O recado de ‘O Pequeno Principe’ valeria para Bolsonaro
Assim como o desembargador aposentado Sebastião Coelho da Silva roubou a cena no primeiro dia de julgamento dos réus do 8 de janeiro, o advogado Hery Waldir Kattwinkel se tornou o destaque do segundo dia, mas não exatamente pela...
Assim como o desembargador aposentado Sebastião Coelho da Silva roubou a cena no primeiro dia de julgamento dos réus do 8 de janeiro, o advogado Hery Waldir Kattwinkel se tornou o destaque do segundo dia, mas não exatamente pela impetuosidade de sua manifestação. “Diz o pequeno príncipe: os fins justificam os meios”, citou, convicto, o defensor de Thiago de Assis Mathar, repetindo: “Maquiavel. Os fins justificam os meios”. A ironia é fantástica.
Essa ideia não está na obra de Maquiavel, muito menos em O Pequeno Príncipe, de Antoine Saint-Exupéry, como destacou o ministro Alexandre de Moraes. “São obras que não têm absolutamente nada a ver. Mas, obviamente, quem não leu nem uma nem outra, vai no Google e, às vezes, dá algum problema. É o problema do mundo das redes sociais. Então, é realmente muito triste”, criticou o ministro, que se enervou também porque o advogado provocou o ministro Luís Roberto Barroso, atribuindo-lhe a frase “eleição não se ganha, eleição se toma”, de uma fake news clássica.
“Diz o pequeno príncipe: os fins justificam os meios”, diz o advogado Hery Waldir Kattwinkel, que defende um dos réus do 8 de janeiro. Na verdade, ele queria citar 'O Príncipe', de Maquiavel. pic.twitter.com/3uI8Qttr6D
— O Antagonista (@o_antagonista) September 14, 2023
Mas o mais curioso do erro do advogado, que fez questão de dizer que foi aluno do ministro Gilmar Mendes, é que a frase símbolo de O Pequeno Príncipe não faz sentido como recado para os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), a quem ele a dirigia, mas caberia perfeitamente para o ex-presidente Jair Bolsonaro. “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”, diz a raposa ao pequeno príncipe, ensinando-o sobre a importância de atentar para os sentimentos que geramos nos outros.
“Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim o único no mundo. E eu serei para ti única no mundo…”, explica o animal, que conversa com o príncipe sobre sua relação com uma rosa.
Bolsonaro se tornou único para boa parte do Brasil no ano passado, e seguiu alimentando esse sentimento nas pessoas que se amotinaram em frente a quartéis por todo o Brasil após o fim da eleição. Por isso, é visto por investigadores como responsável pelos eleitores que cativou e que defenderam uma intervenção militar após o fim de seu governo. Como a intervenção não veio, eles descontaram suas frustrações nas sedes dos Três Poderes, em atos interpretados pela Justiça brasileira como a tentativa de um golpe de Estado.
O ex-presidente se defende. Nesta semana mesmo, deu uma entrevista destacando mais uma vez que permaneceu calado durante o período em que seus apoiadores cobraram uma atitude das Forças Armadas diante da posse iminente de Lula. Bolsonaro nega que tenha qualquer coisa a ver com a depredação do 8 de janeiro. A raposa discorda, lembrou-nos hoje o advogado de um dos réus responsabilizados pelo vandalismo.
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