O rei Arthur Lira está nu
Disputa pela presidência da Câmara ganha outros personagens e vê o atual detentor do cargo a reboque das principais decisões
A política brasileira é feita de lobos, leões e raposas. E Nicolau Maquiavel, no distante século XVI em O Príncipe, já ensinava: “Sendo obrigado a agir como um animal, deve o príncipe valer-se das qualidades da raposa e do leão, pois o leão não sabe se defender das armadilhas, e a raposa não consegue defender-se dos lobos. É preciso, portanto, ser raposa para conhecer as armadilhas e leão para afugentar os lobos.”
Arthur Lira, desde o início do ano, tentou agir como uma raposa ao comandar a própria sucessão na presidência da Câmara dos Deputados. Ele conhecia bem as armadilhas, tentou afastar todos os lobos e rugia para manter a sua influência entre seus pares. O plano, no entanto, parece ter ido por água abaixo. A questão é que, assim como ele, existem outras 512 raposas naquela mesma Casa, que sabem exatamente como funcionam esse jogos de poder em Brasília.
Talvez o erro de Lira tenha sido justamente esse: subestimar seus caros colegas. A entrada do líder do Republicanos, Hugo Motta, na disputa pela presidência da Câmara embaralhou o jogo e denota uma clara derrota para o então poderoso Lira.
O plano de Lira era simples, embora ousado: ele endossaria uma candidatura, dava sinal de forças ao Palácio do Planalto, fazia uma transição tranquila e sem sobressaltos e ainda saia do processo com a titularidade de um ministério – provavelmente o das Cidades. Tudo em casa. Esse movimento, diga-se, foi adiantado por Crusoé ainda no primeiro semestre de 2023.
Mas as coisas saíram dos trilhos porque faltou combinar com os russos. Leia-se Gilberto Kassab – presidente do PSD, Lula, Ciro Nogueira – presidente do PP e Marcos Pereira – presidente do Republicanos.
Há aproximadamente duas semanas, Lira conversou com líderes parlamentares e com Lula indicando que iria endossar a candidatura de Elmar Nascimento. Era a senha que os demais precisavam para correr atrás de um nome alternativo e que fosse palatável ao Palácio do Planalto. Lula nunca engoliu o nome de Elmar. O petista tinha receio de que o parlamentar baiano endurecesse as relações entre Planalto e Legislativo, reduzindo ainda mais o poder de influência do governo federal sobre os deputados.
Qual foi a solução? Lula incentivou Kassab a buscar uma alternativa e ele manterá a candidatura de Antonio Brito; Pereira reagiu e indicou Hugo Motta (Republicanos-PB) com as bênçãos de Ciro Nogueira, formando uma coalização de partidos como Republicanos, PP e até PL de Jair Bolsonaro.
Tudo isso sem o aval de Lira.
O atual presidente da Câmara ficou a reboque nesse processo e agora tenta dar as cartas e mostrar alguma força ao Palácio do Planalto. Lula, que sempre tentou negociar junto aos presidentes de partidos, tem uma oportunidade de ouro nas mãos. Caso a candidatura de Motta seja avalizada pelos demais partidos, Lula terá um alado no comando da Câmara e, o melhor, sem a obrigatoriedade de dar um ministério a Lira.
Lira tentou a todo o custo não repetir os erros de Rodrigo Maia. Até conseguiu por determinado momento. Agora, seu destino é absolutamente imprevisível. Até segunda ordem. Afinal de contas, na política brasileira, tudo pode mudar em questão de dias.
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