O dilema do presidente do Banco Central O dilema do presidente do Banco Central
O Antagonista

O dilema do presidente do Banco Central

avatar
Rodrigo Oliveira
4 minutos de leitura 31.07.2024 08:46 comentários
Análise

O dilema do presidente do Banco Central

Campos Neto em busca da sintonia fina do cocheiro de Pinheiro Machado: "Nem tão devagar que pareça afronta, nem tão depressa que pareça medo"

avatar
Rodrigo Oliveira
4 minutos de leitura 31.07.2024 08:46 comentários 0
O dilema do presidente do Banco Central
Roberto Campos Neto. (Foto: Reprodução/YouTube)

Roberto Campos Neto e os oito diretores da autoridade monetária brasileira se reúnem nesta quarta-feira, 31, para o segundo e último dia de reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) em que avaliam as condições econômicas do país e definem qual a taxa de juros adequada para manter a inflação sob controle.

Embora não haja dúvidas entre os investidores de que a autarquia manterá a Selic em 10,50% ao ano, o colegiado ainda tem um anúncio complicado para fazer. A decisão das reuniões do Copom são informadas via um comunicado oficial, que traz a posição que levou o grupo à decisão. No texto, figura apenas aquilo que é consenso entre os membros.

O documento serve com uma bússola um farol para o mercado: clareia a situação corrente e aponta qual direção o BC deve seguir. Desde a última reunião, em junho, no entanto, as condições se deterioraram rapidamente, e o mercado passou a temer uma mudança de rota.

A precificação da curva de juros futuros, que exprime as taxas vistas como adequadas pelos investidores para os empréstimos em diversos lapsos temporais, indica uma Selic em 11,50% a.a. até o fim de 2024, isto é, com altas de 0,25 ponto percentual em todas as reuniões do Copom de setembro a dezembro.

O mercado precificava +0,75 p.p. de reajuste na reunião anterior, mas as expectativas contiuaram a piorar. Entre os motivos estão a alta do dólar, que avançou de 5,30 reais (pela metodologia adotada pelo Comitê) para algo em torno de 5,55 reais agora, e a deterioração das contas públicas, com um rombo primário muito acima do esperado.

A depreciação do real piora os termos de troca no comércio internacional e faz com que o país pague mais caro naquilo que importa, o que pressiona os preços por aqui e torna o processo de controle da inflação mais difícil. O déficit fiscal faz com que a dívida pública cresça em um ritmo que pode impulsiona os credores brasileiros a exigirem mais prêmio para emprestar o dinheiro que financia o governo. Além disso, o dinheiro gasto “a mais” pelo governo impulsiona o consumo e também pressiona a inflação.

O problema do Copom agora é incluir o risco fiscal no balanço de riscos da autoridade monetária sem confirmar as expectativas mais pessimistas do mercado. No balanço de riscos, o BC considera tudo que pode afetar positiva ou negativamente a trajetória da inflação e, consequenetemente dos juros.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, sabe que o recado desta quarta-feira, 31, precisa ser calibrado de forma a assegurar à sociedade que o colegiado permanece vigilante e comprometido com levar a inflação para a meta de 3%, mas não pode alimentar as apostas de que serão necessários novos aumentos na Selic no curto prazo.

Se errar no tom, o BC passará a ser passageiro no processo e as distância entre as expectativas do mercado e da autarquia serão tamanha que a autarquia se verá obrigada a atender ao mercado com alta de juros somente para comprovar o comprometimento. E tudo isso, sem contar o risco de o Lula voltar à carga sobre a necessidade de responsabilidade fiscal.

No texto, que sairá mais tarde, Campos Neto vive o dilema do cocheiro da carruagem de ex-senador Pinheiro Machado que, precisando passar por uma multidão enfurecida que impedia o acesso ao Senado, ouviu do parlamentar a instrução para travessia “Nem tão devagar que pareça afronta, nem tão depressa que pareça medo“.

  • Mais lidas
  • Mais comentadas
  • Últimas notícias
1

PF indicia Bolsonaro e mais 36 por tentativa de golpe de Estado

Visualizar notícia
2

Cid implica Braga Netto para salvar delação premiada

Visualizar notícia
3

Moraes mantém delação premiada de Mauro Cid

Visualizar notícia
4

Putin comenta lançamento de míssil e ameaça o Ocidente

Visualizar notícia
5

O papel dos indiciados em suposta tentativa de golpe de Estado

Visualizar notícia
6

Gonet foi contra prisão de Cid após depoimento a Moraes; militar foi liberado

Visualizar notícia
7

Agora vai, Haddad?

Visualizar notícia
8

Crusoé: Thomas Sowell está vivo, Elon

Visualizar notícia
9

Tarcísio defende Bolsonaro contra “narrativa disseminada”

Visualizar notícia
10

Para Bolsonaro, Moraes age contra lei e usa "criatividade" em denúncias

Visualizar notícia
1

‘Queimadas do amor’: Toffoli é internado com inflamação no pulmão

Visualizar notícia
2

Sim, Dino assumiu a presidência

Visualizar notícia
3

O pedido de desculpas de Pablo Marçal a Tabata Amaral

Visualizar notícia
4

"Só falta ocuparem nossos gabinetes", diz senador sobre ministros do Supremo

Visualizar notícia
5

Explosões em dispositivos eletrônicos ferem mais de 2.500 no Líbano

Visualizar notícia
6

Datena a Marçal: “Eu não bato em covarde duas vezes”; haja testosterona

Visualizar notícia
7

Governo prepara anúncio de medidas para conter queimadas

Visualizar notícia
8

Crusoé: Missão da ONU conclui que Maduro adotou repressão "sem precedentes"

Visualizar notícia
9

Cadeirada de Datena representa ápice da baixaria nos debates em São Paulo

Visualizar notícia
10

Deputado apresenta PL Pablo Marçal, para conter agressões em debates

Visualizar notícia
1

Mandado contra Netanyahu não tem base, diz André Lajst

Visualizar notícia
2

Bolsonaro deixou aloprados aloprarem?

Visualizar notícia
3

Trump nomeia ex-procuradora da Flórida após desistência de Gaetz

Visualizar notícia
4

PGR vai denunciar Jair Bolsonaro?

Visualizar notícia
5

Tarcísio defende Bolsonaro contra “narrativa disseminada”

Visualizar notícia
6

Agora vai, Haddad?

Visualizar notícia
7

"Não faz sentido falar em anistia", diz Gilmar

Visualizar notícia
8

A novela do corte de gastos do governo Lula: afinal, sai ou não sai?

Visualizar notícia
9

Líder da Minoria sobre indiciamentos: "Narrativa fantasiosa de golpe"

Visualizar notícia
10

Fernández vai depor na Argentina sobre suposto episódio de violência doméstica

Visualizar notícia

Assine nossa newsletter

Inscreva-se e receba o conteúdo do O Antagonista em primeira mão!
< Notícia Anterior

Operação Multicontas desarticula esquema de fraudes bancárias

31.07.2024 00:00 4 minutos de leitura
Próxima notícia >

Copa do Brasil: São Paulo vence Goiás e abre vantagem nas Oitavas. Veja os gols

31.07.2024 00:00 4 minutos de leitura
avatar

Rodrigo Oliveira

Jornalista pela UnB (Universidade de Brasília), pós-graduado em Marketing &amp; Mídias Digitais pela FGV (Fundação Getúlio Vargas) e especializado em finanças e negócios. É Analista de Valores Mobiliários (CNPI) certificado pela Apimec (Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais) com quatro anos de experiência profissional no mercado financeiro.

Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.

Comentários (0)

Torne-se um assinante para comentar

Notícias relacionadas

A folha, a árvore, a floresta e Jair Bolsonaro

A folha, a árvore, a floresta e Jair Bolsonaro

Ricardo Kertzman Visualizar notícia
Crusoé: E agora, Amorim? Sete países reconhecem González como presidente eleito

Crusoé: E agora, Amorim? Sete países reconhecem González como presidente eleito

Duda Teixeira Visualizar notícia
Crusoé: Por que Trump escolheu ex-diretora do WWE para comandar a Educação

Crusoé: Por que Trump escolheu ex-diretora do WWE para comandar a Educação

Duda Teixeira Visualizar notícia
Crusoé: Só não pode chamar de Nova Rota da Seda

Crusoé: Só não pode chamar de Nova Rota da Seda

Duda Teixeira Visualizar notícia
Icone casa

Seja nosso assinante

E tenha acesso exclusivo aos nossos conteúdos

Apoie o jornalismo independente. Assine O Antagonista e a Revista Crusoé.