Segue a briga entre as esquerdas na UERJ Segue a briga entre as esquerdas na UERJ
O Antagonista

Segue a briga entre as esquerdas na UERJ

avatar
Felipe Moura Brasil
6 minutos de leitura 23.08.2024 13:07 comentários
Análise

Segue a briga entre as esquerdas na UERJ

“Só não podemos aceitar depredação, violência, assédio e ofensas”, diz reitora. Ex-reitor petista sai em defesa de alunos que invadem salas e bloqueiam acessos

avatar
Felipe Moura Brasil
6 minutos de leitura 23.08.2024 13:07 comentários 3
Segue a briga entre as esquerdas na UERJ
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

A reitora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Gulnar Azevedo e Silva, recebeu jornalistas na quinta-feira, 22 de agosto, para esclarecer dúvidas sobre as questões já devidamente explicadas em análise de O Antagonista, publicada na quarta, 21.

Um protesto contra a redução do número de alunos não cotistas beneficiados com 706 reais mensais da Bolsa de Apoio à Vulnerabilidade Social (BAVS) – auxílio criado para vigorar durante a pandemia de Covid-19, encerrada em maio de 2023 – resultou em invasão de salas da Reitoria e bloqueio de acesso a prédios da UERJ.

Ao lado do vice-reitor Bruno Deusdará, Gulnar defendeu o Ato Executivo de Decisão Administrativa (Aeda) 38/2024, que restringiu a BAVS a alunos com renda familiar bruta de até meio salário mínimo, em vez de até um salário mínimo e meio, como a universidade contemplava até julho. O objetivo, segundo ela, é assegurar o pagamento de bolsas e auxílios a quase nove mil cotistas e aos mais vulneráveis que ingressaram por ampla concorrência.

Sempre estivemos abertos ao diálogo, recebendo as entidades representativas dos alunos, bem como dos servidores técnicos administrativos e docentes. Reconhecemos a importância e a legitimidade do movimento estudantil, defendendo que eles possam criticar as ações tomadas. Só não podemos aceitar formas não naturais de protesto, como depredação do patrimônio público, violência, assédio e ofensas. Contudo, continuamos empenhados em restabelecer e manter o diálogo”, afirmou Gulnar.

Ela ressaltou que os auxílios alterados pelo Aeda 38/2024 foram criados durante a pandemia, quando houve sobra de recursos orçamentários.

Na época, a comunidade não foi informada de que não havia sustentabilidade. Desde que assumimos, em janeiro, estamos trabalhando, inclusive com o governo do estado, para garantir os pagamentos, estabelecendo critérios visando aperfeiçoar a política de permanência estudantil da UERJ, que muito nos orgulha, pois foi a primeira iniciativa do tipo no Brasil”, alegou Gulnar. “Entendemos que ela deve ser mantida, não só com bolsas e auxílios que porventura sejam necessários, mas com acompanhamento pedagógico e atendimento psicossocial, para que os estudantes possam concluir seus cursos”, acrescentou a reitora, reforçando que nenhuma Bolsa Permanência, no valor de 706 reais, destinada aos cotistas, foi cortada.

Universidade subfinanciada

Os gestores destacaram que, historicamente, a universidade, bem como outras instituições públicas de ensino superior, sempre foi subfinanciada, recebendo recursos insuficientes para realizar todas as suas atividades. Segundo o vice-reitor, até o mês de agosto, a UERJ investiu cerca de R$ 111 milhões na assistência estudantil, montante superior à dotação inicial de R$ 96 milhões para todo o ano de 2024.

Para efetuar o pagamento de setembro a dezembro, precisamos de uma suplementação de R$ 50 milhões. A Reitoria precisava agir para garantir as bolsas e os auxílios, especialmente dos estudantes mais pobres e dos cotistas”, alegou Bruno Deusdará.

Na última segunda-feira, 19, a Reitoria apresentou a integrantes do Diretório Central dos Estudantes (DCE) e dos Centros Acadêmicos (CAs) uma solução intermediária para a crise, garantindo àqueles que deixarão de receber a BAVS um benefício emergencial no valor de 400 reais até dezembro, além da tarifa zero no Restaurante Universitário (RU). Segundo a gestão, ainda será analisada, caso a caso, a possibilidade de enquadrar esses alunos como cotistas, mediante análise de documentação. Também foi lembrado que o auxílio-alimentação de 300 reais continuará sendo pago a quem estuda em campus onde não há RU; e que o auxílio-creche, agora auxílio primeira infância, foi mantido para todos os atuais beneficiários.

Quem aproveitou o embate entre a atual gestão da UERJ e alunos insatisfeitos com a Aeda 38/2024 para tentar faturar politicamente foi o ex-reitor Ricardo Lodi. Ele publicou um vídeo “sobre a alegada violência dos estudantes da UERJ em suas manifestações contra o Aeda da Fome”, no qual, citando um poema de Bertold Brecht, acusou a Reitoria de “criminalizar aqueles que sofrem com as suas políticas”. “Não podemos deixar ninguém para trás”, concluiu.

Advogado de Dilma Rousseff

Antecessor de Gulnar no cargo, Ricardo Lodi foi um dos advogados de Dilma Rousseff no processo de impeachment de 2016. A convite do também petista André Ceciliano, ele deixou a gestão da universidade em abril de 2022 para se candidatar a deputado federal pelo PT, mas não foi eleito. Sua renúncia como reitor foi anunciada por ele no evento “Encontro Internacional Democracia e Igualdade”, realizado no campus da UERJ, com a presença do então candidato Lula.

O professor Mario Sergio Carneiro, até então vice-reitor, assumiu o mandato-tampão e tentou a reeleição, mas foi derrotado por Gulnar, professora e médica sanitarista do Instituto de Medicina Social Hesio Cordeiro (IMS). Em 2022, ela endossou um manifesto em apoio à candidatura de Lula. Em seu Instagram, Gulnar aparece em fotos com a primeira-dama Janja, as ministras Nísea Trindade (Saúde) e Anielle Franco (Igualdade Racial), além de petistas como o ministro Wellington Dias (Desenvolvimento e Assistência Social) e a deputada federal Maria do Rosário.

Em junho de 2023, Ricardo Lodi se tornou figura central no escândalo das folhas secretas da UERJ, no qual o Ministério Público do Rio (MPRJ) viu rachadinha e abuso de poder político.

A universidade, de acordo com o UOL, pagou R$ 789 mil a 73 cabos eleitorais de 17 candidatos de partidos de esquerda: PT, PV, PSB, PCdoB, PSOL e PDT. A maior parte trabalhou para candidatos do PT a deputado que fizeram campanha ao lado do ex-reitor. Segundo o portal, a UERJ desembolsou R$ 433 mil à família (sogra e esposa) do coordenador da campanha eleitoral de Lodi, Samuel Marques dos Santos.

Em agosto de 2023, Lodi ainda passou a ser investigado pelo Tribunal de Contas do Estado do Rio (TCE-RJ) por gastos de R$ 640 milhões com remuneração de pessoal, em 21 projetos de pouca transparência ao longo de 2021 e 2022, durante sua gestão na universidade.

Como O Antagonista havia destacado na análise anterior, citando o autor americano Dennis Prager, a esquerda lulista explora tanto o sentimento de ‘direito’ das massas quanto o ressentimento delas contra quem corta o que já foi dado, notadamente quando o corte é feito por rivais políticos, mesmo que na esteira de crises econômicas e escândalos de corrupção deixados por gestões petistas.

Ricardo Lodi confirma a tese. Na UERJ, um lado da esquerda lulista explora o ressentimento de alunos até contra outro lado da esquerda lulista.

Está garantida a “sustentabilidade” da briga.

  • Mais lidas
  • Mais comentadas
  • Últimas notícias
1

Crusoé: Mais uma provocação da ditadura de Maduro a Lula

Visualizar notícia
2

A televisão e o rádio não morreram

Visualizar notícia
3

Nunes declara 'guerra santa' a Pablo Marçal

Visualizar notícia
4

Brasileiro do Hezbollah é condenado; governo Lula silencia

Visualizar notícia
5

Ex-servidor diz receber ameaças após denunciar Silvio Almeida

Visualizar notícia
6

PF indicia Janones por rachadinha

Visualizar notícia
7

Datafolha indica avanço de Nunes e recuo de Marçal em SP

Visualizar notícia
8

Influenciador fitness e fisiculturista morre aos 36 anos

Visualizar notícia
9

Gisele Bündchen aponta “queimadas crescentes”: “Não podemos fechar os olhos”

Visualizar notícia
10

Zelensky tira máscara de Lula: “Não somos tolos”

Visualizar notícia
1

Datafolha indica avanço de Nunes e recuo de Marçal em SP

Visualizar notícia
2

Crusoé: Mais uma provocação da ditadura de Maduro a Lula

Visualizar notícia
3

"As 7 maiores mentiras de Kamala Harris no debate"

Visualizar notícia
4

Crusoé: EUA sancionam presidente da Suprema Corte da Venezuela

Visualizar notícia
5

Ex-servidor diz receber ameaças após denunciar Silvio Almeida

Visualizar notícia
6

Nunes contesta pena, mas não endossa anistia a réus do 8/1

Visualizar notícia
7

Bolsonaro indica desembarque da campanha de Ricardo Nunes

Visualizar notícia
8

Bon Jovi salva mulher prestes a pular de ponte

Visualizar notícia
9

Tiririca estava errado: pior do que está, fica

Visualizar notícia
1

Datafolha ou Marçal: quem está certo?

Visualizar notícia
2

Toffoli abre fila de espera da impunidade

Visualizar notícia
3

Janones indiciado: quem vai blindá-lo agora?

Visualizar notícia
4

Seif diz que oposição tem plano B para impeachment de Moraes

Visualizar notícia
5

PF aciona Supremo sobre competência para julgar caso Silvio Almeida

Visualizar notícia
6

Crusoé: cidade da fake news de Trump em debate sofre ameaça de bomba

Visualizar notícia
7

TRE-SP rejeita cassação de Zambelli

Visualizar notícia
8

A estratégia de Nunes para neutralizar Pablo Marçal

Visualizar notícia
9

Além de Gisele Bündchen, Alok aponta queimadas

Visualizar notícia
10

Efraim: "Governo não compreende geração de empregos"

Visualizar notícia

Assine nossa newsletter

Inscreva-se e receba o conteúdo do O Antagonista em primeira mão!

Tags relacionadas

análise Dilma Rousseff esquerda Gulnar Azevedo e Silva Mario Sergio Carneiro UERJ
< Notícia Anterior

Crusoé: Belo Horizonte, a capital onde o PT não tem vez

23.08.2024 00:00 4 minutos de leitura
Próxima notícia >

Os candidatos do 8 de janeiro

23.08.2024 00:00 4 minutos de leitura
avatar

Felipe Moura Brasil

Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.

Comentários (3)

Maglu Oliveira

24.08.2024 22:59

"a política de permanência estudantil da UERJ" - agora eu entendo pq um conhecido meu já terminou 3 faculdades na UERJ e está fazendo doutorado msm sendo proprietário de 6 imóveis e sendo empresário. O cara tem 45 anos e continua estudando. Tá certo. E a burralda aqui trabalhava o dia inteiro p/ estudar a noite na famosa Grana Firme de Piedade/RJ q custava 1/3 do salário. Os estudantes das universidades públicas hj em dia, c/ essa mamata toda, não querem msm parar de estudar e ainda ganham bolsa. Agora tb entendi o termo Estudante Profissional: ganhar p/ nunca parar de estudar. E a trouxa aqui paga c/ impostos altos a boa vida dessa turma. Affii!!!


Maglu Oliveira

24.08.2024 09:57

Verdade, Marcia. Aliás, em Sociologia só estuda quem já é esquerdista raiz, querem aprender mais o quê? Vão lá vagabundar, receber dinheiro do Estado, fazer baderna. Sei do que falo pois eu comecei esse estudo na Nacional/RJ. Quando percebi o que acontecia lá dentro pulei fora, fui trabalhar e estudar outra coisa. Aliás, a UERJ é um antro de esquerdistas. O Estado deveria cortar todas as bolsas, assim eles sumiriam todos, só querem viver como Karl Marx, às custas do dinheiro dos outros, mas esquecem que ele morreu pobre, devendo a todo mundo. É isso que querem?


Marcia Elizabeth Brunetti

23.08.2024 13:48

Essa revisão de documentos comprobatórios para avaliar carência dos alunos deveria ser séria, mas enquanto estiver nas mãos de esquerdalhas, como esse vice-reitor, não vai dar em nada. E Entre outras ideias que eu daria, seria fornecer bolsa somente para alunos interessados em cursos que realmente trarão benefícios sólidos para eles e para o País. A maioria dos cursos de Ciências Humanas está fora desse espectro, como Sociologia, por exemplo. O curso pode ser bom e útil, mas não deve mais ser pago por nós.


Torne-se um assinante para comentar

Notícias relacionadas

Economia forte e fiscal fraco decretam alta da Selic

Economia forte e fiscal fraco decretam alta da Selic

Rodrigo Oliveira Visualizar notícia
O fiasco da polarização Lula x Bolsonaro nas eleições municipais

O fiasco da polarização Lula x Bolsonaro nas eleições municipais

Ricardo Kertzman Visualizar notícia
A televisão e o rádio não morreram

A televisão e o rádio não morreram

Rodolfo Borges Visualizar notícia
O que é o Ocidente? Ele esqueceu de onde veio?

O que é o Ocidente? Ele esqueceu de onde veio?

Catarina Rochamonte Visualizar notícia
Icone casa

Seja nosso assinante

E tenha acesso exclusivo aos nossos conteúdos

Apoie o jornalismo independente. Assine O Antagonista e a Revista Crusoé.