Fala de Putin sinaliza medo de perder apoio interno
É difícil entender o discurso que Vladimir Putin (foto) fez há pouco como algo mais do que propaganda de guerra para seu público interno - um esforço para justificar que jovens russos tenham sido mandados para morrer em um país vizinho [...]
É difícil entender o discurso que Vladimir Putin (foto) fez há pouco como algo mais do que propaganda de guerra para seu público interno – um esforço para justificar que jovens russos tenham sido mandados para morrer em um país vizinho.
Putin criou um herói de guerra – o comandante de um pelotão que morreu destruindo tanques ucranianos na região de Donbass – e também prometeu aumentar o soldo dos militares russos e pagar pensões às famílias dos mortos em combate.
Não foi o discurso de quem está seguro de contar com apoio para continuar na guerra, que promete se estender por mais tempo que o esperado. Foi o discurso de um governante com medo de ver sua popularidade se desfazer rapidamente, caso os russos deixem de enxergar na invasão da Ucrânia apenas uma “operação militar especial” contra um regime ilegítimo.
Putin reiterou que não vai retroceder. Ele voltou a dizer que russos e ucranianos são um povo só e tratou a resistência ucraniana ao avanço russo como obra de neonazistas que precisam ser neutralizados. O termo “nacionalista” foi usado durante todo o discurso como sinônimo de neonazista – como se lutar pela Ucrânia fosse um ato terrorista contra a Federação Russa.
Putin sabe que seu discurso será tratado como cinismo e loucura no Ocidente. Ele sabe que há imagens de jovens soldados russos dizendo a civis ucranianos que acreditavam estar participando de um treinamento militar, e não de uma invasão. Ele sabe que o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky acusou o exército russo de usar câmaras crematórias portáteis para seus próprios soldados – evitando assim mandá-los de volta para casa em caixões. Mas Putin não se importa com a opinião ocidental.
O que certamente lhe interessa é impedir que relatos desse tipo cheguem aos cidadãos russos, que já começam a enfrentar as consequências das sanções econômicas, e se tornem a versão dominante sobre a guerra. Contra eles, a imprensa estatal controlada pelo Kremlin vai martelar sem descanso o retrato da guerra que Putin pintou em seu discurso. Pobres russos.
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