Allan dos Santos e o intercâmbio das fake news
Depois de fugir do Brasil, com medo das investigações promovidas no âmbito do inquérito das fake news e dos atos antidemocráticos, Allan dos Santos teve a prisão preventiva determinada por Alexandre de Moraes, em 2021. Nos Estados Unidos, o bolsonarista não deixou de disseminar notícias falsas sobre a pandemia, a atacar as instituições e a defender um golpe de estado...
Depois de fugir do Brasil, com medo das investigações promovidas no âmbito do inquérito das fake news e dos atos antidemocráticos, Allan dos Santos teve a prisão preventiva determinada por Alexandre de Moraes, em 2021.
Nos Estados Unidos, o bolsonarista não deixou de disseminar notícias falsas sobre a pandemia, a atacar as instituições e a defender um golpe de estado.
Allan chegou ao território americano em agosto de 2020. Seu visto de turista venceu seis meses depois, em fevereiro. Desde então, ficou em situação ilegal.
Antes de ele ter a prisão decretada, a Polícia Federal cumpriu uma ordem de busca e apreensão na casa do blogueiro no Brasil, seguindo determinação de Moraes. Os agentes encontraram indícios de que a deputada Bia Kicis se reunia com Allan dos Santos para discutir temas como intervenção militar. Ela nega.
Para Moraes, as investigações apontavam que “Allan dos Santos tentou influenciar e provocar um rompimento institucional”.
Encrencado com a Justiça. o blogueiro teve dois canais retirados do ar pelo YouTube, o “Terça Livre” e o “Terça Livre Live”.
À medida que os casos de Covid e as mortes em decorrência da doença atingiam recordes diários sucessivos no Brasil, o blogueiro continuava a propagar campanhas contra o uso de máscaras e que levantavam suspeitas sobre as vacinas.
O comportamento o levou para o centro das investigações da CPI. A comissão, destinada a apurar os supostos crimes cometidos pelo governo federal durante a pandemia, passou a apurar a estrutura de disseminação de fake news alinhada ao governo. Senadores chegaram a cogitar a possibilidade de convocar Allan dos Santos para depor.
Em junho, o vazamento de uma planilha de financiamento do Terça Livre expôs os empresários que fizeram doações ao canal. O material fora apreendido pela PF na operação na casa do blogueiro.
Os investigadores encontraram indícios de que João Bernardo Barbosa teria pago despesas pessoais de Allan.
O empresário é sócio da V2V, empresa que firmou contrato de R$ 360 mil com o governo, para desenvolver a plataforma do programa Pátria Voluntária, de Michelle Bolsonaro.
A V2V é indicada em anotações como um “parceiro-chave”, assim como as empresas Havan e Véli RH. Segundo a PF, Bia Kicis tentou fazer com que João Bernardo Barbosa não fosse à CPMI das fake news.
Em uma das mensagens apreendidas, o blogueiro diz a Eduardo Bolsonaro: “Precisamos da Secom”.
A PF também encontrou anotações sobre “orientações e resoluções” de Olavo de Carvalho. Entre elas, estava escrito: “Perguntei: Professor, qual o limite para o TERÇA LIVRE receber aporte financeiro do Governo? Olavo: NENHUM“.
Em agosto, o TSE determinou a suspensão da monetização de canais bolsonaristas que disseminavam notícias falsas nas plataformas YouTube, Twitter, Facebook, Instagram e Twitch.TV.
Poucos dias depois, o ministro Marcelo Queiroga foi até o estúdio do Terça Livre para conceder uma entrevista. Na ocasião, ele afirmou ser contra o uso de máscara obrigatório.
Durante vários meses, Allan dos Santos apoiou as convocações feitas por Bolsonaro para as manifestações golpistas de 7 de Setembro. Quando chegou o grande dia, o presidente foi à Paulista e à Esplanada dos Ministérios, para reiterar suas ameaças à democracia e disse que não iria mais cumprir decisões judiciais de Moraes.
Diante da reação negativa, Bolsonaro teve que recuar e divulgou uma carta, escrita por Michel Temer, dizendo que suas declarações decorreram “do calor do momento”.
Allan dos Santos lamentou a postura do presidente, falando em “game over”.
Em outubro, a PF concluiu que, em manifestações realizadas em abril, o blogueiro foi um dos responsáveis por estimular diretamente o presidente a dar um golpe. Ele enviou mensagens ao ajudante de ordens de Bolsonaro, defendendo a “necessidade de intervenção militar”.
“As FFAA (Forças Armadas) precisam entrar urgentemente”, disse ele.
No relatório final da CPI da Covid, Renan Calheiros pediu o indiciamento de Allan dos Santos por incitação ao crime. Para o relator, ele foi “figura central na distribuição das fake news contra o combate à pandemia”.
Ainda em outubro, o Twitter suspendeu a conta do blogueiro na rede social, por determinação de Moraes. Dias depois, o ministro determinou que ele fosse preso preventivamente e pediu sua extradição para o Brasil.
Mesmo com a prisão decretada, Allan continuou a provocar Moraes. Em um vídeo publicado nas redes sociais, disse: “Quando vierem me calar, estarei falando”. O blogueiro também comparou o ministro a um estuprador.
Apesar dos ataques, o bolsonarista recorreu ao STF, por meio de habeas corpus, para tentar suspender o decretação de prisão.
Duas delegadas envolvidas no processo de extradição do blogueiro foram remanejadas pela PF. Entre elas, Dominique de Castro Oliveira, que se disse “incrédula” com a decisão.
“Há a forte sensação de revolta e de estar sendo injustiçada.”
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