Se a ideologia woke fosse uma pessoa, seria Kamala Harris Se a ideologia woke fosse uma pessoa, seria Kamala Harris
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Se a ideologia woke fosse uma pessoa, seria Kamala Harris

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Alexandre Borges
8 minutos de leitura 23.07.2024 09:46 comentários
Análise

Se a ideologia woke fosse uma pessoa, seria Kamala Harris

A eleição americana deste ano é uma batalha pelo coração do Ocidente e pelo futuro da engenharia social e do elitismo woke

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Alexandre Borges
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Se a ideologia woke fosse uma pessoa, seria Kamala Harris
Imagem: IA por Alexandre Borges

A escolha-relâmpago de Kamala Harris, que provavelmente vai substituir Joe Biden na corrida presidencial mais importante do mundo este ano, incomodou lideranças importantes do Partido Democrata como Barack Obama e personificou, de maneira exemplar, as famigeradas políticas “DEI” (Diversidade, Equidade e Inclusão) e a ideologia woke, uma agenda de engenharia social das elites urbanas que criaram um abismo em relação ao senso comum do cidadão médio das principais democracias ocidentais.

Analistas relataram que Kamala Harris foi escolhida para a vice-presidência na chapa de Biden em 2020 não por suas qualificações ou méritos, mas por sua identidade racial e de gênero, uma concessão dos velhos democratas a nova ala radicalmente esquerdista do partido.

Para muitos, a escolha de Harris exemplifica o “tokenismo”, onde a diversidade é priorizada em detrimento da competência, criando desequilíbrios com consequências sociais ainda pouco entendidas. As políticas de DEI, patrocinadas por algumas das maiores corporações transnacionais, criam uma discriminação reversa radical, exacerbando tensões raciais e sociais e criando um ambiente de constante vigilância e censura. O enfoque obsessivo na identidade ao invés do mérito é uma ameaça aos valores fundadores que criaram o país mais livre e próspero da história da humanidade.

Uma obra de engenharia social desta magnitude não é possível sem suprimir a liberdade de expressão para impor uma conformidade ideológica rígida. A cultura do cancelamento é uma ferramenta de censura que marginaliza e silencia vozes discordantes, contribuindo para um ambiente de medo e autocensura distópica, como numa ficção orwelliana.

A agenda é bancada pelo “capitalismo woke”, a orientação de alguns dos maiores conglomerados empresariais do mundo de priorizar agendas “progressistas” em detrimento dos interesses dos acionistas e da eficiência empresarial que leva produtos mais acessíveis e inovadores a mais pessoas.

Em paralelo, há a introdução dos conceitos woke nas escolas, especialmente a teoria crítica da raça, que é pura doutrinação ideológica. Essa abordagem educacional ensina as crianças a ver o mundo através de uma lente divisiva e racialista, promovendo o ressentimento ao invés da compreensão e da unidade. Alguns analistas, inclusive dentro do Partido Democrata, argumentam que o extremismo woke está prejudicando o partido ao alienar eleitores moderados.

Kamala Harris foi classificada como a senadora mais esquerdista dos EUA em 2019, superando até o abertamente socialista Bernie Sanders, conforme um relatório da GovTrack. A análise destacou seu alinhamento com iniciativas de extrema-esquerda e uma baixa participação em projetos suprapartidários, reforçando sua imagem de radicalismo ideológico.

Durante seu tempo como senadora pela Califórnia, Harris teve um índice de participação em projetos suprapartidários de apenas 15% e um dos maiores índices de ausência em votações. Esse histórico ilustra sua inclinação para políticas extremistas, ideológicas e divisivas. Donald Trump já disse que ela é mais fácil de vencer que Biden e, pelo seu histórico, é fácil entender de onde vem a opinião.

A derrota de Hillary Clinton em 2016 para Donald Trump é um exemplo de como a desconexão entre as elites costeiras e a classe média do interior pode impactar uma eleição presidencial nos EUA. Clinton, com suas agendas desconectadas da realidade do cidadão comum e a classificação de metade do eleitorado como uma “cesta de deploráveis”, alienou muitos eleitores que se sentiram desrespeitados e negligenciados pelas elites “progressistas”. e suas agendas de engenharia social radicais.

Nos últimos 20 anos, a classe média americana encolheu significativamente, e muitos americanos do interior sentem que as elites costeiras não se importam com suas preocupações. As elites costeiras são vistas como desconectadas das realidades e valores do “coração da América”. A classe trabalhadora branca sem formação acadêmica tende a ser mais pessimista em relação ao futuro e a escolha de J.D. Vance para companheiro de chapa de Trump é um claro aceno a esse público marginalizado.

Christopher Lasch, em sua obra clássica “A Revolta das Elites e a Traição da Democracia”, ofereceu de forma pioneira uma análise incrivelmente premonitória sobre as consequências sociais, econômicas e políticas da desconexão entre as elites costeiras americanas e a classe média do interior.

Ele argumentou que as elites americanas, especialmente as costeiras, traíram seus deveres cívicos e morais, perdendo valores fundamentais e abandonando a classe média e os pobres. Ele identifica a mídia e as instituições educacionais como grandes responsáveis pelo problema, contribuindo para o aumento da divisão social.

Lasch defende um retorno à moralidade e aos ensinamentos religiosos como forma de combater a crise social, criticando severamente o aumento da desigualdade econômica entre as classes, visto como uma ameaça à coesão social americana. Em “A Cultura do Narcisismo”, outra obra iluminada, Lasch disse que a sociedade americana desenvolveu uma personalidade coletiva consistente com o narcisismo patológico, associando muitos problemas sociais ao declínio da estrutura familiar tradicional.

Sua crítica é apartidária, observando lições da história americana de maneira lúcida e sábia. Lasch clama por um retorno à comunidade e por escolas que ensinem história em vez de “autoestima”, visando reconectar as elites com o resto da sociedade. Suas ideias continuam uma referência importante para quem quer entender a crise atual e a ascensão do populismo, mostrando que as raízes desses problemas remontam ao século XIX e rejeitando interpretações simplistas que culpam apenas as mudanças culturais recentes.

Mark Lilla, professor de História das Ideias na Universidade de Columbia, é outro crítico importante das políticas radicais de identidade e da direção atual do progressismo nos Estados Unidos. Lilla, um autodeclarado progressista, argumenta que a ênfase nas políticas de identidade fragmentou o “liberalismo” americano. Ele acredita que essa ruptura impede o progressismo de se tornar uma força governante coesa e eficiente.

Lilla observa que a obsessão com a identidade alienou a classe trabalhadora branca, que se sente negligenciada e desrespeitada pelas elites culturais e políticas. Ele defende um retorno a um progressismo universal que enfatize os direitos e deveres comuns de todos os cidadãos, em vez de focar nas diferenças de identidade. Ele acredita que essa abordagem é essencial para reconquistar a base eleitoral perdida e promover a unidade nacional.

Após a eleição de Donald Trump em 2016, Lilla publicou um artigo no The New York Times pedindo que a esquerda abandonasse a “era do liberalismo identitário”. Ele defendeu que a fixação em questões de identidade contribuiu para a derrota eleitoral dos democratas, pois afastou eleitores que não se identificam com essas políticas.

Lilla também critica a intolerância extremista de ativistas progressistas, que, segundo ele, promovem uma cultura de cancelamento que sufoca o debate e a liberdade de expressão. Ele foi um dos signatários de uma carta aberta publicada na Harper’s, que denunciava essa intolerância e defendia o direito de discordar sem medo de repercussões profissionais.

Em seu livro, Lilla divide a política americana moderna em duas eras: a “era Roosevelt”, que enfatizava as obrigações mútuas dos cidadãos, e a “era Reagan”, que promovia o individualismo e via o governo como um problema. Ele vê a política de identidade como uma continuação inconsciente do individualismo da era Reagan. Lilla argumenta que, em vez de avançar para o século XXI, os EUA retornaram ao século XIX, uma época de fervor e divisão social. Ele sugere que a solução para os problemas atuais reside em um retorno aos valores comunitários e cívicos.

Os críticos sugerem que o melhor antídoto para a ideologia woke é “conhecer a verdade” e promover uma narrativa alternativa baseada em valores comprovados pela passagem do tempo e pelo senso comum. Para eles, a defesa da liberdade de expressão e do debate aberto é essencial para combater o que consideram ser um movimento autoritário e divisivo.

Esta perspectiva vê a ascensão de Kamala Harris, as políticas de DEI e a ideologia woke como parte de uma agenda extremista mais ampla que ameaça os fundamentos da sociedade tradicional americana.

A eleição americana deste ano é uma batalha pelo coração do Ocidente e pelo futuro da engenharia social e do elitismo woke, suas políticas de importação de mão de obra barata para suas corporações e pelo achatamento e humilhação da classe média, empurrada para a pobreza, desesperança e, muitas vezes, para o radicalismo ideológico populista como forma de resistência. Há muito mais em jogo do que parece.

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