Macron vence Marine Le Pen e é reeleito presidente da França
Emmanuel Macron (foto) venceu o segundo turno eleição presidencial francesa com 58,5% dos votos, contra 41,5% de Marine Le Pen, numa primeira estimativa, para alívio da Europa e dos Estados Unidos. A sua vitória é uma garantia de que a França continuará a ser um pilar da União Europeia, juntamente com a Alemanha, e de que o país não sairá da Otan, a aliança militar do Ocidente, da qual é um dos principais integrantes, com a sua força de dissuasão nuclear e um exército poderoso. Assim, a derrota de Marine Le Pen, que prometia rever acordos com o bloco europeu e retirar a França da Otan, é, por extensão, uma derrota do tirano russo Vladimir Putin...
Emmanuel Macron (foto) venceu o segundo turno eleição presidencial francesa com 58,5% dos votos, contra 41,5% de Marine Le Pen, numa primeira estimativa, para alívio da Europa e dos Estados Unidos. A sua vitória é uma garantia de que a França continuará a ser um pilar da União Europeia, juntamente com a Alemanha, e de que o país não sairá da Otan, a aliança militar do Ocidente, da qual é um dos principais integrantes, com a sua força de dissuasão nuclear e um exército poderoso. Assim, a derrota de Marine Le Pen, que prometia rever acordos com o bloco europeu e retirar a França da Otan, é, por extensão, uma derrota do tirano russo Vladimir Putin — que, em 2017, financiou indiretamente a candidata da extrema-direita, na sua estratégia de causar desordens internas nas democracias ocidentais, a fim de pavimentar o seu sonho imperialista de recuperar territórios e esferas de influência da antiga União Soviética, como ilustra a invasão da Ucrânia.
Emmanuel Macron conseguiu a façanha de ser o primeiro presidente da França reeleito desde 2002, quando o mandato passou de sete para cinco anos. Ao contrário do que ocorreu em 2017, no entanto, quando venceu Marine Le Pen no segundo turno pelo dobro de votos, ele agora só ficou a 17 pontos da adversária, uma distância confortável, mas bem menor. A extrema-direita nunca foi tão longe na França. Há um motivo para isso e ele é pouco ideológico: a percepção de boa parte dos franceses é que, sob Emmanuel Macron, a população perdeu poder de compra, o principal assunto da campanha eleitoral, e que ele foi, no seu primeiro mandato, um presidente que favoreceu os ricos, em detrimento de um dos valores mais caros à república que começou a ser construída no final do século XVIII: o da igualdade. Não vou entrar na discussão do mérito, porque política é percepção construída em determinado contexto cultural, e tal foi ela nessa campanha. Muita gente não votou exatamente a favor de Marine Le Pen, mas contra o seu rival.
Ainda assim, Emmanuel Macron, do La République en Marche, conseguiu permanecer no Palácio do Eliseu. A maioria dos franceses que se dispuseram a votar — a abstenção de 28% foi a mais alta desde 1969 — viu nele um mal menor do que em Marine Le Pen. Foi um segundo turno do voto útil, de ambos os lados. Amanhã, os mercados deverão reagir positivamente ao resultado, uma vez que Emmanuel Macron não representa um risco à estabilidade institucional da França, uma das maiores economias do mundo. Com Marine Le Pen na presidência do país, a instabilidade seria permanente, tanto interna quanto externamente, o que tornaria tudo ainda mais preocupante com a guerra cruenta em curso no continente europeu.
Quando venceu o socialista François Hollande, em 2017, que se autodeclarava “um homem normal”, epíteto com o qual pretendia edulcorar a sua evidente mediocridade, Emmanuel Macron e o seu séquito, a chamada “Macronie”, inauguraram um estilo “jupiteriano”, no qual o inquilino instalado no Palácio do Eliseu passou a se comportar como um monarca absoluto, com um primeiro-ministro emasculado dos seus poderes de governo e resignado a ter um papel decorativo. Embora tenha vencido hoje, Emmanuel Macron não tem motivo para ficar inteiramente tranquilo. Ele corre o risco de as eleições legislativas de junho lhe darem um primeiro-ministro antípoda — e ele pode ser tanto da esfera de Marine Le Pen, da extrema-direita (menos provável), como o próprio Jean Luc Mélenchon, da extrema-esquerda (mais provável, se Emmanuel Macron não fortalecer o seu partido e reunir apoios), que quase passou ao segundo turno da eleição presidencial.
Durante a campanha de segundo turno, Jean-Luc Mélenchon deu as costas a Emmanuel Macron, embora tenha declarado a sua aversão a Marine Le Pen. Disse que, se qualquer um vencesse, isso seria “bastante secundário”, uma vez que ele trabalhava para ser o primeiro-ministro ou ter um preposto dele no cargo, em regime de “coabitação”. Afirmou que será o “terceiro turno”. Marine Le Pen fará o mesmo a partir de amanhã: vai se dedicar com afinco às eleições legislativas. O sistema semipresidencialista francês, no qual o presidente e o primeiro-ministro têm funções executivas, possibilita que ambos sejam de partidos antagônicos — e essa característica tem o potencial de causar impasses na direção do país.
Na Quinta República francesa, inaugurada por Charles de Gaulle em 1958, quando o general foi eleito sob uma nova Constituição que deu mais atribuições ao Executivo, houve três coabitações. A primeira ocorreu entre 1986 e 1988, com o presidente socialista François Mitterrand e o primeiro-ministro republicano Jacques Chirac. A segunda aconteceu entre 1993 e 1995, com o presidente François Mitterrand e o primeiro-ministro republicano Édouard Balladur. A terceira ocorreu entre 1997 e 2002, com o presidente Jacques Chirac e o primeiro-ministro socialista Lionel Jospin. Em todas elas, houve trepidações, mas os partidos e os personagens em questão eram figuras do establishment, nenhum deles tinha um caráter disruptivo. Hoje, com socialistas e republicanos de velha cepa praticamente mortos politicamente, uma coabitação entre um presidente de centro e um primeiro-ministro extremista, e de extremos com muitos pontos em comum, como a aversão à União Europeia, seria bem problemática.
A próxima batalha de Emmanuel Macron será se mostrar menos “jupiteriano” e mais aberto ao diálogo. Ele já prometeu que não promoverá reformas, como a das aposentadorias, sem buscar consensos, inclusive na forma de referendos. É um passo para tentar vencer as eleições legislativas de junho e, assim, evitar uma coabitação seja com o Rassemblement National, de Marine Le Pen, como com o La France Insoumise, de Jean-Luc Mélenchon. A guerra na França, portanto, não acabou.
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