Somos um país pautado pela tragédia
Pode demorar um pouco, mas o sol voltará a Petrópolis. Haverá silêncio e calmaria e será possível avaliarmos o tamanho real da tragédia deixada pelas chuvas. Quando isso acontecer, constataremos o que os jornais já estão anunciando: no Brasil, como um todo, faltam investimentos adequados em tecnologia meteorológica, em estudos acadêmicos. E fenômenos naturais como a chuva, embora aconteçam...
Pode demorar um pouco, mas o sol voltará a Petrópolis. Haverá silêncio e calmaria e será possível avaliarmos o tamanho real da tragédia deixada pelas chuvas. Quando isso acontecer, constataremos o que os jornais já estão anunciando: no Brasil, como um todo, faltam investimentos adequados em tecnologia meteorológica, em estudos acadêmicos. E fenômenos naturais como a chuva, embora aconteçam, com o auxílio da ciência, poderiam ter muito de seu estragado evitado. Somente nesse ano já assistimos a esse mesmo lamentável enredo em Minas Gerais, Espírito Santo e Bahia.
Mas alguma autoridade se importa em evitar alguma coisa nesse país? Não. Somos um país pautado pela tragédia. Uma vez ocorrida – aí sim – os governantes visitam os locais afetados, fazem discursos cheios de empatia, prometem o futuro, oferecem amparo. Dias correm, os holofotes são apagados, as autoridades correm também.
Há algumas semanas, um provável erro na construção de uma das estações do metrô de São Paulo rasgou ferozmente uma das pistas da Marginal Tietê, uma das principais vias da cidade. O governador João Doria prontamente saiu a campo. Desceu de helicóptero no local do acidente, fez gestos, deu ordens, em um dia tudo estava resolvido. Pois muito bem, mas por qual razão tudo não estava resolvido antes do acidente? Por qual razão nossos governantes não se valem do ímpeto que empregam após os fatos ocorrerem para os evitar?
Na semana passada, apenas após a fala lamentável do apresentador Monark relativizando os perigos do nazismo, deputados e senadores se deram conta da relevância do tema e se acotovelaram por um lugar nos púlpitos das casas legislativas e nas páginas dos jornais. Pouco imaginativos, traziam propostas de projetos que incluíam na lei o que nela já estava incluído.
Um desses projetos, liderado pela deputada Bia Kicis (PSL-DF), chamou especialmente a atenção por propor a criminalização da falsa acusação de nazismo. Mesmo na contramão da história, o projeto não trazia nada de novo, imputar falsamente crime a alguém já é tipificado no código penal.
Na democracia grega, os legisladores tinham uma função vital. Faziam as leis que resumiam a experiência concreta das cidades e ensinavam aos jovens o caminho da cidadania. O legislador era o educador. Hoje, pensarmos nisso chega a ser ridículo.
Nossas autoridades não ensinam e não aprendem. Nada de muito útil por elas é proposto, são passivas diante da tragédia nossa de cada dia e apenas reagem aos acontecimentos enquanto os holofotes da mídia estão acesos. O Brasil se tornou isso, e isso é muito pouco.
Claro, precisamos reconhecer que há governantes que se antecipam ao desastre, se antecipam ao mundo todo e, de dentro do avião em viagem para a Rússia, evitam a terceira guerra mundial.
Se vale encerrar este artigo carregado de desânimo com piada, está feita.
André Marsiglia é advogado. Atua nas áreas de Comunicação e Internet e escreve semanalmente n’O Antagonista. Twitter: @marsiglia_andre
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