A sombra do 8 de janeiro sobre Bolsonaro
Dois anos após os atos de vandalismo nas sedes dos três Poderes, maioria do Brasil enxerga influência do ex-presidente nas invasões, indica pesquisa Genial/Quaest
Pesquisa Genial/Quaest aponta que 86% dos brasileiros condenam os atos de vandalismo de 8 de janeiro de 2023 nas sedes dos três Poderes, em Brasília.
Em fevereiro de 2023, um mês depois do ocorrido, eram 94% os que desaprovavam as invasões, que resultaram em condenações de até 17 anos de prisão para alguns dos envolvidos.
O instituto ouviu 8.598 pessoas de 4 e 9 de dezembro e o levantamento tem margem de erro de 1 ponto percentual.
Diretor da Quaest, Felipe Nunes foi buscar na comparação com a invasão do Capitólio, o parlamento americano, em 6 de janeiro de 2021, uma explicação sobre a pequena queda de reprovação do 8 de janeiro no Brasil — apenas 7% aprovam, pouco mais do que os 4% de fevereiro de 2023.
“Vale comparar os dados do Brasil com o dos EUA. Em jan/21, logo depois da invasão do Capitólio, 9% dos americanos aprovavam os atentados (no Brasil 4%). Um ano depois, a aprovação nos EUA foi a 14% (no Brasil, 6%); e dois anos depois, chegou a 20% (mas no Brasil foi só a 7%)”, comparou.
“Enquanto Biden politizou o debate sobre o 6/1, fazendo com que Rep [republicanos] e Dem [democratas] se comportem como torcedores diante de um jogo de futebol; o governo Lula, a meu ver, tem tratado o assunto na maior parte das vezes com cautela, permitindo que o assunto seja conduzido no tempo do estado democrático de direito”, seguiu Nunes.
Uso político
É uma análise muito generosa com o governo Lula, que prepara mais um palanque para explorar politicamente o 8 de janeiro.
Pode ser que os petistas não tenham sido tão competentes quanto Joe Biden para agitar sua base em relação à invasão das sedes dos três Poderes, mas não se pode negar a intenção de fazê-lo.
É preciso considerar também a força da oposição liderada por Jair Bolsonaro e Donald Trump em cada país, e a eleição o republicano sugere que ele foi mais bem sucedido.
Bolsonaro
Um dado mais interessante da pesquisa é o que aponta a influência de Bolsonaro nos atos de 8 de janeiro.
Quando a primeira pesquisa foi feita, um mês após o quebra-quebra, 53% dos brasileiros achavam que o ex-presidente, que estava em Orlando, Estados Unidos, naquela data, teve algum tipo de influência nos atos.
Em pesquisa de dezembro de 2023, esse percentual tinha caído levemente para 47%, mas voltou a subir para 50% na pesquisa feita no início de dezembro de 2024.
“Se continuarmos”
A reversão da tendência parece ter ocorrido por causa das investigações sobre tentativa de golpe de Estado — a Polícia Federal indiciou 40 pessoas pela trama e a Procuradoria-Geral da República analisa a apresentação de denúncias ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Ao analisar os indícios reunidos pela PF, fica mais fácil entender por que Bolsonaro não interveio para desencorajar a mobilização de seus apoiadores em frente a quartéis após a eleição de 2022.
Em 27 de dezembro de 2022, o então ministro da Defesa Walter Braga Netto, preso desde 14 de dezembro de 2024, ainda trocava mensagens com aliados falando em “se continuarmos” no poder.
Bolsonaro só nomeou o comandante do Exército indicado por Lula no dia seguinte ao envio daquela mensagem por Braga Netto, 28 de dezembro, e para que começasse a atuar interinamente a partir de 30 de dezembro.
Não continuaram
Usados pelo grupo de Bolsonaro na expectativa de permanecer no poder, os invasores das sedes dos três Poderes acabaram sendo usados, depois, pelos ministros do STF como um símbolo, a manifestação física da trama golpista, e foram condenados como se fizessem parte dela — ainda que como massa de manobra, como expuseram algumas das condenações.
Os dados da Quaest também indicam uma decantação das impressões sobre a responsabilidade de Bolsonaro. Caiu de 81% para 55% a quantidade de seus eleitores que não viu qualquer influência dele nos atos de 8 de janeiro; e subiu de 13% para 37% aqueles que a enxergam.
Curiosamente, houve um movimento oposto entre os eleitores de Lula: caiu de 76% para 60% os que acham que houve algum tipo de influência do ex-presidente no quebra-quebra, e subiu de 16% para 29% os que não acham.
Os responsáveis
Dois anos depois dos atos de vandalismo, a impressão que vai se consolidando, longe das emoções do momento, é de que Bolsonaro poderia sim ter feito algo para evitar que aquilo ocorresse.
O ex-presidente ainda não foi julgado — e nem acusado formalmente — pela suspeita de tentativa de golpe, mas o STF já condenou mais de 300 pessoas pelo 8 de janeiro por esse mesmo crime.
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