Agamenon: O Rei no céu
Como sou um jornalista morto de fome, que topa qualquer parada, fui convidado pelo O Antagonista para ir até o Além com a missão de cobrir a chegada do Rei Pelé no Céu com exclusividade. Experiente e viajado, já estive em todos os cantos do planeta, mas esta é a primeira vez que faço uma reportagem direto do "outro mundo"...
Como sou um jornalista morto de fome, que topa qualquer parada, fui convidado pelo O Antagonista para ir até o Além com a missão de cobrir a chegada do Rei Pelé no Céu com exclusividade. Experiente e viajado, já estive em todos os cantos do planeta, mas esta é a primeira vez que faço uma reportagem direto do “outro mundo”.
Foi montado um Centro de Imprensa para receber os jornalistas que não param de chegar. Também pudera; com a miséria que os jornais estão pagando, não sobra mais quase nenhum repórter vivo para contar a história.
Assim que cheguei no outro mundo, procurei os falecidos grandes jornalistas brasileiros para me enturmar nos macetes do Paraíso e saber onde é que se podia arrumar, cama, comida e mulher de graça. Não necessariamente nessa ordem. Encontrei o João Saldanha, o Armando Nogueira e o Oldemário Touguinhó e, chefiando a redação, o Nelson Rodrigues.
Enquanto isso, aqui na Terra, rolava o velório do Pelé. Dirigentes de futebol vieram em peso e decidiram que, em memória ao Rei, iam ficar um minuto sem roubar, uma homenagem comovente e inédita na história do futebol. Quem não apareceu foi o Neymar, barrado pelo PSG para comparecer às exéquias. Preferiram mandar o Messi e o Mbappé. Ao lado do caixão do Pelé, o influencer-boleiro Casemiro, inconsolável, trocava uma ideias com o cadáver insistindo para o defunto fazer uma live. Tarde demais.
Aqui, no Portal do Paraíso, rolava o maior tumulto. Anjos, arcanjos, querubins e serafins cercaram o Pelé pedindo para tirar uma selfie com ele, e até os santos e mártires fizeram fila para o Rei do Futebol dar um autógrafo nos seus abadás.
São Pedro em pessoa entregou as Chaves do Céu, dando as boas vindas ao craque que chegava. O Pelé vai reforçar a seleção azul cerúlea no Campeonato da Liga Celestial, que reúne os maiores craques de de futebol de todos os tempos, do Friedereich ao Maradona. Por falar em Maradona, o goleador argentino foi para a reserva com a chegada do Pelé.
Já batendo uma bolinha para aquecer (ele chegou aqui gelado), o Rei encontrou vários parceiros das antigas, como Garrincha, Zizinho, Domingos da Guia, Didi e muitos outros. Todos estes craques da bola formam o escrete que tem como lateral direito Jesus de Nazaré. Esse Jesus também não joga nada (tem os dois pés furados), mas é titular, porque, dizem, é filho do “homem”.
Enquanto a partida não começava, sentando num banquinho, o recém finado papa Bento 16 aguardava numa fila, pacientemente, a sua senha para receber o seu bilhete de entrada na Vida Eterna. Ao contrário do SUS, no Céu, não existe fila para idoso.
Agamenon Mendes Pedreira é um jornalista do outro mundo.
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