A intimidação do Salomão
Magistrados ouvidos pela 'Folha de S.Paulo' temem ser punidos por decisões jurisdicionais não sujeitas a apuração administrativa
Integrantes do Poder Judiciário têm acusado o corregedor nacional de Justiça, Luis Felipe Salomão, de tentar intimidar juízes na esfera disciplinar. Segundo pelo menos 30 magistrados ouvidos pela Folha de S.Paulo, eles temem ser punidos por decisões jurisdicionais não sujeitas a apuração administrativa pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
“Juízes e promotores que, antes, se manifestavam sem reservas sobre problemas administrativos agora optam por ter seus nomes preservados. Entre 16 magistrados ouvidos, apenas dois preferiram ser identificados. A grande maioria reprova o rigor das decisões do ministro”, informa a Folha.
É importante lembrar que o mandato de Salomão termina no final deste mês.
Nas palavras de um juiz estadual para a Folha, que preferiu não se identificar com medo de retaliações, “a gestão de Salomão foi afetada pela pretensão em ocupar uma cadeira no Supremo Tribunal Federal. Tudo de bom que eventualmente possa ter sido feito foi ofuscado por isso.”
Apesar de ser considerado mais rigoroso que seus antecessores como João Otávio de Noronha; Humberto Martins e Maria Thereza de Assis Moura, magistrados afirmam que Salomão “perdeu a mão”.
“O ministro mergulhou numa espiral vaidosa, talvez em busca de promoção pessoal. Sua implacabilidade, não raro injusta, o desconstruiu enquanto magistrado de formação genuína”, declarou.
O domingão do Salomão
A gestão de Salomão à frente do CNJ foi marcada por diversas polêmicas. Em abril, ele afastou desembargadores federais Loraci Flores de Lima e Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz (foto), que atuavam em processos da Lava Jato. Os afastamentos ocorreram no âmbito de uma reclamação ligada ao procedimento administrativo disciplinar que declarou a suspeição do juiz Eduardo Appio, desobedecendo “de forma deliberada” ordens do STF.
Outra polêmica diz respeito aos detalhes do acordo multimilionário entre o Banco do Brasil e duas empresas maranhenses que tiveram, entre seus acionistas, Edison Lobão, ex-ministro de Lula e Dilma Rousseff, revelado com exclusividade por Crusoé.
Salomão homologou a querela judicial envolvendo o Grupo Caiman — composto por duas sociedades anônimas, a Aimar (Destilaria Caiman S/A) e a Cooperativa Mista Industrial e Agrícola Nossa Senhora das Graças (Coopergraças) — em um domingo à noite. Em teoria, fora do expediente normal de trabalho.
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