Vitória de Trump reforça desconexão da imprensa com o povo Vitória de Trump reforça desconexão da imprensa com o povo
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Vitória de Trump reforça desconexão da imprensa com o povo

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Felipe Moura Brasil
9 minutos de leitura 07.11.2024 13:48 comentários
Análise

Vitória de Trump reforça desconexão da imprensa com o povo

Esquerda e seu braço midiático nada aprenderam em 2016 e repetiram tudo em 2024

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Felipe Moura Brasil
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Vitória de Trump reforça desconexão da imprensa com o povo
Foto: Reprodução de vídeo

Eu, Felipe, apontei, além das razões do Brexit em 2016, as altas chances de Donald Trump naquele ano e de Jair Bolsonaro em 2018; as chances muito menores de ambos em 2020 (contra Joe Biden) e 2022 (contra Lula), quando tinham merecidamente perdido cacife eleitoral com condutas alopradas, sobretudo na pandemia e na mobilização de reacionários contra alegadas “fraudes” eleitorais; as chances novamente altas de Trump em 2024 diante da desconexão da esquerda e de seu braço midiático com o povo; assim como venho apontando a oportunidade da oposição a Lula em 2026, caso aprenda as devidas lições.

Tudo isso foi, é e continuará sendo análise do cenário político-econômico e das demandas populares, nunca torcida, nem tentativa de emplacar narrativa, muito menos apoio a qualquer lado, que dirá abandono da vigilância sobre o poder de todos eles, comprovadamente exercida em meu trabalho ao longo dos últimos 8 anos e, em relação aos demais governos do PT e do Partido Democrata, dos anos anteriores também.

De todos os casos supracitados, os únicos momentos em que a maior parte da imprensa ficou menos desconectada à tendência eleitoral foram justamente aqueles — de 2020 e 2022 — em que a direção da sua torcida coincidiu com a dos ventos políticos, o que indica não se tratar de acerto meritório de análise fundamentada, mas da coincidência esporádica entre o discurso militante e o mundo real, em que pesem os exageros e as distorções de costume.

O caso do primeiro mandato de Trump, o mais emblemático do contraste entre minhas análises e as da imprensa em geral, precisa ser lembrado agora que ele conquistou o segundo.

Eis alguns trechos marcantes:

  • 22/10/2015

“Esquerdistas erraram todas as previsões sobre a corrida presidencial americana até aqui porque não fazem análise: fazem ‘wishful thinking’.”

  • 21/2/2016

“Cobertura das eleições americanas no Brasil é uma saraivada de rótulos sobre os candidatos, sem a menor tentativa de justificá-los… Nada mais sintomático da incapacidade de argumentar que a rotulação desenfreada.”

“[Marco] Rubio é criticado pelos conservadores por ter apoiado uma anistia para imigrantes ilegais. Trump, cuja campanha é focada no discurso potente contra a imigração ilegal, explora bem o ponto fraco do adversário que a imprensa esquerdista naturalmente prefere.”

  • 7/3/2016

“Caso ‘Little Marco’ (como debocha Trump) não se recupere, restará à imprensa anticonservadora e anti-Trump salivar pela investigada Hillary Clinton. Tenho minhas dúvidas se não é mais fácil defender Dilma Rousseff.”

  • 8/11/2016 (dia da disputa entre Hillary e Trump)

“Disputa acirrada confirma distância entre mídia e ‘povão’

(…) Trump chega ao dia da eleição presidencial com chances de vencer a disputa, ora considerada ‘acirrada’ pela mesma mídia que, durante toda a corrida, decretou várias vezes o fim de sua campanha por achar que ele foi mal em declarações e atitudes.

(…) O motivo é simples: o divórcio de interpretações entre a mídia e um enorme grupo da versão americana de “povão” – os eleitores brancos sem curso superior, que, embora ganhem mais que os brasileiros correspondentes, viram sua remuneração cair durante o governo Obama.

Esses eleitores não frequentaram nenhuma das universidades americanas que, de acordo com uma pesquisa nacional de 2007 feita por dois acadêmicos esquerdistas, Neil Gross e Solon Simmons, tinham 9 professores de esquerda nas ciências sociais e humanas para cada professor conservador; e, em campos como antropologia e sociologia, 30 para cada um.

Esses eleitores não fazem a leitura dos fatos com as mesmas predisposições e preconceitos que jornalistas formados por esses professores e/ou parceiros e informantes diretos da campanha de Hillary, como aqueles mencionados nos e-mails do marqueteiro da candidata, John Podesta, vazados pelo WikiLeaks.

Esses eleitores não tomam o uso de um linguajar sem mesuras em conversa privada de vestiário como prova cabal da imoralidade de ninguém.

Esses eleitores tampouco se enquadram nas principais categorias humanas tratadas pelo Partido Democrata (ou pelo PT) como de vítimas da sociedade que precisam do dinheiro dos impostos alheios por meio do Estado inchado para vencer na vida…

Ao contrário, esses eleitores com frequência são tachados como os próprios opressores racistas, misóginos, homofóbicos, islamofóbicos e xenófobos – ou ‘brancos raivosos’, como nos e-mails de Podesta e nas palavras de Michael Moore; ou mais resumidamente ‘deploráveis’, como disse Hillary em público – que ameaçam os grupos alvejados pela esquerda americana em sua propaganda de vitimização.

(…) É natural, portanto, que Trump, com promessas de trazer de volta os empregos de manufatura que lhes permitiram sustentar suas famílias, tenha mantido a liderança ao longo do ano entre os eleitores brancos sem curso superior e que as últimas pesquisas nacionais o apontem à frente de Hillary com a ampla margem de 59% contra 30%…

Com essa margem, Trump compensa quatro anos de migração do voto de hispânicos e de eleitores brancos com nível superior a favor dos democratas.

(…) A resiliência de Trump confirma que a percepção (para não dizer torcida) da mídia está longe de ser a mesma de parte considerável da sociedade e que ninguém pode acertar a análise de um quadro eleitoral durante a campanha sem considerar este fenômeno. (…)”

  • 9/11/2016

“Donald Trump é eleito presidente dos EUA. Sabe aquilo tudo que escrevi? Tava certo. Sabe o que saiu na mídia? Tava errado. Pois é.”

“Meu post antes da votação nos EUA: Disputa acirrada confirma distância entre mídia e ‘povão’. A votação só confirmou mais ainda. Obrigado.”

“Não é culpa minha se, em vez de exame de consciência e autocrítica, boa parte dos jornalistas torcedores, humilhados pelos fatos, prefere redobrar rancor.”

  • 28/10/2018

“Em 7 de agosto de 2016, após Donald Trump vencer as primárias do Partido Republicano para enfrentar Hillary Clinton na eleição geral, o colunista James Rutenberg começou um artigo no New York Times com a seguinte pergunta:

‘Se você é um jornalista que trabalha e acredita que Donald Trump é um demagogo que joga com as piores tendências racistas e nacionalistas da nação, que ele se aproxima de ditadores antiamericanos e que ele seria perigoso com o controle dos códigos nucleares dos Estados Unidos, como diabos você deve cobri-lo?’

Há duas respostas condizentes à tradição do jornalismo: a primeira é que, se você é exclusivamente um repórter, deveria cobri-lo do mesmo modo que cobre qualquer pessoa com quem simpatize, prezando pela isenção na apuração e na exposição dos fatos, independentemente das suas crenças e posições pessoais. A segunda é que, se é incapaz de fazer isso, não deveria cobri-lo ou ser autorizado a tanto pelo seu chefe.

Mas nenhuma dessas respostas é a que Rutenberg deu.

Citando um editor que chamou Hillary Clinton de ‘normal’ e Trump de ‘anormal’, Rutenberg sugeriu que ‘padrões normais’ não se aplicavam.

Ele admitiu que ‘o equilíbrio está de férias’ desde que Trump começou a fazer campanha, e terminou declarando que ‘o trabalho do jornalismo é fiel aos leitores e telespectadores, e fiel aos fatos, de uma forma que resista ao julgamento da história’.

O artigo até hoje é citado na parte jamais traduzida na imprensa brasileira do debate público americano – a não esquerdista – como uma tentativa de justificar a cobertura enviesada do Times e ainda uma voz de comando aos jornalistas anti-Trump, dizendo-lhes que era aceitável ser tendencioso, afinal a história os julgaria.

Tanto que, semanas depois, Dean Baquet, editor executivo do Times, disse a um entrevistador que o artigo de Rutenberg ‘pregou’ seu pensamento e o convenceu de que a luta pelo equilíbrio havia acabado. ‘Acho que Trump acabou com essa luta’, afirmou Baquet, terceirizando a responsabilidade pelo rebaixamento dos critérios jornalísticos.

Como o Times é a nave-mãe da imprensa de esquerda, as portas foram abertas para que Trump fosse rotineiramente chamado de racista e até Hitler.

Quase todos os veículos proeminentes demonizavam Trump e efetivamente apoiavam Hillary, em capítulo vexaminoso de partidarismo na história do jornalismo americano.

E nem o fracasso desse esforço produziu uma mudança de comportamento. Após a vitória de Trump, cuja possibilidade não foi sequer vislumbrada por esses veículos e seus tradutores no Brasil (na grande mídia, fui o único a considerá-la ao longo de toda a corrida a eleitoral), tentou-se culpar uma intervenção russa e alegadas fake news disseminadas nas redes sociais, como se a imprensa não tivesse disseminado nenhuma. (A mais emblemática delas, para citar só um exemplo: a de que Trump ridicularizou a deficiência de um repórter do próprio Times.)”

Não mudou nada

Em 2024, oito anos depois da primeira vitória de Trump, sabe o que mudou no comportamento da esquerda e da maior parte da imprensa?

Nada. Absolutamente nada — a ponto de Trump crescer até entre negros, latinos e jovens. Por isso, fiz esse resumo no X, após o resultado:

“Insistiram em Biden.
Acobertaram sua decrepitude.
Trocaram pela pior atriz do partido.
Blindaram contra entrevistas.
Encobriram histórico radical.
Repisaram pautas identitárias.
Perderam debate de imigração/segurança.
Relativizaram alta de preços.
Defenderam soluções agravantes.
Distorceram falas de Trump.
Minimizaram atentados.
Focaram em ‘riscos à democracia’.
Repetiram cartada do nazismo.
Desconectaram-se do povo.

E ainda queriam vencer?

Como comentei na véspera da eleição, lembrando a de 2016:

‘Oito anos depois, os EUA apenas andaram oito anos para trás.’”

Leia também: Nós avisamos sobre Trump

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