Marçal fala em “ressuscitar pessoas”, mas só reencarna o messianismo bolsonarista
Contra o anticristianismo de esquerda, o povo cristão acredita em falsos profetas?
O candidato do PRTB à Prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal (PRTB, foto), declarou em entrevista a Igor Coelho, do Flow Podcast, na noite de quarta-feira, 28 de agosto, que já foi em velório para “ressuscitar pessoas” e que, embora tenha sido “um fracassado” nessas tentativas até o momento, acredita que ainda “vá conseguir”.
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O Antagonista transcreve abaixo o trecho do diálogo entre, respectivamente, Marçal e Igor:
— Quem tem a fé cristã, na Palavra fala assim, que quem tiver sinais, vai acontecer sinais, prodígios e maravilhas, e vocês vão fazer obras maiores que Cristo. Eu não tô de brincadeira, eu acredito nisso. E aí, eu já orei pra duas cadeirantes, a outra não foi filmada e ninguém zoou até hoje.
— Mas ela tá sentada na cadeira ainda?
— Tá, cara, não levantou. Eu já orei com dois mortos. Eu já fui no velório pra ressuscitar pessoas. Eu acredito nisso, eu ainda vou ver isso.
— Caralho, Pablo!
— É, o fato de eu ser um fracassado ainda, que as orações não funcionaram, não invalida que eu não vá conseguir. Eu quero ser um cristão que vê isso, porque isso pra mim é um certificado.
— Não. Tu quer ser mais do que cristão, tu quer ser o enviado de Deus, porra! Tu quer acordar morto!
— Mas Ele que falou, tá escrito.
Frases embaralhadas
Na verdade, Jesus Cristo, segundo o apóstolo João, disse em momentos distintos as seguintes frases, embaralhadas na retórica de Marçal:
“Todo aquele que come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e Eu o ressuscitarei no último dia.”
“Aquele que crê em Mim fará também as obras que faço; fará coisas ainda maiores do que estas, porque eu vou para o Pai.”
“Se, porventura, não virdes sinais e prodígios, de modo algum crereis.”
Sinais
Na Bíblia, outros apóstolos também falam em sinais, prodígios e maravilhas, realizados por Jesus. Os sinais podem incluir a mudança da água em vinho nas Bodas de Caná, a cura do filho do funcionário régio em Caná, a multiplicação dos pães na Galileia e a cura do cego de nascença em Jerusalém. Os prodígios, de modo geral, podem ser entendidos como algo que deixa assombrado quem o presencia. As maravilhas podem incluir a grande pesca, a cura de um leproso, a ressurreição de Lázaro e Jesus andar sobre as águas.
Jesus não havia ressuscitado ninguém, nem a Si próprio, quando falou que quem cresse Nele faria o que Ele fazia na Terra e “coisas ainda maiores do que estas”. A reação de Igor, apontando que Marçal “quer ser mais do que cristão”, “quer ser o enviado de Deus”, foi até econômica na segunda parte. Na verdade, Marçal tenta publicamente superar Jesus, antecipando-se a Ele na realização de milagres, apesar do contratempo dos fracassos momentâneos. O candidato do PRTB, já filmado em culto erguendo uma senhora paralítica da cadeira de rodas como se fosse conseguir fazê-la andar, confessa sua atuação para ressuscitar, em dias atuais, “pessoas” que o enviado de Deus, na hipótese de serem as mesmas, só ressuscitará “no último dia”.
A única reencarnação bem-sucedida de Marçal, portanto, é a do messianismo de Jair Bolsonaro, que explora desde 2018 o ressentimento do povo cristão com a esquerda anticristã, envolvida em suborno. O ex-coach condenado por furto qualificado em processo depois prescrito já fez até as pazes com o patriarca do patrimonialismo de gabinete, em nome do combate aos comunistas do Brasil – aqueles aos quais os bolsonaristas se juntaram para retaliar a Lava Jato e afrouxar a legislação penal, a Lei de Improbidade e agora a Lei de Ficha Limpa, além de anistiar os partidos políticos. Só faltou mesmo Marçal citar os alertas bíblicos sobre falsos profetas: lobos devoradores vestidos de ovelhas, que proclamam o que não se cumpre.
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