O COI esmagou os direitos e os sonhos de uma lutadora
Não é preconceito contra os LGBT dizer que mulheres têm o direito de perseguir suas ambições olímpicas competindo somente entre iguais
Recuso a ideia de que seja um preconceito odioso impedir que mulheres trans ou pessoas intersexo compitam nas categorias femininas de eventos esportivos de alto nível, como as Olimpíadas.
Nesta quinta-feira, 1, foi triste ver o desfecho dos Jogos para a boxeadora Angela Carini.
Em 45 segundos no ringue com a sua adversária, a argelina intersexo Imane Khelif, a italiana concluiu que não fazia sentido continuar: havia entre elas uma diferença física que mesmo toda uma vida dedicada ao esporte não lhe permitiria superar.
Essa diferença não se deve ao treinamento que Imane possa ter feito, mesmo admitindo que ela seja uma atleta comprometida. Tampouco se deve às variações biológicas que existem entre mulheres, mas à disparidade muito maior e impossível de anular, no esporte de alto nível, entre um corpo maculino e um corpo feminino.
A biologia não é irrelevante
Ao comentar a luta no X, a escritora J. K. Rowling criticou Imane Khelif por supostamente exibir nos lábios “o sorrisinho afetado de um homem que se sabe protegido por um establishment misógino”.
Não foi o que vi no rosto na argelina e nem acho que os canhões devam ser apontados contra ela. Não faz sentido descrever como privilegiada uma pessoa que nasceu com características dos dois sexos em um país que põe gays na cadeia, como a Argélia.
São os organizadores das Olimpíadas que merecem ser criticados. Mas também não acho que misoginia seja a palavra certa para descrever sua atitude.
Quem considera justo pôr Imane e Carine no mesmo ringue capitulou diante da falácia de que toda identidade é uma “construção social” e de que a biologia pode ser tratada como irrelevante em quaisquer circunstâncias.
Não pode.
Ambições esmagadas
Estou completamente de acordo com Rowling em outra parte de sua postagem: quando ela diz que as ambições de vida da atleta italiana foram esmagadas no momento em que ela se deparou com uma oponente que jamais teria chance de vencer.
O que exigir de lutadoras como Carine, se a regra daqui em diante for bater-se com mulheres trans ou intersexo em todas as grandes competições? Que passem a usar dopping, deixando de lado a ética esportiva? Que implantem órgãos biônicos? O que se conformem com a impossibilidade de vencer?
A obrigação primária de quem organiza eventos esportivos não é promover a justiça social, é promover disputas justas em cada modalidade.
Há inúmeras arenas em que as diferenças entre sexos podem e devem ser ignoradas, mas o esporte não é uma delas.
A justiça no esporte depende de que certas circunstâncias ditadas pela natureza sejam reconhecidas e acatadas.
E o etarismo?
Dias atrás, escrevi sobre o fato de o presidente americano Joe Biden ter sido empurrado para fora da disputa eleitoral nos Estados Unidos por causa de sua idade.
Embora tenha havido alguma discussão sobre etarismo – o preconceito contra gente velha – a esquerda americana, sempre pronta a negar as realidades da natureza, não se levantou em massa para defender Biden.
Talvez tenha sido por mero cálculo político, medo de perder as eleições para Trump.
Talvez seja porque jovens woke também tenham preconceitos – contra velhos ou pessoas que pensam diferente, por exemplo.
Suspeito, contudo, que tenha sido por reconhecerem implicitamente o fato de que o corpo também tem suas verdades.
Não é preconceito dizer que Biden não reúne as melhores condições físicas para enfrentar mais quatro anos de presidência.
Não é preconceito dizer que mulheres têm o direito de perseguir seus sonhos olímpicos competindo entre iguais.
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