Na guerra de Putin, os opostos se atraem
Pouco importa se o governo ucraniano é isso ou aquilo, apoiar que se joguem bombas na cabeça de uma população nunca será justificável, sobretudo para um Estado como o brasileiro, de posicionamento historicamente pacífico. Até mesmo nossa Constituição de 1988, em seu artigo 4º, IV, registra com todas as letras o princípio da não-intervenção como um de seus mais antigos e consolidados...
Pouco importa se o governo ucraniano é isso ou aquilo, apoiar que se joguem bombas na cabeça de uma população nunca será justificável, sobretudo para um Estado como o brasileiro, de posicionamento historicamente pacífico. Até mesmo nossa Constituição de 1988, em seu artigo 4º, IV, registra com todas as letras o princípio da não-intervenção como um de seus mais antigos e consolidados.
Bolsonaro, no entanto, parece se esforçar sempre para fazer o oposto do que se espera de um presidente, deixando, dessa vez, transparecer que apoia – ou, no mínimo, não condena – os ataques russos à Ucrânia.
Mas, não nos enganemos, trata-se de um movimento calculado e já conhecido.
Na última quarta feira, por exemplo, criticou mais uma vez o Supremo Tribunal Federal, dizendo que as liberdades dos brasileiros estão ameaçadas por dois ou três ministros, sem citar nomes para não ter de fazer nova cartinha de desculpas, mas deixando claro que a credibilidade do STF para ele não existe e que enxerga a Corte como inimiga das liberdades e do povo.
A defesa de Bolsonaro às liberdades nunca foi sincera. Trata-se de mera desculpa interesseira e interessada em descredibilizar as instituições públicas, para que se apresente como a única solução para seu rebanho. O mesmo é feito com a imprensa e com qualquer outro obstáculo que se encontre no caminho de sua verdadeira pretensão: ser de seu eleitorado a única voz confiável, a voz única. Sua tática é fazer com que o máximo possível de pessoas acredite que só ele está certo, só ele tem razão.
Seu posicionamento afetuoso à guerra de Putin não tem nada a ver com interesses políticos ou ideológicos. Tanto que conseguiu a proeza de estar alinhado no tema com inimigos políticos do calibre de Nicolás Maduro e até com certa ala do Partido dos Trabalhadores.
Bolsonaro é um populista, e um populista de auditório. Disputa o bem querer de seu público desqualificando na internet as instituições, a democracia e os posicionamentos historicamente pacíficos do Brasil da mesma forma com que procedia no palco da Luciana Gimenez, esculhambando com todo mundo que lhe surgia à frente, para no final dizer que ele – e mais ninguém – era o dono da verdade.
Trocou o banquinho do estúdio da Rede TV pela cadeira da Presidência, os convidados da apresentadora pela companhia de ministros e chefes de Estado, mas continua o mesmo.
A convergência entre posições ideológicas tão opostas como as de Bolsonaro, Maduro e parte do PT a respeito da lamentável guerra apenas mostra o quão frágil e pouco convicta é a visão política das lideranças atuais, sejam elas de esquerda e ou de direita.
André Marsiglia é advogado nas áreas de Comunicação e Internet. @marsiglia_andre
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