A minha conta de padeiro para 2022 A minha conta de padeiro para 2022
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A minha conta de padeiro para 2022

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Mario Sabino
4 minutos de leitura 15.12.2021 11:13 comentários
Opinião

A minha conta de padeiro para 2022

Padaria é um negócio que dá certo há milhares de anos, na base da conta de padaria, que virou uma expressão jocosa para definir quem aplica apenas as quatro operações da matemática, do modo mais básico, em todos os aspectos da vida, inclusive aqueles que requerem cálculos complexos, em contextos com muitas variantes. Como sou padeiro (embora sem um bom negócio como padaria), concluí que, no segundo turno, Lula precisa de apenas 6 milhões de votos para ser eleito presidente da República -- isso, se não for eleito já no primeiro turno, em 2022...

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A minha conta de padeiro para 2022
Foto: Adriano Machado/Crusoé

Padaria é um negócio que dá certo há milhares de anos, na base justamente da conta de padaria, que virou uma expressão jocosa para definir quem aplica apenas as quatro operações da matemática, do modo mais básico, em todos os aspectos da vida, inclusive aqueles que requerem cálculos complexos, em contextos com muitas variantes. Como sou padeiro (embora sem um bom negócio como padaria), concluí que, no segundo turno, Lula precisa de apenas 6 milhões de votos para ser eleito presidente da República — isso, se não for eleito já no primeiro turno, em 2022.

A minha conta de padeiro tem como base única e exclusivamente a quantidade de votos que Jair Bolsonaro e Fernando Haddad tiveram no segundo turno, em 2018. O atual presidente da República teve 57,8 milhões de votos; o poste de Lula, 47,04 milhões — uma diferença de 10 milhões. Se o número de votos válidos for parecido em 2022, isso significa que o petista precisaria tirar do seu adversário, seja ele quem for, apenas os 6 milhões de eleitores citados no primeiro parágrafo.

O padeiro aqui se baseia na suposição singela de que os 47,04 milhões de brasileiros que votaram em Fernando Haddad não terão um único motivo para mudar de voto. Pelo contrário. Se votaram no poste, certamente não deixarão de optar pelo original. Desses 47,04 milhões, 30 milhões são petistas irredutíveis. Os restantes são de centro-esquerda ou votaram simplesmente contra Jair Bolsonaro, mesmo com Lula preso e a Lava Jato no auge. Por que os eleitores de centro-esquerda migrariam para um candidato mais à direita? Por que todos os antibolsonaristas de 2018 votariam em outro nome agora? No meu horizonte de padeiro, não consigo enxergar nada que os possa fazer mudar de escolha.

Enquanto isso, do outro lado, dos 57,8 milhões de eleitores que votaram em Jair Bolsonaro, ponha aí 25 milhões, no máximo, que são bolsonaristas ferrenhos. Os outros 32,8 milhões são de centro-direita ou simplesmente eleitores que se tornaram antipetistas por causa da Lava Jato. Passados quatro anos, sem Lava Jato, com Lula solto e uma presidência trágica do ponto de vista sanitário e econômico, é razoável supor que, pelo menos, 6 milhões dos simplesmente antipetistas em 2018 tenham se tornado antibolsonaristas e, assim, disponham-se a votar no chefão do PT, seja porque caíram na esparrela que a maior operação anticorrupção da história do Brasil foi uma armadilha política, seja porque acreditam que, com Lula de volta ao Palácio do Planalto, os tempos de fartura voltarão como num passe de mágica, a maior religião do país. Para não falar que o partido do anti é muito forte no Brasil, o antibolsonarismo é o anti da vez e Lula vem conseguindo vender-se como o nome mais anti-Bolsonaro no meio político. Se o chefão petista tiver um vice mais à direita, então, aí será perfeito para amealhar votos até entre eleitores de centro-direita decepcionados com o atual presidente.

A conta é de padeiro, eu sei. Muita coisa pode ocorrer até outubro do ano que vem, eu sei. Mas é essa a conta de padeiro que está sendo feita pelo PT, e é a partir de dela que os petistas trabalham diligentemente para que o pãozinho com bromato do partido seja vendido quentinho em 2022, enquanto a padaria alternativa ainda nem conseguiu abrir as portas — e, como a inauguração vem sendo constantemente adiada, pode ser que a fatura seja mesmo liquidada no primeiro turno.

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Mario Sabino é jornalista, escritor e sócio-fundador de O Antagonista. Escreve sobre política e cultura. Foi redator-chefe da revista Veja.

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