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Não tentem descolar Zambelli de Bolsonaro

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Carlos Graieb
5 minutos de leitura 23.04.2024 16:47 comentários
Análise

Não tentem descolar Zambelli de Bolsonaro

Com denúncia da PGR contra a deputada, esforço para desassociar o ex-presidente dela deve aumentar

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Carlos Graieb
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Não tentem descolar Zambelli de Bolsonaro
Foto: Marcos Corrêa/PR

A denúncia oferecida pela PGR contra Carla Zambelli nesta terça-feira, 23, deve torná-la definitivamente uma intocável para Jair Bolsonaro e seu grupo mais próximo. Desde o ano passado o ex-presidente vinha levantando uma barreira entre ele e a deputada federal. 

A ação diz respeito à invasão do site do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que o hacker Walter Delgatti Neto teria realizado a pedido de Zambelli. Delgatti acessou o sistema clonando credenciais de funcionários do órgão. Ele disse ter recebido 40 mil reais da parlamentar por esses “serviços”

Zambelli é alvo de outras investigações – por exemplo, por ter ameaçado um homem com uma pistola na véspera da votação de 2022. Bolsonaro alega que esse gesto aloprado teve grande impacto na derrota de sua candidatura à reeleição.

Novos detalhes

Alguns detalhes sobre o hackeamento do site do CNJ já eram conhecidos. Em especial, o fato de haverem expedido um mandado de prisão contra o ministro do STF Alexandre de Moraes com assinatura do próprio Moraes. 

Uma informação revelada nesta terça ratifica, segundo a PGR, a ligação entre Zambelli e Delgatti: cerca de uma hora depois de o mandado falso contra Moraes ter sido criado nos servidores da Justiça, em 4 de janeiro de 2023, o arquivo foi enviado à deputada – e encontrado em poder dela nas diligências da PF. 

Delgatti também emitiu alvarás de soltura falsos para criminosos condenados a muitos anos de cadeia. Entre eles, uma ordem de libertação para o líder do Comando Vermelho no Mato Grosso, o traficante Sandro Silva Rabelo, o “Sandro Louco”. As penas do bandido superam 200 anos de prisão, por crimes que incluem sequestros e homicídios. 

Desmoralização da Justiça

Segundo a PGR, o objetivo do ataque digital ao CNJ era “desmoralizar a Justiça Brasileira”. 

“A denunciada Carla Zambelli exerceu papel central na prática dos delitos relatados. Ela arregimentou o executor dos delitos, Walter Delgatti, mediante promessa de benefícios, com o objetivo de gerar ambiente de desmoralização da Justiça Brasileira, para obter vantagem de ordem política”, afirma o procurador-geral Paulo Gonet. 

A defesa de Zambelli nega tudo, obviamente. Diz que ela não contratou, pagou ou sequer instigou Delgatti a cometer qualquer crime. 

Mas a denúncia tem lastro e o envio de arquivos do CNJ diretamente à deputada é aquele tipo de prova difícil de desacreditar. 

Se Zambelli for condenada, não será pelo que disse, como Daniel Silveira, mas por algo que fez. Uma parlamentar será responsabilizada por patrocinar a invasão de sistemas da Justiça para inserir neles informações falsas. 

É estarrecedor. 

Fiel escudeira

O esforço para distanciar Jair Bolsonaro de Carla Zambelli deve se intensificar daqui em diante. Dirão que qualquer coisa que ela tenha feito foi por iniciativa própria e que o ex-presidente não poderia saber que crimes estavam sendo preparados quando recebeu a deputada e Delgatti para um café da manhã, pondo mais tarde o hacker em contato com o time do PL que procurava desacreditar as urnas eletrônicas. 

É verdade. Do ponto de vista jurídico, não há nada até agora que possa ligar Bolsonaro a essas tramoias. 

O que não se pode negar é que o quadro traçado pela PGR na denúncia contra Zambelli, uma das mais apaixonadas e fiéis escudeiras do ex-presidente, é totalmente compatível com muitos outros incidentes dos anos febris do governo Bolsonaro.

A tentativa de desacreditar a Justiça com ajuda de um hacker é apenas mais um exemplo dos extremos a que o bolsonarismo foi capaz de chegar para prevalecer na política. 

São frutos da mesma árvore a proposta de anular milhões de votos com base numa análise técnica desonesta das urnas eletrônicas e a minuta de golpe apresentada por Bolsonaro aos comandantes das Forças Armadas, com o intuito de seduzi-los para uma intervenção militar.

O sono da razão produz monstros

Recentemente, alguém me acusou de ter “birra” contra o bolsonarismo. Não se trata disso. O problema é que o entorno de Bolsonaro trabalha o tempo todo para dissociar a sua imagem da realidade. Na manifestação do último domingo, 21, no Rio de Janeiro, ele foi apresentado como um herói cheio de testosterona por Nikolas Ferreira e, pior ainda, como líder escolhido por Deus por pastores evangélicos. 

Diante desse esforço para transformar Bolsonaro num ser de outro mundo, é preciso um esforço no sentido contrário, para mostrar o húmus de mesquinharia, desonestidade e ambição política irrestrita onde o movimento está enraizado. 

É preciso insistir nos fatos, porque como disse o pintor espanhol Francisco Goya, no século XVIII, o sono da razão produz monstros, em vez de anjos.  

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Carlos Graieb

Carlos Graieb é jornalista formado em Direito, editor sênior do portal O Antagonista e da revista Crusoé. Atuou em veículos como Estadão e Veja. Foi secretário de comunicação do Estado de São Paulo (2017-2018). Cursa a pós-graduação em Filosofia do Direito, da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).

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