Enem: Black lives matter, capitalismo malvado e memes perigosos Enem: Black lives matter, capitalismo malvado e memes perigosos
O Antagonista

Enem: Black lives matter, capitalismo malvado e memes perigosos

avatar
Catarina Rochamonte
6 minutos de leitura 04.11.2024 19:26 comentários
Análise

Enem: Black lives matter, capitalismo malvado e memes perigosos

O perfil do aluno nota 1000 do Enem é o carinha descolado de esquerda, antenado com as pautas progressistas da hora, que acompanha a mídia cult e conhece os jargões dos intelectuais da bolha

avatar
Catarina Rochamonte
6 minutos de leitura 04.11.2024 19:26 comentários 1
Enem: Black lives matter, capitalismo malvado e memes perigosos
Reprodução

Nesse domingo, 3 de novembro, ocorreu a primeira etapa do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2024, que consistiu em 45 questões de Linguagem, códigos e suas tecnologias, 45 questões de Ciência Humanas e suas tecnologias e uma proposta de redação de texto dissertativo-argumentativo.

O tema da redação foi “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil”. Dentre os textos motivadores um samba enredo da Mangueira, de 2019, que termina dizendo “Brasil, chegou a sua vez, de ouvir as Marias, Mahins, Marielles, malês” e uma imagem de alunos admirando um grafite de Zumbi dos Palmares.

O problema racial, porém, não se limitou à proposta de redação, mas foi repisado em inúmeras questões ao longo da prova, cujas questões enumerarei, nesse artigo, considerando o caderno verde do Enem.

Os candidatos depararam-se, na questão 68, com um texto que tratava de maneira positiva e elogiosa o movimento ativista americano Black Lives Matter. O fragmento de texto citado abordava a “diversidade do grupo identitário”, sendo a abordagem de tal relação a resposta correta esperada para a questão:

“Black Lives Matter estima as vidas dos negros e negras homossexuais e transexuais, pessoas incapacitadas, negros sem documentos ou com antecedentes criminais, mulheres e as vidas de todos os negros de todo o espectro de gêneros”, dizia o enunciado a ser interpretado.

É lamentável que tal movimento seja apresentado assim de maneira acrítica a milhões de jovens, como se se tratasse de um movimento absolutamente legítimo e incontroverso. Tal não é, entretanto, o caso.

Em meu artigo intitulado “Racismo anti-judaico no Black Lives Matter: Risério tinha razão”, publicado aqui em O Antagonista, em novembro de 2023, comentei uma extensa matéria publicada no jornal suíço Neue Zürcher Zeitung (NZZ) que expôs inúmeras evidências de antissemitismo no referido movimento.

“Os combatentes pela liberdade palestina não são terroristas! Apoiaremos totalmente a resistência na Palestina”, escreveu o Black Lives Matter nas suas redes sociais em 9 de outubro de 2023, logo após o massacre de 7 de outubro perpetrado pelos terroristas do Hamas contra civis em Israel.

Mas remeto o leitor ao meu artigo anterior, deixo de lado a questão que prestou homenagem ao movimento negro radical antissemita e sigo comentando algumas questões da prova do primeiro dia do Enem .

A questão 36 cita “a digital influencer e youtuber criadora de projeto digital Preta Pariu” e seu “experimento” que corroborou o alerta de influenciadores negros de que seus conteúdos têm “muito menos repercussão em suas postagens e nas entregas do seu conteúdo quando comparadas com influenciadores brancos.

O método científico usado nesse experimento deve ter sido a ferramenta de análise de engajamento do Instagram da tal influencer mas, para o Inep, isso é o que menos importa. Importante é se indignar com o fato de que, ao publicar fotos de modelos brancas, a ferramenta estatística “aferiu um aumento de 6.000% em seu alcance.

Meu objetivo aqui não é desmerecer ou desconsiderar as lutas da comunidade negra, mas questionar o porquê do excesso de questões relativas a essa temática em uma prova que, em tese, deveria testar conhecimentos de linguagem e de ciências humanas.

Além das duas questões já citadas, houve ainda uma questão sobre exploração da força de trabalho da população negra (32), outra sobre arte afro-brasileira (35), outra sobre quilombos (51) e ainda outra sobre abolicionismo (75).

Não explicitei acima quais questões estavam na prova de linguagens e quais estavam na prova de ciências humanas porque as provas praticamente se confundem, ambas dependendo apenas de uma mínima capacidade de interpretação de texto para serem bem respondidas. Isso significa que o Enem não cobra quase nada de conhecimentos específicos e que o êxito na prova depende apenas de ler os textos e o mundo através e uma lente politicamente correta e progressista.

Em absolutamente nenhuma questão o estudante é testado em seu conhecimento da norma culta da Língua Portuguesa, mas ele precisará interpretar o texto da questão 8 cujo título é “Falar errado é uma arte, Arnesto!” e o da questão 26, que mostra uma crítica ao preciosismo linguístico.

Em quase nenhuma questão o estudante será testado em seus conhecimentos específicos sobre fatos históricos, mas ele precisará interpretar, na questão 66, um trecho de Eduardo Galeano segundo o qual Bartolomeu de Las Casas, mesmo sendo um frade dominicano, era “o anti-Cristo dos senhores” e inferir que ele era detestado pelos colonizadores.

Em relação ao conteúdo de Geografia não há mapas a analisar, mas há a necessidade de responder, na questão 53, que a cartografia é usada essencialmente para “sustentação de hegemonias territoriais.”

Para continuar gabaritando a prova de ciências humanas o estudante deverá seguir firme e responder que há uma assimetria política na ONU devido ao poder de veto dos grupos permanentes (Q 48), que o capitalismo só pode funcionar tentando reduzir e desumanizar a atividade humana, pois isso é uma contradição interna devido à alienação decorrente da organização do trabalho (Q 49), que os grupos dominantes são responsáveis por uma injustiça epistêmica (Q 62) e que a reflexão provocada pela arte é abandonada pela indústria cultural como parte de um mecanismo de controle social (Q74).

O candidato deverá perseverar na leitura dos infindáveis textos e responder perguntas sobre mudanças climáticas, pobreza menstrual, problematização da masculinização do universo marcial, etc.

Tais exemplos já são suficientes para deixar claro que o perfil do aluno nota 1000 do Enem é, para usar uma expressão do Luís Felipe Pondé, o do “inteligentinho” de esquerda, o carinha antenado com as pautas progressistas da hora, que acompanha a mídia cult e conhece os jargões dos intelectuais da bolha.

Bolha essa que, vez ou outra, estoura quando alguém ousa postar memes nas redes sociais ridicularizando os adeptos dessa nova seita woke.

Um risco que não se pode desconsiderar. Daí a importância estratégica da questão 14 que trouxe o “educativo” texto intitulado “memes e fake news: o impacto na educação das crianças” que lança a seguinte pergunta: “será que todo mundo está conseguindo traduzir as mensagens postadas, curtidas e compartilhadas?

Não. Não estamos conseguindo traduzir. Precisamos de pessoas iluminadas (como a que colocou essa questão no Enem) que façam para nós uma “análise crítica de memes”, abram nossa mente obtusa e faça com que “o que antes era engraçado” seja “visto com outros olhos”. Chamam a isso “letramento político e midiático”.

O Enem só mostra a ponta do iceberg. O fundo do poço da educação brasileira é muito profundo. Creio que dessa geração só se salvarão os autodidatas. O restante vai virar uma massa homogênea estúpida e intolerante que, paradoxalmente, se achará boa o suficiente para salvar o mundo.

  • Mais lidas
  • Mais comentadas
  • Últimas notícias
1

Redação do Enem mostra que o PT não aprendeu nada

Visualizar notícia
2

Crusoé: Dino troca Constituição por inteligência artificial

Visualizar notícia
3

Crusoé: Quantos votos o esquilo sacrificado renderá para Trump?

Visualizar notícia
4

Quem discorda de Applebaum sobre riscos de Trump à democracia

Visualizar notícia
5

Gleisi, a negacionista da crise fiscal

Visualizar notícia
6

MPF apura omissão do governo Lula no combate à Covid

Visualizar notícia
7

Sem Europa, Haddad sinaliza corte de gastos para esta semana

Visualizar notícia
8

E se um esquilo pet assassinado for o fiel da balança entre Trump e Kamala?

Visualizar notícia
9

Ramagem na mira da PF novamente

Visualizar notícia
10

Crusoé: O assassinato de Samuel Paty e o fundamentalismo islâmico

Visualizar notícia
1

‘Queimadas do amor’: Toffoli é internado com inflamação no pulmão

Visualizar notícia
2

Sim, Dino assumiu a presidência

Visualizar notícia
3

O pedido de desculpas de Pablo Marçal a Tabata Amaral

Visualizar notícia
4

"Só falta ocuparem nossos gabinetes", diz senador sobre ministros do Supremo

Visualizar notícia
5

Explosões em dispositivos eletrônicos ferem mais de 2.500 no Líbano

Visualizar notícia
6

Datena a Marçal: “Eu não bato em covarde duas vezes”; haja testosterona

Visualizar notícia
7

Governo prepara anúncio de medidas para conter queimadas

Visualizar notícia
8

Crusoé: Missão da ONU conclui que Maduro adotou repressão "sem precedentes"

Visualizar notícia
9

Cadeirada de Datena representa ápice da baixaria nos debates em São Paulo

Visualizar notícia
10

Deputado apresenta PL Pablo Marçal, para conter agressões em debates

Visualizar notícia
1

Reunião do governo Lula sobre corte de gastos termina sem anúncios

Visualizar notícia
2

A solução perversa de Lula para áreas da Ucrânia invadidas

Visualizar notícia
3

Dino segue escola Moraes de censura

Visualizar notícia
4

Braskem indica como presidente ex-executivo da Odebrecht preso na Lava Jato

Visualizar notícia
5

Câmara acelera PL para prisão preventiva em crimes hediondos

Visualizar notícia
6

Musk é autorizado pela Justiça a doar para eleitores indecisos

Visualizar notícia
7

E se um esquilo pet assassinado for o fiel da balança entre Trump e Kamala?

Visualizar notícia
8

Kamala admite ter arma, mas defende restrições

Visualizar notícia
9

Enem: Black lives matter, capitalismo malvado e memes perigosos

Visualizar notícia
10

Biden 'some' da campanha de Kamala na véspera da votação

Visualizar notícia

Assine nossa newsletter

Inscreva-se e receba o conteúdo do O Antagonista em primeira mão!

Tags relacionadas

enem 2024
< Notícia Anterior

Sthefany Brito proíbe visitas ao filho recém-nascido

04.11.2024 00:00 4 minutos de leitura
Próxima notícia >

Kamala admite ter arma, mas defende restrições

04.11.2024 00:00 4 minutos de leitura
avatar

Catarina Rochamonte

Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.

Comentários (1)

Paulo Pires

04.11.2024 19:37

Perfeito! Nesse caso, somente os pais dos alunos poderão salvá-los dessa militância abjeta, e torná-los seres humanos educados e mais tolerantes!!!


Torne-se um assinante para comentar

Notícias relacionadas

Crusoé: Aposta no voto feminino é incerta para democratas

Crusoé: Aposta no voto feminino é incerta para democratas

Duda Teixeira Visualizar notícia
Redação do Enem mostra que o PT não aprendeu nada

Redação do Enem mostra que o PT não aprendeu nada

Ricardo Kertzman Visualizar notícia
Quem discorda de Applebaum sobre riscos de Trump à democracia

Quem discorda de Applebaum sobre riscos de Trump à democracia

Felipe Moura Brasil Visualizar notícia
Crusoé: Dino troca Constituição por inteligência artificial

Crusoé: Dino troca Constituição por inteligência artificial

Duda Teixeira Visualizar notícia
Icone casa

Seja nosso assinante

E tenha acesso exclusivo aos nossos conteúdos

Apoie o jornalismo independente. Assine O Antagonista e a Revista Crusoé.