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As mórbidas semelhanças entre STF e a Suprema Corte dos EUA 

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Carlos Graieb
3 minutos de leitura 07.06.2024 17:58 comentários
Análise

As mórbidas semelhanças entre STF e a Suprema Corte dos EUA 

Alergia à transparência e aproximação com política partidária maculam imagem dos tribunais nos dois países

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Carlos Graieb
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As mórbidas semelhanças entre STF e a Suprema Corte dos EUA 
Foto; Daniel Lobo, via Flickr

Ministros do STF costumam dizer que comparações com a Suprema Corte dos Estados Unidos (foto) são indevidas.

As tradições jurídicas são diferentes. O volume de casos decidido anualmente não tem equiparação possível (35 mil por aqui; 150 nos EUA). As competências da Corte brasileira, foro até para casos penais, vão muito além das competências da americana, que se dedica quase que inteiramente a verificar a constitucionalidade de atos dos outros poderes.

Tudo isso é verdade. Nas últimas semanas, no entanto, está difícil ignorar as semelhanças.  

Viagens com amigos

Nesta sexta-feira, 7, o juiz Clarence Thomas reconheceu que teve duas viagens pagas em 2019 por um amigo empresário: uma para Bali, outra para um resort na Califórnia. Nos dois casos, coisa de gente fina. A divulgação veio acompanhada de uma nota: ele disse que deixou de declarar os presentes “inadvertidamente” no momento adequado. 

O gesto de Thomas acontece num momento em que a Suprema Corte americana sofre fortíssima pressão para tornar-se mais transparente. Em novembro do ano passado, ela se viu compelida a estabelecer pela primeira vez um código de conduta. 

O folheto de nove páginas diz que os juízes não devem participar de atividades que afetem a dignidade do cargo, ponham em dúvida a imparcialidade de seus votos ou provoquem “desqualificação frequente”.  

Simpatias políticas

As viagens de Thomas, que já haviam sido descobertas pela imprensa, foram um dos estopins para a publicação do código. A viagem de pesca de outro ministro, Samuel Alito, paga por dois políticos republicanos e que também envolveu estadia num hotel de luxo, ampliou a pressão pública.  

Além da alergia à transparência, a percepção de que a Corte americana está cada vez mais afundada na política também a aproxima da sua contraparte brasileira.

Em meados de maio, uma bandeira americana foi hasteada de cabeça para baixo em frente à casa, mais uma vez, do juiz Alito. O gesto tem um significado: indica a crença de que as eleições em que Donald Trump perdeu para Joe Biden foram roubadas e que o país corre perigo. Alito disse que a iniciativa foi de sua mulher. Mas refletiu-se sobre ele, como seria de se esperar. O magistrado foi nomeado pelo ex-presidente americano George W. Bush.

Legitimidade em queda

As confraternizações com empresários e políticos que podem ter interesses na Corte e os melindres com a divulgação de despesas têm paralelos óbvios com fatos recentes no STF.

A bandeira hasteada na casa de Alito faz lembrar a declaração de Luis Roberto Barroso num encontro da UNE: “Nós derrotamos o bolsonarismo!” 

Isso leva à última semelhança. Os dois tribunais mostram déficits de legitimidade. Numa pesquisa Datafolha divulgada em março, 29% dos brasileiros disseram aprovar o trabalho do STF; 28% disseram desaprová-lo e 40% o consideraram regular. Nos Estados Unidos, a avaliação da Suprema Corte nunca foi tão ruim: 61% reprovam o seu trabalho, contra 39% que têm visão favorável dele, segundo pesquisa da Universidade Marquette.  

O STF e a Suprema Corte americana são muito diferentes, mas demandas por transparência e distanciamento da política partidária valem nos dois casos. São, na verdade, imperativos universais. E óbvios.  

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Carlos Graieb

Carlos Graieb é jornalista formado em Direito, editor sênior do portal O Antagonista e da revista Crusoé. Atuou em veículos como Estadão e Veja. Foi secretário de comunicação do Estado de São Paulo (2017-2018). Cursa a pós-graduação em Filosofia do Direito, da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).

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