Agamenon: o Pix e o mendigo
Guerra é como um bife malpassado, tem que ter sangue. Mas o fato é que esta guerra da Rússia, assim como a minha vida sexual, está chegando ao fim; só não se sabe é quando vai acabar...
Guerra é como um bife malpassado, tem que ter sangue. Mas o fato é que esta guerra da Rússia, assim como a minha vida sexual, está chegando ao fim; só não se sabe é quando vai acabar. Depois que o deputado Arthur do Val, o Marcius Melhem da política, deixou um rastro de destruição maior que o do RasPutin, este conflito russo-ucraniano deixou de interessar os editores de O Antagonista. Irritados com a falta de notícias da minha parte, os argentários homens de imprensa resolveram cancelar a minha cobertura jornalística. E, pior, não mandaram passagem de volta.
Ter uma cobertura jornalística própria sempre foi um sonho para mim, especialmente se essa cobertura fosse de frente pro mar. Infelizmente, nunca passei do nível do chão, e é lá, na Rua da Amargura s/n, que fica estacionado o Dodge Dart 73 enferrujado, minha residência cada vez mais imóvel. Ainda mais agora, com o preço astronômico da gasolina. Além de cancelar minha viagem, O Antagonista disse que não ia pagar nada pelos sensacionais artigos que escrevi sobre o violento conflito. Mas, como eles nunca me pagaram, ficou tudo por isso mesmo.
No fundo, foi bom porque um outro fato histórico eclipsou o conflito russo-ucraniano. A incrível história da mulher que resolveu furunfar com um mendigo num carro viralizou mais que variante da Covid e chocou o povo brasileiro, mesmo não sendo ovo. Como tudo no Brasil, o assunto mistura sexo, religião. adultério, desigualdade social e crossfit. Ficou claro pelas imagens da câmera de segurança que a mulher estava em situação de desespero, o mendigo em situação de rua e o marido em situação de corno. Pena que o Arnaldo Jabor não está mais ao vivo para sugerir uma metáfora genial que refletisse esse caso. O fato é que se trata de um gesto abnegado de caridade cristã, pois quem dá aos pobres empresta a Deus, com juros escorchantes, é claro.
Mas isso não é apenas tudo. Todos torceram o nariz para esse fato cabuloso, já que os mendigos não costumam tomar banho, usar desodorante, perfume e outras frescuras pequeno-burguesas. Todos, menos a criatura que deu mais que uma esmola ao pedinchão. Apesar do estado deplorável do cidadão em situação de rua, a dadivosa criatura que o acolheu não quis saber e resolveu doar o seu auxílio emergencial ali mesmo na frente (e atrás) de todo mundo. Essas coisas, normalmente, só costumam acontecer em época de eleição, mas a generosa criatura não é candidata a nada —o que é um exemplo para nossa classe política.
Graças à repercussão da notícia, o cidadão em situação de mendicância se tornou uma celebridade mundial. Está namorando a Anitta, vai entrar no próximo BBB e gravar com a Juliette. O pedinte também está dando palestras como coach, fazendo shows de stand-up comedy e tem mais de 20 milhões de seguidores no Twitter e no Instagram.
Já a sua ficante foi execrada por todos, um reflexo do machismo sexista de nossa sociedade retrógrada e careta. Em sua autodefesa, a pobre criatura disse que resolveu “ficar” com o “mindigo” porque viu Deus. Apesar da crença generalizada no Todo-Poderoso, ninguém acreditou nela. Principalmente o marido, que ao dar o flagrante naquela situação explicita de sexo ardente tacou água gelada no casal e tentou fazer uma alavanca com um pé-de-cabra. Mesmo assim, teve que chamar o Corpo de Bombeiros, um guincho e a carrocinha para separar o casal fogoso. Evangélico praticante, o marido, que também é jiujiteiro, tratou de espancar violentamente o mendigo e só não bateu na mulher por causa da Lei Maria da Penha. Passado o calor do incidente, o esposo, mais calmo, reuniu a imprensa para esclarecer que não perdeu a fé no casamento e que continua evangélico e crente —crente que não é corno.
Agamenon Mendes Pedreira é evangélico de fim de semana.
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