A pazuellização de Marcelo Queiroga
Marcelo Queiroga viveu, em 2021, um intenso processo de pazuellização. O cardiologista aceitou o convite de Jair Bolsonaro para assumir o Ministério da Saúde em 15 de março, como uma alternativa técnica ao general Eduardo Pazuello. Apesar disso, o lema "um manda, o outro obedece" continuou em vigor na pasta...
Marcelo Queiroga viveu, em 2021, um intenso processo de pazuellização. O cardiologista aceitou o convite de Jair Bolsonaro para assumir o Ministério da Saúde em 15 de março, como uma alternativa técnica ao general Eduardo Pazuello.
Apesar disso, o lema “um manda, o outro obedece” continuou em vigor na pasta.
Por cerca de uma semana, o Brasil teve dois ministros da Saúde, que valiam por nenhum. Pazuello, como uma espécie de ministro emérito, não havia deixado o cargo e, Queiroga, nomeado, não havia assumido. Os dois falavam em nome da pasta.
Enquanto isso, o Brasil apresentava em torno de 3 mil mortes por Covid diariamente e somava 300 mil vidas perdidas para a doença.
Em março, finalmente foi assinado o contrato para a compra de 100 milhões de doses da Pfizer, meses após o governo ignorar uma série de ofertas da empresa. Um contrato para a aquisição de 38 milhões de doses da Janssen também foi assinado.
Ao assumir de forma definitiva, Queiroga logo teve de enfrentar o pico de mortes em decorrência do coronavírus no Brasil. Em abril, o país teve mais de 4 mil mortes em um único dia, enquanto a vacinação ainda engatinhava e Bolsonaro continuava provocando aglomerações e defendendo medicamentos ineficazes contra a doença.
Queiroga foi um dos primeiros convocados pela CPI da Covid. Em seu primeiro depoimento, ele ficou em cima do muro diante da maioria dos questionamentos dos senadores, sem querer discordar publicamente do presidente.
A postura irritou a comissão, que reconvocou o ministro para depor novamente. Dessa vez, depois de muita insistência, ele admitiu que a hidroxicloroquina não tinha eficácia contra a Covid.
Entre as idas de Queiroga ao Senado, O Antagonista revelou, com exclusividade, que um hospital da família do ministro foi reativado com recursos públicos e colocado à venda.
O governo da Paraíba gastou R$ 2,5 milhões com as obras. O hospital foi então colocado à venda por R$ 47 milhões. O próprio governo estadual estaria negociando a compra do imóvel.
Queiroga disse não ter qualquer relação com a administração do hospital.
Em maio, o Ministério da Saúde assinou um novo contrato com a Pfizer, para a compra de outros 100 milhões de doses do imunizante. A aquisição foi feita por R$ 1 bilhão a mais do que a feita em março.
Jair Bolsonaro, no entanto, continuou a organizar suas motociatas e a dar declarações diárias questionando a ciência.
Em uma cerimônia oficial em junho, o presidente disse que Queiroga iria “assinar um parecer” desobrigando o uso de máscaras. O ministro, tentando desconversar, mas sem desagradar ao chefe, afirmou que iria analisar a possibilidade.
A vacinação avançava quando, em agosto, surgiu a informação de que Queiroga havia pedido para deixar o cargo. O ministro foi a público para negar a informação, dizendo que o ambiente no governo era ótimo.
Com a população adulta imunizada com pelo menos uma dose, os estados começaram a aplicar em adolescentes a vacina da Pfizer, aprovada para a faixa etária pela Anvisa. Os bolsonaristas começaram a espalhar fake news, e o Ministério da Saúde orientou os governadores a interromper o processo.
O Antagonista revelou, com exclusividade, que a mudança de posicionamento da pasta ocorreu depois que Bolsonaro telefonou para Queiroga cobrando explicações. O presidente assistia ao programa bolsonarista da Jovem Pan “Os Pingos nos Is”, quando uma comentarista divulgou fake news sobre os riscos de vacinar adolescentes.
Dias depois, o Ministério da Saúde voltou atrás, e voltou a recomendar que menores de 18 anos fossem imunizados.
Em setembro, Queiroga viajou com a comitiva de Bolsonaro para a Assembleia Geral da ONU, em Nova York. Ao lado do presidente, o ministro e seus colegas protagonizaram cenas ridículas como ter que comer pizza de pé, na rua, porque Bolsonaro não poderia entrar em restaurantes, já que não estava vacinado.
Em NY, Queiroga perdeu o controle e mostrou o dedo do meio a manifestantes que protestavam contra o presidente. Para culminar o vexame, o ministro foi infectado pelo coronavírus e precisou ficar em quarentena nos Estados Unidos.
No ápice de seu negacionismo, Queiroga compartilhou nas redes sociais uma postagem sobre o fato de ele ter pegado Covid mesmo estando vacinado, questionando a eficácia da Coronavac.
“Que ironia! Ministro Marcelo Queiroga seguiu todos os protocolos, vacinou com Coronavac.”
De volta ao Brasil, em outubro, o ministro disse ser contra a obrigatoriedade do uso de máscaras e comparou o equipamento a preservativos. Queiroga também reiterou sua posição contra os passaportes sanitários contra a Covid, criticados por Bolsonaro.
O grupo de trabalho da Conitec, comissão que analisa tecnologias para o SUS, estava prestes a divulgar um relatório sobre o kit Covid. O documento, que já estava pronto, iria constatar que as substâncias do kit são ineficazes contra a doença, mas, por presão de Queiroga e Bolsonaro, a reunião para apresentar o relatório foi adiada.
Diante das polêmicas que se acumulavam, a CPI da Covid passou a defender que o ministro fosse convocado pela terceira vez para depor, mas os senadores acabaram desistindo da ideia.
No relatório final, Renan Calheiros pediu o indiciamento do ministro por crimes como usurpação da função pública e crime contra a saúde pública.
Em novembro, Queiroga anunciou a liberação de uma terceira dose da vacina contra a Covid para todos os brasileiros maiores de 18 anos.
Em uma tentativa doentia de agradar Jair Bolsonaro, o ministro disse, em dezembro, que “é melhor perder a vida do que a liberdade”. A declaração foi dada em meio à recusa do governo em adotar as recomendações da Anvisa para a entrada de viajantes no país.
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