Última ceia Queer: a celebração da religião woke Última ceia Queer: a celebração da religião woke
O Antagonista

Última ceia Queer: a celebração da religião woke

avatar
Catarina Rochamonte
7 minutos de leitura 29.07.2024 10:54 comentários
Análise

Última ceia Queer: a celebração da religião woke

O “crucificado” foi superado. Dionísio voltou. A festa pagã da volúpia triunfa como uma suposta vitória sobre os valores cristãos. O deus Apolo, da sobriedade e da medida, também é esquecido. Sobra apenas o prazer vil sem limites das bacanais romanas. Viva Baco!

avatar
Catarina Rochamonte
7 minutos de leitura 29.07.2024 10:54 comentários 0
Última ceia Queer: a celebração da religião woke
Reprodução/X

A filósofa Simone Weil (1909 – 1943), que foi esquecida na homenagem prestada às grandes mulheres francesas na abertura das olimpíadas, escreveu que a contemplação da obra “Última ceia” conduziu-a à descoberta do segredo de Leonardo da Vinci (1452-1519). Segundo ela, o gênio renascentista tinha uma concepção pitagórica da vida.

Na obra “A Última ceia”, da Vinci utiliza um recurso gráfico no qual a coincidência entre um ponto de fuga de um grupo de importantes linhas paralelas horizontais com o rosto de Cristo produz uma espécie de comando para que o observador olhe diretamente para o rosto d´Ele, produzindo a impressão de que algo sobrenatural o atrai.

Ao compor sua obra segundo um determinado ordenamento geométrico, da Vinci teria buscado desvelar ao observador o mistério de sua própria criação. Esse modo de criação, segundo a filósofa, seria análogo à concepção de criação da tradição pitagórica.

Para os pitagóricos, o universo teria sido criado segundo uma ordem geométrica que produz o efeito da beleza mediante a qual as criaturas podem vislumbrar o supranatural da criação, ou seja, a beleza seria uma espécie de efeito gráfico utilizado por Deus para conduzir o olhar da humanidade, possibilitando o acesso ao supranatural através da criação.

O belo, segundo Simone Weil, seria um instrumento do qual Deus se vale para que a criação se abra ao supranatural.

A trans-valoração

Um mundo, porém, no qual o sagrado não tem nenhuma razão de ser, um mundo no qual o transcendente não importa porque não existe, um mundo no qual o materialismo reina soberano, precisa inverter essa relação artística fazendo com que tudo aquilo que é sagrado afunde nos apelos sensoriais da imanência, fazendo com que o triunfo do belo sobre o instinto se inverta.

A sublimação, na qual a ascese mística eleva ao divino através da contemplação do belo inverte-se de modo tal que o apelo material dos sentidos grosseiros converge como o ponto focal das potências cognitivas do sujeito, incapaz doravante de qualquer transcendência.

O que resta da arte, então, é uma mistura de cores e textos simbólicos que visam projetar os sentidos em torno do grosseiro, do chocante, do vulgar e do transgressor.

A arte isola-se do belo e aproxima-se da política em uma espécie de clímax do processo de embrutecimento do homem, que se afirma então como o Dionísio embriagado pelos prazeres mundanos.

O “crucificado” foi superado. Dionísio voltou. A festa pagã da volúpia triunfa como uma suposta vitória sobre os valores cristãos. O deus Apolo, da sobriedade e da medida, também é esquecido. Sobra apenas o prazer vil sem limites das bacanais romanas. Viva Baco!

Essa foi a mensagem, na minha opinião claramente intencional, da “criação artística” de Thomas Jolly, quando resolveu parodiar a “Última Ceia” de Leonardo da Vinci no espetáculo de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris 2024.

Cinismo e covardia

Esse não foi o único momento queer do espetáculo. Houve apresentações de drag queens em vários momentos, inclusive ao lado de crianças; mas o ponto alto da celebração woke foi realmente quando as drags se reuniram em bando como apóstolos em torno de uma mulher gorda com uma auréola na cabeça para representar o Cristo, antes de serem servidas de um homem pelado pintado de azul deitado em uma bandeja, em uma representação bizarra do deus Dionísio.

O episcopado francês deplorou as cenas de escárnio e zombaria com o cristianismo, agradeceu aos membros de outras confissões religiosas que expressaram solidariedade os cristãos pela cena desnecessária e afrontosa e lembrou que a celebração olímpica vai muito além dos preconceitos ideológicos de alguns artistas.

Diante da enorme repercussão negativa, os organizadores do evento se viram forçados a dar explicações: “Nossa intenção não foi desrespeitar nenhum grupo religioso. Pelo contrário, a nossa intenção foi mostrar tolerância e comunhão. Se as pessoas ficaram ofendidas, pedimos desculpas, declarou Anne Descamps, diretora de comunicações.

Esse padrão de justificativa hipócrita e capciosa foi o mesmo utilizado por Thomas Jolly.

A falsa mea-culpa não convence. É claro que se sabia de antemão que a cena era ofensiva para os cristãos. A cena continha uma mensagem política. E essa mensagem política é cínica e covarde. Cínica porque não assume sua real intenção provocativa e debochada; covarde porque não tem coragem de debochar da religião que tomou por aliada na causa comum de destruição dos valores ocidentais, o Islã:

A superficialidade desses provocadores se resume no fato de que eles nunca ridicularizariam o islamismo. Imagine se uma drag queen na cerimônia tivesse subido em um cavalo alado de pantomima em zombaria aberta da crença muçulmana de que Maomé voou para o céu em uma criatura de fantasia. Paris estaria em chamas agora. Os jornais estariam cheios de angústia de classe tagarela sobre os males da ´islamofobia´. Em vez disso — porque foi apenas Jesus Cristo e não Maomé — a imprensa progressista está cheia de elogios. Que cerimônia ´única´, ´queer´ e ´muito francesa´, eles estão vibrando.

A profanação consciente da cerimônia não foi ´impressionante e corajosa´ — foi burra e covarde. O cristianismo é um alvo seguro na Europa do século XXI. Se você realmente quer agitar a bagaça, nos dê uma drag de Maomé da próxima vez. […]

Há algo doentio em artistas performáticos bem pagos dando golpes baixos no cristianismo em um país onde pessoas foram mortas a tiros e literalmente decapitadas por levantar questões sobre o islamismo”, escreveu Brendan O’Neill em seu artigo, na revista Spiked.

A religião woke

Enquanto cristã eu poderia me perguntar abismada: como podem debochar de Cristo desse jeito?. Como analista política, porém, a questão relevante a levantar é: Por que menosprezar Cristo desse jeito em uma cerimônia de abertura das Olimpíadas, na frente de um bilhão de espectadores?

Para representar o triunfo de uma nova religião, a religião Woke. É o que responde o ateu O’Neill em seu artigo. E conclui:

Na verdade, é apropriado que, diante dos olhos do mundo, a França tenha substituído Cristo e seus discípulos por ´queers´ e drag queens. Foi uma representação dramática de uma tendência real: a usurpação de velhos valores morais pelo sistema de crenças desanimador da nova elite.

De fato, se você quer ser cancelado hoje, esqueça de zombar de Cristo – tente se referir a uma ´mulher trans´ como ´ele´. Eles vão ter sua cabeça como a de Maria Antonieta. Sim, se é blasfêmia que eles querem, vamos dar a eles: Mulheres trans são homens, drag queens devem ficar fora das escolas, o islamismo tem um monte de crenças malucas – o que mais deveríamos acrescentar?

Leia mais: Wokismo: o destrutivo tsunami ideológico que ameaça o Ocidente

  • Mais lidas
  • Mais comentadas
  • Últimas notícias
1

Daniela Mercury arremessa banco; empresária reage indignada

Visualizar notícia
2

Crusoé: Marçal minimiza cadeirada de Datena

Visualizar notícia
3

Governo Lula desperdiça R$ 260 mi em vacinas contra Covid

Visualizar notícia
4

Cadeirada ressuscita Datena

Visualizar notícia
5

Polícia Civil investiga cadeirada de Datena em Marçal

Visualizar notícia
6

Crusoé: PSDB sustenta candidatura de Datena após cadeirada

Visualizar notícia
7

Como o tráfico de drogas mantém o regime da Venezuela unido

Visualizar notícia
8

Como usar o "mas..." no caso da cadeirada

Visualizar notícia
9

Eleições Fortaleza: empate triplo, treta na direita, cocaína e sal

Visualizar notícia
10

Após cadeirada, próximo debate terá cadeiras fixadas ao chão

Visualizar notícia
1

Marçal x Datena: estamos mesmo em São Paulo, em 2024?

Visualizar notícia
2

Senador quer CPI para apurar inquéritos conduzidos por Moraes

Visualizar notícia
3

Cadeirada de Datena representa ápice da baixaria nos debates em São Paulo

Visualizar notícia
4

Marçal, Datena e a distorção da masculinidade

Visualizar notícia
5

“Errei, mas de forma alguma me arrependo”, diz Datena sobre cadeirada em Marçal

Visualizar notícia
6

Após cadeirada, próximo debate terá cadeiras fixadas ao chão

Visualizar notícia
7

Irã: 34 prisioneiras iniciam greve de fome

Visualizar notícia
8

Debate é marcado por 'cadeirada' de Datena em Marçal; apresentador é expulso

Visualizar notícia
9

Cadeirada na TV: Marçal registra queixa contra Datena por lesão corporal

Visualizar notícia
1

MP Eleitoral investiga cadeirada de Datena em Marçal

Visualizar notícia
2

Caso Moraes: CPI é melhor que impeachment?

Visualizar notícia
3

Como usar o "mas..." no caso da cadeirada

Visualizar notícia
4

Agressão de Datena a Marçal vira caso de polícia

Visualizar notícia
5

Datena x Marçal: a cadeirada indefensável

Visualizar notícia
6

Marina deve voltar ao Congresso para explicar queimadas 'do amor'

Visualizar notícia
7

Cadeirada ressuscita Datena

Visualizar notícia
8

Deputado apresenta projeto para punir candidatos agressores

Visualizar notícia
9

Após cadeirada, próximo debate terá cadeiras fixadas ao chão

Visualizar notícia
10

Expectativa por juro mais alto derruba dólar

Visualizar notícia

Assine nossa newsletter

Inscreva-se e receba o conteúdo do O Antagonista em primeira mão!
< Notícia Anterior

Bolsa Família: saiba quem recebe ainda esse mês

29.07.2024 00:00 4 minutos de leitura
Próxima notícia >

VW T-Cross surpreende e conquista posição de destaque no mercado automotivo em 2024

29.07.2024 00:00 4 minutos de leitura
avatar

Catarina Rochamonte

Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.

Comentários (0)

Torne-se um assinante para comentar

Notícias relacionadas

Como usar o "mas..." no caso da cadeirada

Como usar o "mas..." no caso da cadeirada

Carlos Graieb Visualizar notícia
Marçal, Datena e a distorção da masculinidade

Marçal, Datena e a distorção da masculinidade

Felipe Moura Brasil Visualizar notícia
Hora de pagar a conta

Hora de pagar a conta

Rodrigo Oliveira Visualizar notícia
Marçal x Datena: estamos mesmo em São Paulo, em 2024?

Marçal x Datena: estamos mesmo em São Paulo, em 2024?

Ricardo Kertzman Visualizar notícia
Icone casa

Seja nosso assinante

E tenha acesso exclusivo aos nossos conteúdos

Apoie o jornalismo independente. Assine O Antagonista e a Revista Crusoé.