Como caem os tiranos?
Livro mostra o que países podem fazer para derrotar ditadores – em vez de ajudá-los, como Lula ajuda Maduro
Comecei a ler How Tyrants Fall (Como Caem os Tiranos), livro recém-lançado do jovem cientista político alemão Marcel Dirsus.
Ele foi elogiado por publicações como The Economist e Financial Times e minha impressão é excelente até agora: o texto é fluente, traz números reveladores e boas histórias (Dirsus fez viagens e entrevistas além de acumular leituras).
Confesso uma pequena trapaça para escrever este artigo: depois da introdução e dos primeiros dois capítulos, pulei direto para o último. Lá se encontram as observações do autor sobre aquilo que nações estrangeiras fazem ou podem fazer quando pretendem induzir a queda de uma ditadura.
O que nações estrangeiras podem fazer
Dirsus analisa toda a gama de possibilidades, inclusive as mais radicais, como intervenções diretas ou o fornecimento de armas para a oposição. Ele adverte, no entanto, que movimentos pacíficos têm quase dez vezes mais chances de conduzir à democracia do que ataques violentos a um regime: 57% versus 6%.
Descartadas as ações de força, sobram medidas destinadas a “desgastar o pedestal do ditador mais rápido do que ele é capaz de consertá-lo”.
São coisas como treinar ativistas, apoiar mobilizações fora do controle estatal, viabilizar o acesso à informação quando o regime promove censura e dar acolhimento a perseguidos políticos.
O papel das sanções
Quanto a sanções econômicas, Dirsus observa que quanto mais personalista o regime, mais eficazes elas tendem a ser. Ditaduras conduzidas por juntas militares ou partidos hegemônicos costumam ser menos vulneráveis a esse tipo de pressão.
Países ricos em recursos como petróleo também estão entre aqueles mais resistentes a sanções, porque sempre haverá recursos para comprar a fidelidade de um círculo de apoiadores.
Ainda assim, sanções podem deixar mais evidente para a população oprimida o quanto um líder autoritário e seu círculo se apropriam de riquezas em detrimento de todos.
“A coerção econômica pode fazer sentido mesmo quando direcionada a estados produtores de petróleo, porque dificultam a vida [de ditadores] que não merecem ter vida tranquila”, afirma Dirsus.
Lula não fomenta a democracia
É claro que enquanto lia o livro eu tinha em mente a relação de Lula com Nicolás Maduro. Será que alguma das ações do governo brasileiro ao menos torna mais custoso para o caudilho preservar seu pedestal?
Você sabe qual a resposta: as ações e declarações do presidente brasileiro não são as de quem deseja ajudar os venezuelanos a alcançar a democracia, mas de quem está feliz em ver Maduro e seu círculo de gângsteres indefinidamente no poder.
Não é apenas que Lula insiste em normalizar o processo eleitoral fraudulento realizado na Venezuela, dizendo que não há “nada de grave” acontecendo no país. Ele também combate as sanções econômicas que tornam mais difícil para Maduro manter o seu aparato de repressão em funcionamento. E colabora com redes de legitimação da ditadura como o Foro de São Paulo – que nesta segunda-feira, 29, se apressou em saudar Maduro por sua “reeleição”, juntamente com o PT.
How Tyrant Falls não fala muito sobre a Venezuela. O país não é uma das especialidades do autor. Quem se interessar, no entanto, pode encontrar no X algumas observações de Dirsus sobre os acontecimentos dos últimos dias. O fio de postagens também ajuda a entender qual a pegada de seu livro.
Segundo ele, o mais importante neste momento é prestar atenção à maneira como as forças de segurança reagem aos protestos contra a farsa eleitoral: “A principal ameaça a líderes como Maduro são os integrantes do núcleo duro de poder. Não as massas nas ruas, mas as pessoas sorrindo para Maduro no palácio presidencial. As eminências pardas, os generais. Se eles romperem com o governo, Maduro estará encrencado.”
Dirsus também repete na rede social uma das ideias centrais de seu livro, que talvez traga algum conforto a quem se angustia vendo uma figura desprezível como Maduro se safar: o companheiro mais íntimo dos ditadores é o medo. Eles sabem que, depois de oprimir o povo, seu destino, caso percam o poder, é “a prisão, ou pior”.
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