Roberto e Gabriel formam nova dupla do BC por juros mais altos
Discursos afinados entre o presidente do BC e o diretor de Política Monetária têm ajudado a controlar escalada do dólar
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e o diretor de Política Monetária da autarquia, Gabriel Galípolo, estão trabalhando afinados nas comunicações públicas. A dupla, que se apresentou separadamente em diferentes eventos, foi uníssona em garantir que a autoridade monetária não será leniente com o combate à inflação.
O tom mais grave adotado pelo atual presidente do BC era bastante conhecido e puxou a visão mais austera da autarquia meses atrás, indicando o cenário externo mais incerto como motivo para reduzir o ritmo de queda da Selic e depois na manutenção da taxa básica de juros no patamar atual de 10,50% ao ano.
A surpresa da temporada, no entanto, ficou com o indicado de Lula e favorito para suceder Campos Neto a partir do ano que vem no comando da política monetária nacional. Gabriel Galípolo tinha adotado uma postura mais diplomática sobre o assunto, que parte dos analistas enxergava como uma espécie de excesso de cuidado para não incomodar o Planalto.
A adoção do timbre mais autoral, recentemente, trouxe alívio ao mercado financeiro, que teme uma composição de diretoria do BC pouco comprometida com o combate à inflação a partir de janeiro do ano que vem. Na virada de 2024, a maioria dos membros do colegiado terá sido indicada por Lula e, dada as falas veementes do petista contra a política do BC de juros alto, esperava-se um grupo mais conivente com a pressão sobre os preços.
Nas participações públicas da segunda-feira, 12, Campos Neto falou a economistas e estudantes em inaguração de novo Campus da FGV (Fundação Getúlio Vargas). Galípolo falou para analistas em evento da corretora Warren Investimentos. Ambos deixaram o mesmo recado: uma alta da Selic no próximo encontro do Copom (Comitê de Política Monetária) é uma possibilidade real, mas dependerá dos dados econômicos até lá.
Para desespero da ala petista mais aguerrida à difamação do presidente do Banco Central, apontado como sabotador do governo Lula em função dos juros altos, Galípolo está ensaiado e faz a segunda voz da autarquia com autoridade. “A alta (da Selic) está na mesa, sim, do Copom, e a gente quer ver como isso vai se desdobrar” .
O mercado gosta do que vê, e o resultado é a queda do dólar, que voltou a fechar abaixo de 5,50 reais na segunda-feira, 12, após quase um mês. Por outro lado, os juros seguem apertados e a precificação de mercado na curva futura aponta para uma alta na taxa básica de juros de 0,25 ponto percentual na próxima reunião do colegiado. As apostas para as opções de Copom negociadas na B3 relativas À decisão do mês que vem ainda são majoritárias na manutenção da Selic em 10,50% (46%), seguidas por 31% de chance de uma alta de 0,50 p.p. e 23% de uma correção em +0,25 p.p..
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