Celso Amorim toma invertidas, nos EUA, ao relativizar ditaduras
Ex-embaixador americano apontou falta de credibilidade moral do assessor especial de Lula
O assessor especial de Lula para assuntos internacionais, Celso Amorim (foto), relativizou, com pitadas de antiamericanismo petista, as ditaduras do Irã e da Rússia, e tomou invertidas do ex-embaixador dos Estados Unidos na OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa) Dan Baer, em evento em Washington, na quinta-feira, 18 de julho.
“Eu não concordo com a forma como as mulheres são tratadas no Irã, por exemplo, mas não concordo com a pena de morte, que ainda existe nos Estados Unidos”, equiparou Amorim.
Baer considerou legítimo discordar da pena de morte, mas imoral a falsa equivalência.
“Quando eu servi como embaixador dos EUA, a parte menos favorita do meu trabalho era ter que defender isso. E acho que os EUA deveriam acabar com a prática da pena capital, porque nos torna um ponto fora da curva entre as democracias avançadas. Então vou admitir esse ponto. Eu também direi que traçar uma equivalência entre a pena de morte nos EUA e o regime iraniano não é moralmente respeitável. Eu acho que é uma equivalência ruim. E eu acho que mina a credibilidade moral daqueles que fazem esse tipo de equivalência”, rebateu.
Polícia moral do Irã
A polícia moral do Irã pune mulheres que violam o código de vestimenta do país, como aconteceu com Mahsa Amni, de 22 anos, morta sob custódia do regime em 16 de setembro de 2022, três dias após ter sido presa. Ela usava calças apertadas, e seu hijab (véu islâmico) não cobria completamente os cabelos.
Dias depois, o regime também prendeu duas jornalistas iranianas – Niloufar Hamedi, de 31 anos, e Elaheh Mohamadi, de 36 – que noticiaram a morte de Mahsa Amni, desencadeando uma onda de protestos. Condenadas a penas de prisão por colaborarem com os EUA, conspirarem contra a segurança do Irã e fazerem propaganda contra a República Islâmica, elas só foram soltas em 14 de janeiro de 2024, mesmo assim sob fiança e proibidas de deixar o país até o julgamento da apelação.
A repressão nem sequer é recente. Ebrahim Raisi – que morreu em acidente de helicóptero neste ano, quando era o potencial sucessor do líder supremo, aiatolá Ali Khamenei – integrou em 1988 as “comissões da morte” em duas prisões. Esses tribunais temporários formados por três ou quatro pessoas decidiram quais opositores, que estavam detidos, deveriam ser enforcados. Raisi ficou famoso como “açougueiro de Teerã” por seu papel na morte, em menos de três meses, de mais de 4 mil presos políticos, incluindo mulheres e crianças.
Nas últimas décadas, a única mudança em relação à punição das mulheres acusadas de adultério foi dar ao juiz, a partir de 2013, a liberdade de impor outra forma de execução.
Pena de morte
Já a possibilidade de pena de morte em 27 estados da democracia americana, geralmente por injeção letal, mas eventualmente por enforcamento (como no caso do ex-ditador iraquiano Saddam Hussein), é reservada a casos de condenação por assassinato, notadamente após o devido processo legal.
Celso Amorim, portanto, equiparou a punição eventualmente mortífera de mulheres com cabelos, braços ou pernas à mostra, o enforcamento de presas políticas e o apedrejamento de adúlteras em uma ditadura teocrática à execução de pessoas condenadas por assassinato em regime democrático. É um insulto evidente às mulheres iranianas.
Putin
Amorim também saiu em defesa de Vladimir Putin contra as sanções impostas pelo Ocidente ao regime do ditador que ordenou a invasão da Ucrânia, causando milhares de mortes.
“Você não vai destruir a Rússia. ‘Ah, meu objetivo não é destruir’. Mas o que você está fazendo é nessa direção. Eu não sei exatamente qual é a solução. Eu não quero pregar nenhuma solução. Porque se você entrar na história é muito complicado.”
Dan Baer rebateu de imediato:
“Aqueles que não obedecem à lei gostam de falar sobre história.”
Maduro
No mesmo dia, na TV, Celso Amorim ainda traduziu como “luta de classes, coisas desse tipo” as ameaças do ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, de promover um “banho de sangue” em caso de derrota eleitoral.
Por ter relativizado em 24 horas três ditaduras antimericanas o assessor especial de Lula já pode pedir música. Em nome do combate ao “imperialismo”, o lulismo ajuda Irã, Rússia, Venezuela e outros regimes a legitimarem repressão, invasão e opressão, enquanto vai se tornando cada vez mais conhecido no mundo democrático pela sua falta de credibilidade moral e seu apego aos violadores da lei. É nisso que dá repetir barbaridades fora do cercadinho.
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