seus dois maiores símbolos: Sergio Moro e Deltan Dallagnol. Ambos sofreram e sofrem uma campanha de perseguição odiosa e bem articulada. Ela começou no Partido dos Trabalhadores e ganhou adeptos no Supremo Tribunal Federal, depois que tubarões de PSDB e PMDB entraram na linha de tiro. Encorpou-se com advogados de réus, todos com bom trânsito na imprensa, e encontrou uma grande caixa de ressonância no jornais que divulgaram mensagens roubadas por hackers estelionatários. A campanha de perseguição acabou agregando a extrema direita, após Moro ter saído atirando do Ministério da Justiça...
A Lava Jato perdeu os seus dois maiores símbolos: Sergio Moro e Deltan Dallagnol. Ambos sofreram e sofrem uma campanha de perseguição odiosa e bem articulada. Ela começou no Partido dos Trabalhadores e ganhou adeptos no Supremo Tribunal Federal, depois que tubarões de PSDB e PMDB entraram na linha de tiro. Encorpou-se com advogados de réus, todos com bom trânsito na imprensa, e encontrou uma grande caixa de ressonância nos jornais que divulgaram mensagens roubadas por hackers estelionatários. A campanha de perseguição acabou agregando a extrema direita, após Moro ter saído atirando do Ministério da Justiça, de onde assistiu ao pacote anticrime ser desfigurado no Congresso pela grande coalizão da gatunagem, e obteve finalmente um aliado dentro da PGR, o impoluto Augusto Aras, detrator da Lava Jato escolhido a dedo por Jair Bolsonaro — o Judas Iscariotes dessa história toda.
As circunstâncias familiares para a saída de Dallagnol da Lava Jato existem, mas está claro que o peso para ele se tornou insuportável com as pressões feitas por Aras. O PGR tentou colocar a sua mão peluda em documentos sigilosos da operação, acusando a Lava Jato de fazer investigações ilegais. Ele também manobrou para que Dallagnol sofresse sanções disciplinares do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), mas teve o seu objetivo barrado parcialmente pelo ministro Celso de Mello. Aliados seus conseguiram levar a julgamento no conselho o caso do PowerPoint que mostrava Lula como o cabeça da organização criminosa que saqueou a Petrobras. A apresentação de Dallagnol, que ilustrava o oferecimento da denúncia contra o chefão petista, já havia sido julgada legal por quatro instâncias judiciais que apreciaram o pedido da defesa de Lula para punir o procurador da Lava Jato — e, ainda que assim não tivesse sido, o caso já estava prescrito. Sem nenhum sinal de vergonha, porém, o CNMP protagonizou o teatro, apenas para tornar públicas admoestações a Dallagnol. Como estava previsto no roteiro, as admoestações servirão para alimentar o processo de suspeição contra Moro, em julgamento no STF, que pode anular a condenação de Lula no caso do triplex e abrir caminho para a anulação dos outros processos julgados por Moro. O relator é Gilmar Mendes, o insuspeito paladino do estado de direito. Lula abrirá a porteira para que os demais corruptos poderosos se safem da prisão.
A saída de cena de mais um símbolo da Lava Jato é comemorada em Brasília por aqueles que não veem obstáculos morais para que tudo volte a ser sempre como foi. Eles estão vencendo a guerra, porque já não há povo nas ruas, tolhido que está pela preocupação de sobreviver ao vírus e ao desmoronamento da economia. A operação que era considerada um patrimônio dos cidadãos está em vias de se tornar mais um monumento abandonado no Brasil. Os vândalos a depredam; os pombos a emporcalham — e, em breve, como quer Aras e todos a que ele serve, será substituída por um poste: a tal Unidade Nacional de Combate à Corrupção, modelo que substituirá a força-tarefa, concentrando poder nas mãos do próprio PGR, como publicamos. A luz do poste será intermitente e de alcance convenientemene limitado.
É um país destinado a ter postes, não símbolos, porque o que eles simbolizam é sempre destruído.
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