Agamenon: 2022 morreu, antes ele do que eu
Morreu-se muito em 2022. Até aí tudo bem. O problema é que, entre os falecidos que partiram dessa para melhor, estavam vários imortais. Alguns eram da Academia Brasileira de Letras, outros não: Jô Soares, Erasmo Carlos, Gal Costa, Milton Gonçalves, Elza Soares, Claudia Jimenez e até a Rainha Elizabeth II, que não teve tempo de assistir o final da série The Crown...
Morreu-se muito em 2022. Até aí tudo bem. O problema é que, entre os falecidos que partiram dessa para melhor, estavam vários imortais. Alguns eram da Academia Brasileira de Letras, outros não: Jô Soares, Erasmo Carlos, Gal Costa, Milton Gonçalves, Elza Soares, Claudia Jimenez e até a Rainha Elizabeth II, que não teve tempo de assistir o final da série The Crown. Também teve gente que morreu e não sabe como é o caso do ex-atual presidente-foragido Jair Imbessias Bozonaro. Deprimido com sua derrota, Jair Embora calou-se e não falou mais nada desde a eleição, o que foi uma boa, porque o Bolsonaro calado é um poeta. Com medo de ser preso, o presidente zumbi embarcou para Orlando, onde pretende se encontrar com o Pateta. Ou, será que o famoso personagem da Disney é quem vai se encontrar com o pateta? Desta forma, os dois juntos, um ao lado do outro, Bolsonaro pretende confundir os “canas” do FBI.
O pior é que agora, bem no finalzinho do ano, aos 48 do segundo tempo, uma morte súbita veio eclipsar todas as outras. Pelé, o único rei que foi eleito pelo povo, resolveu pendurar as chuteiras e comer o gramado pela raiz. Pelé não era um só: eram dois, ele e o Edson. Pelé era o maior jogador do mundo, o Edson batia uma bolinha. Pelé era milionário, o Edson só tinha o “da passagem”. Pelé pegava todo mundo, o Edson era um sujeito pacato que não comia ninguém. Pelé fez mais de mil gols, o Edson não tinha nem mil reais na conta. Pelé era conhecido em todo o mundo, o Edson sempre levava uma dura da polícia. Pelé era bem dotado, o Edson tinha o pau pequeno e também não sabia sambar.
Eu e Pelé nos conhecemos quando ele ainda não era ninguém, o que, aliás, eu sou até hoje. Em 1958, o humilde rapaz de Três Corações chegou na Copa da Suécia sem conhecer nada da vida e eu, que participava da Comissão Técnica (que era de 20%) lhe ensinei tudo sobre o sexo, ao lado de Garrincha, Vavá, Didi (que depois foi titular dos Trapalhões) e Bellini, que, mais tarde, virou estátua. Na gelada Suécia, as mulheres eram quentes e davam pra qualquer um, sem preconceito de cor. As suequinas ficaram de quatro com a atuação da seleção brasileira e nossos craques não faltaram ao dever. Naquele tempo, o craque brasileiro, além da mulherada, também comia a bola. E como comia. Ao contrário do Roberto Carlos, o Rei Pelé nunca foi perna-de-pau.
Depois que alfabetizei o jovem Pelé , ensinando como dar uma caneta no meio das pernas, ele nunca mais parou. Junto com o técnico Feola, expliquei aos nossos craques, do ponto de vista tático, os fundamentos da suruba nórdica, onde havia espaço até para Ingo, o insaciável cão dinamarquês. Essas orgias foram todas registradas pelo cineasta Ingmar Bergman. Eu vivia deprimido, porque, com o Pelé na fita, não consegui nem fazer uma ponta. Ponta esquerda. O jeito foi usar a ponta do Garrincha, coisa que, além de outras coisas, O Alegria do Povo tinha de sobra. Por isso mesmo, assistindo a sua performance, inclusive no vestiário, percebi que o talento de Pelé era enorme, embora o do Garrincha fosse gigantesco também.
Bolsonaro foi-se. O Pelé se foi também, mas o Pelé não vai fazer falta, não precisa. Com mais um drible genial, o Rei vai deixar o zagueiro desconcertado, de quatro no chão, para, em seguida, mandar a bola para o fundo da rede. Por outro lado, Bolsonazi vai deixar saudades nos fabricantes de pneus, nos milicianos e nos fabricantes de armas.
Agamenon Mendes Pedreira é anacronista esportivo.
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