Governo se esconde atrás de Campos Neto sobre rotativo
O governo colocou o Banco Central como intermediário das negociações com os bancos para achar uma fórmula que reduza os escorchantes 450% anuais de juros no rotativo do cartão de crédito. E o escolhido foi o ex-"aquele cidadão" Roberto Campos Neto....
O governo colocou o Banco Central como intermediário das negociações com os bancos para achar uma fórmula que reduza os escorchantes 450% anuais de juros no rotativo do cartão de crédito. E o escolhido foi o ex-“aquele cidadão” Roberto Campos Neto. O presidente da autoridade monetária foi, ungido pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fazer o trabalho que o Planalto não tem coragem.
Como reduzir as taxas para o rotativo sem causar o mesmo efeito da trapalhada do ministro da Previdência Social, Carlos Lupi? Em março, o pedetista implementou um limite ao juros do consignado e colheu a suspensão da linha de crédito para aposentados e pensionistas do Brasil.
A equipe econômica faz cara de paisagem e assiste de camarote à tentativa de Campos Neto de limitar o parcelado sem juros para tentar reduzir as taxas do rotativo. O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, reforçou, hoje mesmo, que o governo ainda não tem uma posição sobre a limitação do parcelado sem juros no cartão de crédito. No melhor estilo petista, espera para ver que lado o pêndulo vai para então se posicionar. Afinal, como pode o Planalto ainda não ter apresentado um solução ao problema que diz estar entre as prioridades desde antes da posse?
Vale lembrar que pouco mais de um mês atrás, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, bradava aos quatro ventos “Contem Comigo! Estamos juntos na campanha contra a cobrança de juros na compra parcelada do cartão de crédito“. A solução petista? Pois bem, até agora, parece que é Campos Neto.
O presidente do Banco Central voltou a defender a ideia de limitar o número de parcelas sem juros no cartão em reunião com representantes de instituições financeiras e entidades do comércio e de empresas de cartão de crédito. De acordo com ele, a autarquia acredita que essa medida pode ajudar a trazer os juros do rotativo para baixo.
A tese é que com o parcelamento sem juros, os bancos precisam remunerar a operação e os riscos da transação em outra linha. É uma espécie de efeito meia-entrada: para que alguns não paguem, outros terão que pagar mais. Para se ter uma noção do tamanho desse subsídio cruzado, um levantamento feito pelo J.P. Morgan em abril aponta que o volume de crédito remunerado na modalidade cartão de crédito no Brasil é de, apenas, 25%. Isso significa que esse um quarto de pagadores de juros têm que arcar com o custo de toda a operação. Como comparativo, esse número para pares regionais, como Chile, México, Peru e Estados Unidos está, para todos, acima de 60%.
Isso explica parte do problema, mas os bancos argumentam ainda que o risco de financiamentos muito longos é aumentado, o que adiciona ainda mais prêmio às taxas praticadas. Além disso, a inadimplência do rotativo no país beira os 50%, contra algo próximo a 10% em modalidades como o parcelado com juros e o cheque especial.
No entanto, a questão ainda ganha novas complexidades quando se considera o efeito de um limite no número de parcelas sem juros. Afinal, quanto das vendas poderiam ser perdidas, caso o consumidor não tivesse a opção do parcelamento sem juros, uma herança da época do cheque pré-datado?
Ainda de acordo com o relatório do J.P. Morgan, uma queda de 5% a 25% nas vendas em função da redução do parcelamento sem juros pode levar a uma contração entre 0,20% a 0,80% do PIB (Produto Interno Bruto). Se a previsão do Boletim Focus mais recente estiver certa, isso significaria uma queda no crescimento esperado de mais da metade dos 1,50% do ano que vem.
Enquanto isso, o governo assiste a tudo sem se comprometer e, como sempre, pronto para criticar o resultado. Além disso, limitar o parcelamento sem juros a 12 meses está longe de ter um efeito significativo, uma vez que menos de 15% do volume transacionado nessa modalidade está acima de sete meses. Roberto Campos Neto parece estar rapidamente voltando para a posição de “aquele cidadão“.
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