Marçal mia para o PCC e ruge para a Justiça
Se for eleito à prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal não governará sozinho – e o grupo que o cerca é da pior espécie
Se Pablo Marçal for eleito prefeito de São Paulo, quem serão seus auxiliares? Quem cuidará do sistema de saúde, quem ocupará a Secretaria de Educação? A segurança será entregue a qual grupo? E os transportes?
Mencionei algumas áreas que dizem respeito ao dia a dia das pessoas, mas existe também a cozinha da administração pública: as finanças, a gestão jurídica, a gestão política. Quem vai ficar responsável por tudo isso?
Ninguém sabe, porque Pablo Marçal faz sua campanha como se o prêmio fosse o trono de Rei Sol da Paulistânia e não um cargo de prefeito, que requer equipes com qualificação técnica e, se possível, experiência para apoiá-lo.
Ninguém governa sozinho
“Nós estamos sozinhos, nós, o povo e Deus”, tem dito Marçal, lembrando que preferiu se manter “puro” em vez de fazer alianças e coligações políticas.
Bem, não é exatamente assim. Marçal não está sozinho Ele está com o PRTB, um partido cujas conexões estreitas com o PCC, ao menos em São Paulo, vêm sendo reveladas. O natural, portanto, é que ele entregue uma parte da gestão da cidade às lideranças da legenda.
Alguém que foi seduzido pela lábia de Marçal talvez diga que o partido é apenas um veículo necessário para ele atravessar o período de eleições. Se ele chegar ao poder, não precisa ficar acorrentado ao PRTB, assim como Jair Bolsonaro mandou às favas o PSL depois de alcançar a presidência.
Sério mesmo? Será que é tão fácil assim livrar-se de figuras como Leonardo Avalanche, que se gaba num áudio das suas ligações com o crime organizado e que agora também é acusado de ameaçar gente de morte e de ter cometido fraudes para – atenção – se apossar do comando do partido na capital paulista?
Conformado com o PCC
Além disso, quais sinais deu Pablo Marçal até este momento de que governaria com gente qualificada?
Ele já disse que “o PCC está em todo lugar” – mostrando-se ou conformado, ou confortável com essa situação.
Fora isso, suas declarações mais enfáticas sobre o assunto foram feitas na sexta-feira, 23, durante uma sabatina na TV Record. “Todos do meu partido que tiverem qualquer ligação com quem quer que seja, pau nesses bandidos”, disse ele.
São miados quase inaudíveis, comparados aos rugidos que Marçal dispara contra qualquer outra coisa ou pessoa que ele veja, realmente, como uma ameaça.
Por exemplo, a Justiça Eleitoral, que ele acusou de perseguição, porque uma sentença interrompeu um esquema de picotagem de vídeos que tem cheiro e gosto de abuso de poder econômico.
Aos bandidos, o miado. À Justiça, o rugido.
“O Sistema”
Com suas bravatas, Marçal se diz pronto a desmontar “o sistema”. Esse é um jeito infantil de pensar na política. Porque depois dos 45 dias de circo eleitoral, vêm quatro anos aborrecidos de governo, que demandam algum tipo de “sistema” para funcionar. São milhares de cargos que precisam ser preenchidos – e que serão inevitavelmente ocupados, ou por gente séria, ou por vigaristas.
Marçal montará o seu “sistema” e os sinais que ele emite são pavorosos, com desprezo pelas leis e instituições, projetos delirantes como o dos teleféricos que interligariam os extremos da cidade, voluntarismo que se acha capaz de recriar o mundo do zero, mas que rapidamente vai esbarrar na dureza da realidade, como aconteceu com Jair Bolsonaro quando achou que poderia governar sem o Congresso.
Pior de tudo, há um bando de hienas rondando os portões da cidade, aguardando a vitória de Marçal para entrar.
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