A guerra e a guerra da Rússia contra o Ocidente
A cúpula dos chefes de estado da União Europeia, em Versalhes (foto), terminou abafada pelo recrudescimento dos bombardeios russos na Ucrânia. Foi um fiasco. Esperava-se que fosse dado um passo adiante na inclusão da Ucrânia no bloco, cuja candidatura havia sido aceita nesta semana, ao lado dos pedidos da Geórgia e da Moldávia, países que também estão na alça de mira do ditador russo Vladimir Putin. Não houve passo adiante. Nada de ir em frente também com o corte total das relações comerciais com Moscou, apenas a ameaça de uma quarta onda de embargos -- talvez ela seja a retirada da Rússia do rol de países que gozam de favorecimentos fiscais no comércio com o G7, como anunciado pelo presidente Joe Biden, que encaminhará essa proposta ao Congresso americano. A Europa está de mãos atadas por causa da dependência do gás russo...
A cúpula dos chefes de estado da União Europeia, em Versalhes (foto), terminou abafada pelo recrudescimento dos bombardeios russos na Ucrânia. Foi um fiasco. Esperava-se que fosse dado um passo adiante na inclusão da Ucrânia no bloco, cuja candidatura havia sido aceita nesta semana, ao lado dos pedidos da Geórgia e da Moldávia, países que também estão na alça de mira do ditador russo Vladimir Putin. Não houve passo adiante. Nada de ir em frente também com o corte total das relações comerciais com Moscou, apenas a ameaça de mais embargos — e talvez a retirada da Rússia do rol de países que gozam de favorecimentos fiscais no comércio com o G7, como anunciado pelo presidente americano Joe Biden, que encaminhará essa proposta ao Congresso americano. A Europa está de mãos atadas por causa da dependência do gás russo, em especial a Alemanha, que cometeu a burrice estratégica de renunciar à energia nuclear. O anfitrião Emmanuel Macron anunciou que ele e o chanceler alemão, Olaf Scholz, conversariam com Vladimir Putin. Será inútil. As sanções não o intimidam e ele confia na, digamos, prudência europeia. O bastardo inglório do Kremlin agora quer importar mercenários sírios, a título de “voluntários”, para cometer mais atrocidades na Ucrânia. Como não se podia deixar o presidente Volodymyr Zelensky de mãos abanando, os líderes europeus decidiram dobrar para 1 bilhão de euros a ajuda em armas para Kiev. Alivia, mas não resolve. Equivale a um dia e meio do que a Europa paga à Rússia, pela importação de gás — 640 milhōes de euros.
O número de refugiados na Ucrânia chegou a 2,5 milhões. Mariupol, que teve um hospital infantil bombardeado pelo exército russo, sem eletricidade e víveres suficientes, inclusive água potável. Volodymyr Zelensky afirmou hoje que o seu país está em luta contra um estado terrorista, o russo, e é isto mesmo — da mesma forma que fez na Chechênia e na Síria, Vladimir Putin aterroriza a população civil. Os ucranianos estão enterrando mortos em valas comuns, numa guerra na qual o número de mortes do lado civil vem sendo subestimado pela ONU: algo em torno de 500. Ainda que fosse meio milhar, trata-se de um massacre. A Ucrânia está sendo agredida pela Rússia, sem qualquer motivo próximo do razoável, e um ucraniano morto em seu próprio país por um exército invasor já seria uma brutalidade. Quando se considera que a agressão remonta a 2014, o número de mortos, entre civis e rebeldes armados pela Rússia no território da Ucrânia, vai a mais de 13 mil, de acordo com a ONU. Não é de agora que não existe lei internacional para Vladimir Putin.
Tanto na cúpula europeia como do outro lado do Atlântico, em Washington, ouve-se que os países da Otan não estão em guerra com a Rússia e, por isso, não podem ajudar a Ucrânia por meio do envio de tropas, uma vez que Kiev não faz parte da aliança militar. Mas a Rússia está em guerra com os países da Otan — com o Ocidente inteiro — já faz tempo. O conceito aqui é de “guerra híbrida”, na qual as armas são os ataques cibernéticos a instituições e empresas, a divulgação sistemática e maciça de fake news, a cooptação de políticos e empresários, a sabotagem de eleições livres e democráticas. Também pode ser incluída na guerra híbrida levada a cabo pela Rússia contra os países da Otan a diminuição do fornecimento de gás para a Europa, em dezembro do ano passado, sem que houvesse motivo legítimo para a medida. Está claro, agora, que era para evitar que os países europeus pudessem contar com excedentes para fazer frente a um embargo à Rússia.
A guerra só não é híbrida na Ucrânia, mas que ninguém se engane: a lambança cruenta que Vladimir Putin promove lá é retrato do que ele gostaria de fazer com toda aquela parte do planeta que se pode chamar de mundo civilizado ocidental, sem que isso implique licenças poéticas. Uma estimativa feita pelo site de assuntos militares oryxspioenkop, de dois holandeses que fazem uma contagem minuciosa a partir de vídeos aéreos certificados, aponta que os ucranianos já destruíram 875 veículos (dos quais 181 tanques), 82 peças de artilharia e 27 aeronaves da Rússia. Pelo menos 2.000 soldados invasores foram mortos até o momento, segundo o governo americano. A Ucrânia cairá, mas cairá de pé, e a sua derrota não significará uma vitória de Vladimir Putin. Os valores ocidentais estão sendo defendidos, no campo de batalha, por uma única nação da Europa Oriental.
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