A opacidade de Lula é essencial
Em editorial, a Folha de S.Paulo criticou a atitude de Lula quanto à economia, assunto que deve dominar a campanha presidencial deste ano, dado o quadro de crescimento pífio e inflação. Diz um trecho do editorial: "O petista tem um histórico ambíguo. Boa parte de seus oito anos de governo foi dedicada à manutenção e aperfeiçoamento de responsabilidade fiscal que marcou o fim da era FHC no Planalto...
Em editorial, a Folha de S.Paulo criticou a atitude de Lula quanto à economia, assunto que deve dominar a campanha presidencial deste ano, dado o quadro de crescimento pífio e inflação. Diz o jornal:
“O petista tem um histórico ambíguo. Boa parte de seus oito anos de governo foi dedicada à manutenção e aperfeiçoamento de responsabilidade fiscal que marcou o fim da era FHC no Planalto.
Já políticas do fim de sua gestão, amplificadas ao paroxismo nos governos subsequentes de Dilma Rousseff (PT), geraram recessão e desestabilização sentidas até hoje.
Tanto o foi que o próprio Lula pediu adendo ao texto o descaracterizando como peça da campanha. Emenda pior que o soneto.
O debate em torno da revogação da reforma trabalhista do governo Michel Temer é de outra natureza. O PT sempre foi contra o pacote, mas a fala mais incendiária da presidente da sigla, Gleisi Hoffmann, foi substituída por termos um pouco mais suaves. Novamente, o público sai com sensação de embuste.”
Antes de mais nada, está explicado por que o artigo assinado por Guido Mantega, encomendado para ser uma síntese do pensamento econômico de Lula, foi apresentado como não sendo uma síntese do pensamento econômico de Lula (mais ou menos como o sítio de Lula, em Atibaia, que é dele, mas não é dele). A esquizofrenia na forma, de fato, contribuiu para que a insanidade do conteúdo ficasse ainda mais espantosa.
Lula sempre foi um político de ideias opacas, cercado de escuridão de todos os lados. A Carta aos Brasileiros de 2002, citada pela Folha, é obra de Emílio Odebrecht (“tem muita contribuição nossa”), como foi revelado no âmbito da Lava Jato. Lula agora não tem, ao que parece, alguém tão caro como Emílio Odebrecht para escrever cartas para ele — e, como a ala mais radical e barulhenta do PT foi determinante para tirá-lo da cadeia, é praticamente impossível que o chefão petista beije a cruz da Faria Lima em público. Se o faz, é em privado, como requer a opacidade que lhe é natural.
Quanto à continuidade da política econômica de FHC, Lula acertou, mas foi beneficiado enormemente pelos altos preços das commodities e por uma bonança mundial que só foi quebrada em 2008 — e o receituário bem seguido anteriormente garantiu que endividasse os brasileiros com crédito farto, na ilusão de que se estava criando uma “nova classe C”. Na sequência, tudo ficou perfeito para que Dilma Rousseff, que Lula agora tenta esconder, quebrasse o Brasil. A mãe do PAC e gerentona pariu uma crise cujas consequências ainda perduram. A criatura e o criador são indissociáveis, mas a aposta do chefão é que os eleitores esquecerão ou fingirão que esqueceram o fato. Ninguém nunca perdeu dinheiro apostando na falta de lembrança ou excesso de credulidade dos brasileiros. A questão é saber como Lula enfrentará um contexto adverso como o que vivemos, caso seja eleito. Se for com Guido Mantega, Aloizio Mercadante, Luiz Gonzaga Belluzo e Marcio Pochmann, estamos fritos. Esperemos que ele só os esteja usando como bois de piranha.
Os laços íntimos, para não dizer promíscuos, entre o PT e o sindicalismo são históricos, indissociáveis da trajetória do partido e do próprio Lula. Assim, mesmo que consiga manter algo da reforma trabalhista promovida por Michel Temer e que teve continuidade sob Jair Bolsonaro (um dos poucos aspectos positivos da atual presidência), um bom naco terá de ser devolvido aos mastins sindicais: o naco do imposto sindical, essa infâmia contra os trabalhadores dos quais o PT diz ser o grande defensor.
A opacidade de Lula não é apenas questão de circunstância. É questão de essência.
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