As fantasias de esquerda e direita
Quem se apega à identidade tribal relativiza a gravidade das condutas individuais
A direita americana, supostamente conservadora, defende um ex-presidente que tentou acobertar com documentos falsos a compra de silêncio de uma atriz pornô, após uma pulada de cerca que saiu cara…
A direita brasileira, supostamente conservadora, defende uma família com histórico de funcionalismo fantasma que, para não ser presa, topou o acordão pela impunidade geral, que rendeu a soltura e a extinção de processos do suposto rival de esquerda…
A esquerda brasileira, supostamente defensora do povo contra as elites, defende um aliado de ditadores estrangeiros e ex-condenado por recebimento de milhões de reais em propina de alguns dos empresários mais ricos do país, que fizeram conluio com agentes públicos e políticos para faturar contratos bilionários.
Quem se atém às condutas individuais em detrimento da identidade tribal percebe o contraste entre a retórica e as atitudes de populistas americanos e brasileiros.
Quem se apega à identidade tribal relativiza a gravidade das condutas individuais, atribuindo a adversários políticos uma perseguição permanente aos líderes do seu rebanho.
Massas de manobra são assim: deixam-se encantar com palavras que despertam o sentimento de pertencimento a um grupo incondicionalmente virtuoso, afastando a consciência individual da verificação da correspondência prática de cada discurso.
De um lado:
• Deus,
• Pátria,
• Família,
• Liberdade.
Do outro:
• Justiça social,
• Igualdade,
• Direitos humanos,
• Democracia.
Os encantadores de serpente de ambos os lados do espectro ideológico, capazes de mobilizar grandes segmentos da sociedade em defesa das bandeiras que dizem defender, estão livres para fraudar, roubar e aliar-se ao que há de pior em seu país e no restante do mundo.
A conciliação das poses de valentão e de vítima, durante o suposto combate a um mal supostamente maior, vem funcionando em diversos países, como EUA e Brasil, mais precisamente no fantástico mundo da propaganda política em bolhas virtuais.
Resta saber se o eleitorado independente tem força para mudar esse jogo antes que o espelho dos populistas se quebre e um não possa mais se limpar na sujeira do outro.
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